Vini Jr.: Itamaraty vai cobrar explicações de embaixadora da Espanha; persistência dos crimes espanta, diz secretária-geral


Objetivo é expressar posição de repúdio e cobrança do governo brasileiro em relação ao caso. Ataques racistas ao jogador são contra todos os afrodescendentes e toda a humanidade. Vinicius Junior reclama de racismo por parte da torcida do Valencia durante jogo de domingo (21).
Getty Images
O Itamaraty vai chamar a embaixadora da Espanha no Brasil, Mar Fernández-Palacios, para explicações após o novo caso de racismo sofrido pelo jogador Vinicius Junior, do Real Madrid, durante uma partida da liga espanhola de futebol no domingo (21).
Ao blog, o Itamaraty informou que o objetivo é transmitir a posição de repúdio e cobrança do governo brasileiro em relação ao caso.
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Convocações de embaixadores não são rotineiras e equivalem a uma forma de protesto.
Secretária-geral do Itamaraty, Maria Laura da Rocha afirmou nesta segunda que mais do que a ignorância e a maldade dos torcedores que praticaram, “espanta a persistência dos crimes que são cometidos contra o atleta brasileiro, contra todos os afrodescendentes e, sim, contra toda a humanidade, a cada cântico e a cada gesto racista lançado contra o jogador.”
Ainda no domingo (21), a embaixada espanhola no Brasil afirmou, pelo Twitter, que condenava “com veemência as manifestações e atitudes racistas”, expressou solidariedade ao jogador e disse que os ataques “de nenhuma maneira refletem as posições antirracistas da absoluta maioria da população espanhola.”
Vini Júnior, como é conhecido, tem sido vítima de ataques racistas durante jogos do campeonato espanhol. No domingo, a disputa entre Valencia e Real Madrid pela 35ª rodada do Campeonato Espanhol foi interrompida no segundo tempo após parte da torcida presente no estádio Mestalla chamar o brasileiro de “macaco”. A partida acabou com vitória do Valencia por 1 a 0.
Após o episódio, o jogador afirmou que “não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira” vez que episódios como esse aconteciam e que “O racismo é o normal na La Liga [nome do campeonato espanhol pelo qual o jogo aconteceu]”.
“A competição acha normal, a Federação também e os adversários incentivam. Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi, hoje é dos racistas. Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista. Lamento pelos espanhois que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas. E, infelizmente, por tudo o que acontece a cada semana, não tenho como defender. Eu concordo. Mas eu sou forte e vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui”, completou o jogador.
Lula cobrou ações das autoridades esportivas
Do Japão, ainda na noite de domingo (no horário brasileiro), o presidente Lula (PT) manifestou solidariedade ao jogador, e cobrou ações por parte de autoridades do futebol espanhol.
“É importante que a Fifa e a liga espanhola tomem sérias providências, porque nós não podemos permitir que o fascismo e o racismo tomem conta dos estádios de futebol”, disse Lula.
No dia 10 de maio, Brasil e Espanha assinaram um acordo bilateral para o combate ao racismo e à xenofobia.
A iniciativa prevê medidas para ajudar vítimas a denunciar os crimes, reconhecer que há atualmente uma subnotificação de casos e aprofundar estudos e levantamentos sobre o impacto do racismo estrutural nas duas sociedades.
Vinicius Júnior é expulso após ser vítima de racismo
Real Madrid pede investigação ao MP espanhol
Nesta segunda, o Real Madrid apresentou uma queixa à Procuradoria-Geral da Espanha por delitos de ódio e discriminação contra o jogador brasileiro.
O técnico do Real Madrid, Carlos Ancelotti, já havia saído em defesa do brasileiro. Em entrevista coletiva depois do jogo, Ancelotti se recusou a falar sobre a partida e atacou a La Liga, a liga espanhola dos clubes de futebol da Espanha.
O presidente da La Liga, Javier Tebas, por sua vez, rebateu críticas feitas pelo brasileiro à competição, e afirmou que “nem a Espanha, nem a La Liga são racistas”.
“É muito injusto dizer isso”, declarou Tebas. “Não podemos permitir que se manche a imagem de uma competição que é sobre o símbolo de união de povos, onde mais de 200 jogadores são de origem negra em 42 clubes que recebem em cada rodada o respeito e o carinho da torcida, sendo o racismo um caso extremamente pontual (9 denúncias) que vamos eliminar”.
Já o presidente da Federação Espanhola de Futebol, Luís Rubiales, defendeu Vinícius Jr. e afirmou que há, sim, um “problema com racismo em nosso país”. Ele pediu ainda que a CBF “ignore” as posições do presidente da La Liga, que chamou de “irresponsável”.

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