Por que Fox News pagará R$ 3,9 bi a fabricante de urnas eletrônicas para evitar julgamento


Pouco antes de julgamento começar, a Fox News aceitou um acordo para indenizar a empresa Dominion, que afirmou ter sido caluniada pela rede de TV ao serem publicadas notícias falsas sobre fraudes na votação. Algumas das personalidades mais conhecidas da Fox testemunharam no processo
Getty Images/Via BBC
A Fox News decidiu nesta terça-feira (18) aceitar um acordo para encerrar um processo em que é acusada de ter difamado a empresa de urnas eletrônicas Dominion durante as eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2020.
Em um acordo de última hora antes do julgamento começar, a rede de TV americana concordou em pagar US$ 787,5 milhões (cerca de R$ 3,9 bi) à Dominion — aproximadamente metade do US$ 1,6 bilhão que a empresa de urnas eletrônicas havia pedido inicialmente.
A Dominion argumentou que seus negócios foram prejudicados pela Fox, que publicou falsas alegações de que a eleição havia sido fraudada em desfavor de Donald Trump.
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O acordo evitará que executivos da Fox, como Rupert Murdoch, precisem testemunhar.
Em um comunicado, a Fox disse que o acordo reflete seu “compromisso com os mais altos padrões jornalísticos”.
O presidente da Dominion, John Poulos, disse em entrevista coletiva que o acordo fez a Fox “admitir ter contado mentiras, o que causou enormes danos à minha empresa”.
Justin Nelson, advogado do Dominion, disse a jornalistas que “a verdade importa”.
“Mentiras têm consequências”, acrescentou.
“Mais de dois anos atrás, uma torrente de mentiras varreu a Dominion e os funcionários eleitorais em toda a América para um universo alternativo de teorias da conspiração, causando danos graves à Dominion e ao país.”
Nelson acrescentou que, para que “a democracia perdure”, os americanos devem “compartilhar do compromisso com os fatos”.
A apresentação inicial dos argumentos no processo judicial começaria na tarde dessa terça-feira.
Antes do acordo, os advogados da Fox se opuseram repetidamente aos US$ 1,6 bilhão em danos que a Dominion estava pedindo — e caracterizaram o valor como excessivamente alto.
Além da situação relativa à Dominion, a Fox enfrenta um segundo processo semelhante por difamação contra outra empresa de tecnologia eleitoral, a Smartmatic, que pede US$ 2,7 bilhões (mais de R$ 13 bilhões).
A Dominion também sinalizou a intenção de continuar tomando medidas legais contra outras partes.
O advogado da empresa, Stephen Shackelford, disse a repórteres que “ainda não está feito”.
“Temos algumas outras pessoas que têm alguma responsabilidade vindo em sua direção”, disse ele.
A Dominion já tem processos contra duas redes de notícias conservadoras, a OAN e a Newsmax, e contra aliados de Trump, como Rudy Giuliani, Sidney Powell e Mike Lindell.
Como a Fox sai do caso?
Evidências coletadas durante as investigações sugerem que vários executivos e jornalistas da Fox questionaram, privadamente, as acusações conspiratórias de que a eleição havia sido fraudada — mas, mesmo assim, as colocaram no ar.
O presidente da Fox, Rupert Murdoch, com o filho Lachlan; depois de acordo com a Dominion, Murdoch não precisará mais depor sobre o caso
Getty Images/Via BBC
Em uma série de mensagens de texto, o famoso apresentador Tucker Carlson disse que algumas das acusações eram “absurdas” e “insanas”, enquanto outro apresentador, Sean Hannity, disse em particular que não acreditava nelas “nem por um segundo”.
A Fox disse que essas palavras foram tiradas do contexto.
Antes do julgamento, o juiz Eric Davis já havia indicado que as alegações contra a Dominion eram comprovadamente falsas.
Apesar da enorme quantia desembolsada, especialistas em direito entrevistados pela BBC avaliam que o acordo foi, em geral, um resultado positivo para a Fox.
“Olhando para um julgamento de seis semanas, isso seria cansativo para todos os envolvidos e provavelmente embaraçoso para a Fox”, avalia Roy Gutterman, professor da Universidade de Syracuse e especialista na Primeira Emenda.
“Um veredicto contra a Fox poderia ter sido ainda mais caro e terias sérias implicações nas decisões subsequentes.”
A advogada Michelle Simpson Tuegel, especialista em litígios civis, disse à BBC que o acordo reflete “a enorme ameaça que a Fox viu neste processo”.
“É difícil dizer o quão prejudicial uma decisão contra a Fox teria sido para a empresa além do custo financeiro do veredicto, porque seu público é muito leal”, disse ela.
“Mas o dano à reputação de ter executivos, incluindo o presidente Rupert Murdoch, e anfitriões depondo parece ter levado as partes a uma resolução”, acrescentou Tuegel.

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