Alessandro Moretti foi nomeado para o cargo de diretor-adjunto da agência. Ala no governo e na PF argumenta que Moretti comandava inteligência da PF quando episódios polêmicos envolvendo o bolsonarismo aconteceram. Alessandro Moretti, ex-número 2 de Anderson Torres em secretaria no DF, foi nomeado para cargo na Abin no governo Lula
Luiz Silveira/ Agência CNJ
A nomeação de Alessandro Moretti, ex-número 2 de Anderson Torres, como diretor-adjunto na Abin abriu uma verdadeira guerra nos bastidores do governo. A disputa acontece em diferentes alas do governo, da Polícia Federal e da agência de inteligência. Enquanto uma parte tenta tornar a nomeação dele sem efeito, outra defende a indicação de Moretti ao posto.
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Como a GloboNews revelou há duas semanas, quando Alessandro Moretti foi confirmado no posto pelo Diário Oficial, uma ala do governo e também da PF fez chegar à Casa Civil que a nomeação dele para um cargo sensível de inteligência seria manter o poder com um nome de grupo bolsonarista.
O argumento dessa ala é que Moretti – além de ter sido secretário executivo de Torres na Secretaria de Segurança Pública do DF, no fim do mandato de Bolsonaro – estava no comando da diretoria de inteligência da PF quando episódios polêmicos envolvendo o bolsonarismo aconteceram.
Um grupo no governo e na PF ouvido pelo blog se diz surpreso com a nomeação de Moretti. Eles argumentam que o novo diretor-adjunto da Abin esteve ao lado de Torres em episódios como a prisão de Roberto Jefferson e a decisão de apoio da PF a bloqueios de rodovias pela PRF durante a eleição.
O grupo também lembra que Moretti estava em um cargo de comando durante o caso da bomba no Aeroporto de Brasília, às vésperas da posse de Lula – sem ter antecipado o episódio com informações de inteligência.
Para esse grupo, esses seriam motivos para que Moretti não ocupasse um cargo na Abin – justamente a agência que, para Lula, falhou ao não comunicar previamente o movimento bolsonarista que articulou a tentativa de golpe de 8 de janeiro.
“Lula falou que ia tirar bolsonarista escondido no governo, mas não adianta tirar para trocar seis por meia dúzia”, diz um integrante da PF.
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Cargo na Abin e disputa no governo
Moretti chegou à Abin por um convite de Luiz Fernando Correa – o novo diretor-geral da agência que goza de confiança absoluta do presidente Lula. Correa bancou Moretti, com quem trabalhou em 2009 para implementar um projeto de inteligência. Desde então, o tem em mais alta conta.
A nomeação de Moretti dentro da Abin é vista como uma demonstração de força de Correa e recado de que Lula dá carta branca aos seus indicados políticos para delegar a montagem de equipe dos diferentes órgãos. Se os integrantes da equipe forem bem, é mérito do chefe. Se forem mal, quem será cobrado será o titular do órgão ou do ministério.
O convite para a Abin não estava nos planos de Moretti. Ao final do governo Bolsonaro, ele estava de malas prontas para ser adido em Paris. Mas a indicação não aconteceu e, com a urgência do governo de reformular a Abin, acabou caindo no seu colo a direção-adjunta da agência.
Fontes da Casa Civil ouvidas pelo blog confirmam a guerra nos bastidores e dizem que não teria problema nenhum em revogar e tornar sem efeito a nomeação de Moretti, desde que houvesse alguma prova concreta de que ele não seria confiável.
Nas palavras de um ministro do governo Lula ouvido pelo blog, seria necessária “uma digital” de que ele atuou para favorecer Bolsonaro: “Enquanto não houver, ele é uma escolha de Correa e de confiança dele”, diz.
O que dizem aliados
Moretti, segundo o blog apurou, rejeita ser chamado de bolsonarista. Aliados relatam que não teria um ato bolsonarista do ex-diretor da PF e que ele jamais participou de palanque do presidente Bolsonaro, apesar de inúmeros convites.
Quem defende o currículo de Moretti e sua permanência no governo diz que os ataques a ele já haviam começado antes da nomeação, mas aumentaram após seu nome se tornar oficial, há duas semanas.
Para aliados de Moretti, existe um ataque de integrantes da Abin que gostaria de um nome da carreira, e não um PF na agência.
Aliados de Moretti afirmam que sua única atribuição no caso Roberto Jefferson foi – uma vez acionado pelo diretor-geral à época – se deslocar para o Rio para dar suporte à equipe local. E que, sobre os bloqueios da PRF, a decisão foi de uma reunião de diretores da Polícia Federal.
Sobre a bomba no aeroporto, os aliados de Moretti dizem que a atribuição era de uma portaria conjunta de outros serviços de segurança e que não existe “bola de cristal possível” capaz de prever aquela situação. E que, no momento em que a inteligência soube, estava em ação.
Na Abin, um grupo avalia que o número dois da agência tem pretensões de se cacifar para, no futuro ou numa oportunidade de crise, almejar o cargo de diretor-geral da Polícia Federal.
Quem conhece Moretti diz que ele já teve essa pretensão, em outros momentos e, inclusive, chegou a ser cotado para o cargo – mas que não usará o cargo de trampolim, pois sua área é inteligência.
Moretti também tem boas relações no STJ, pois já foi cedido para trabalhar no órgão.
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