Menos casamentos e mais divórcios: o retrato de uma geração | …

Rodinei Crescêncio

 Maur�cio Munhoz - nova arte - coluna s�bado - janeiro de 2023

Brasileiros se casam menos e se divorciam mais, os dados da pesquisa Estatísticas do Registro Civil 2022, divulgada pelo IBGE, revelam um panorama intrigante sobre as relações conjugais no Brasil: a queda no número de casamentos e o aumento das taxas de divórcio traçam o perfil de uma geração em transformação.

Ao contrário de gerações anteriores, os jovens de hoje não se apressam em oficializar a união, já que a busca por estabilidade profissional, realização pessoal e independência financeira antes do casamento se tornou mais comum. E, ainda, as preocupações com os custos da cerimônia e da vida a dois também contribuem para essa mudança.

Essa queda pode estar relacionada à menor tolerância com relacionamentos infelizes, à maior independência financeira das mulheres e à facilidade de acesso ao divórcio

Desta forma, a idade média dos cônjuges vem aumentando gradativamente, em 2022, 24,1% das mulheres que se casaram tinham 40 anos ou mais, contra 6,3% em 2000. Entre os homens, o aumento foi de 10,2% para 30,4% no mesmo período. Essa mudança reflete a priorização da formação individual e da construção de carreiras antes do compromisso conjugal, traço muito encontrado nas gerações mais jovens.

O número de pessoas que já se divorciaram e estão se casando novamente também cresceu, já que a pesquisa demonstra que, em 2022, 30,4% dos casamentos civis envolviam pelo menos um cônjuge divorciado ou viúvo, contra 12,8% em 2002. Essa tendência indica que o divórcio não é mais visto como um tabu e que as pessoas estão mais abertas a novas chances no amor.

Em 2022, o número de divórcios concedidos no Brasil subiu 8,6% em relação ao ano anterior, a taxa geral de divórcios também aumentou, passando de 2,5 para 2,8 para cada 1.000 pessoas de 20 anos ou mais. Fatores como a maior liberdade feminina, a mudança de expectativas em relação ao casamento e a dificuldade de conciliar carreira e vida familiar podem explicar essa alta. A duração média das uniões também está diminuindo, em 2022, o tempo médio de casamento era de 13,8 anos, contra 16 anos em 2010.

Essa queda pode estar relacionada à menor tolerância com relacionamentos infelizes, à maior independência financeira das mulheres e à facilidade de acesso ao divórcio. Um dado positivo é o aumento da guarda compartilhada dos filhos em casos de divórcio, já que em 2022, 38% dos divórcios com filhos menores de idade incluíam essa modalidade na sentença. Essa mudança demonstra a crescente preocupação sobre a importância da participação de ambos os pais na criação dos filhos, mesmo após o fim do casamento.

A queda no número de casamentos e o aumento das taxas de divórcio no Brasil não representam necessariamente um declínio da instituição familiar, mas sim uma transformação nas relações conjugais, o retrato de novas gerações. Tais gerações atuais buscam um modelo de casamento mais flexível e adaptado às suas necessidades e prioridades. A valorização da individualidade, a busca por realização pessoal e a mudança nos papeis de gênero estão moldando um novo panorama para as relações familiares no país, um novo modo de se relacionar.

Escrito com Sara Nadur Ribeiro

Maurício Munhoz Ferraz é sociólogo e professor. Atua atualmente como assessor do conselheiro Sérgio Ricardo na presidência do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Foi superintendente federal de Agricultura e Pecuária no Estado de Mato Grosso, ocupou o cargo de secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação de Mato Grosso em 2022. Trabalhou também como consultor, diretor de pesquisas da Fecomércio-MT e professor de economia da Unemat. Tem mestrado em sociologia, é vice-presidente da Câmara de Comércio Brasil-Rússia,  membro do projeto governança metropolitana do Instituto de Pesquisa Economia Aplicada do Governo Federal (IPEA), vencedor do Prêmio Celso Furtado de economia e escreve nesta coluna com exclusividade aos sábados. E-mail: mauriciomunhozferraz@yahoo.com.br



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