Juros altos e ingresso menor de recursos externos levaram à 'acentuada' desaceleração da economia em 2022, diz Fazenda

Recursos do exterior se reduziram em 2022 em meio à guerra na Ucrânia e juros fixados pelo Banco Central subiram para combater pressões inflacionárias. A Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda avaliou nesta quinta-feira (2) que a “desaceleração acentuada” do ritmo de crescimento em 2022 repercute, sobretudo, a “reduzida liquidez no ambiente externo” e o “ciclo contracionista da política monetária”, ou seja, o processo de alta dos juros.
No último ano, segundo informações divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 2,9%, contra uma expansão bem maior, de 5%, em 2021.
No ano passado, o fluxo de recursos do exterior se reduziu em em meio à guerra na Ucrânia e juros fixados pelo Banco Central subiram para combater pressões inflacionárias decorrentes do fim da pandemia e do conflito na Europa. A taxa Selic começou 2022 em 9,25% ao ano e terminou o ano em 13,75% ao ano — o maior nível em mais de seis anos.
Essa é uma nova referência da equipe econômica ao processo de alta dos juros, conduzido pelo Banco Central para tentar conter as pressões inflacionárias. O BC autônomo, comandado por Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, já foi alvo de ataques do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nesta quarta-feira (1), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a criticar o patamar da taxa de juros brasileira e afirmou que esse é o “principal problema econômico” do país atualmente. Apesar disso, afirmou também que não está pressionado o Banco Central a reduzir o juro básico da economia.
De acordo com a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o aumento dos juros somado à inadimplência crescente dificultou a tomada de crédito e os investimentos produtivos, levando à retração da atividade industrial e dos investimentos (formação bruta de capital fixo) em 2022.
“Esse cenário foi parcialmente contrabalanceado pelo setor de serviços, estimulado por reajustes nos valores do programa de transferência de renda, liberação do FGTS e pelo crescimento da massa salarial ao longo do ano. O crescimento das exportações, repercutindo principalmente o aumento nos preços das commodities, também colaborou positivamente”, acrescentou.
Perspectivas para 2023
Olhando para frente, o Ministério da Fazenda avaliou, porém, que a expectativa é de recuperação da atividade na margem (nos meses mais recentes).
Citou a estimativa de crescimento da produção de grãos neste ano, a dinâmica positiva do mercado de trabalho, a valorização do salário mínimo (cujo aumento para R$ 1.320 em maio já foi confirmada) e o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda.
Por outro lado, citou novamente, como “vetor negativo” da atividade, a “política monetária campo significativamente contracionista”, ou seja, o processo de elevação da taxa básica de juros pelo Banco Central.
“Como consequência das elevadas taxas de de juros, observa-se trajetória ascendente para os spreads e para o custo de crédito [juros bancários], além de desaceleração acentuada nas concessões de crédito livre”, avaliou.
A Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda citou, ainda, a queda na confiança na indústria em fevereiro, refletindo tanto a situação atual como as expectativas, assim como o recuo no nível de uso do parque industrial.
“O setor externo pode ser outro vetor de desaceleração, a depender do ritmo de arrefecimento da atividade global em função do ciclo de aperto monetário nas economias centrais, com destaque para os EUA e Europa”, concluiu.

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