Henrique Capriles, opositor do regime chavista na Venezuela, critica falas de Lula em defesa de Maduro


Segundo ele, a Venezuela não tem um simples problema de propaganda negativa, mas, sim, problemas reais. “Comentários do presidente Lula não foram adequados’, diz líder da oposição na Venezuela
Dois dias depois das declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de apoio ao líder venezuelano Nicolás Maduro, um dos adversários históricos do chavismo na Venezuela, Henrique Capriles fez críticas ao conteúdo das falas de Lula.
Capriles foi duas vezes candidato à presidência da Venezuela. Em 2017, ele foi inabilitado para exercer cargos públicos durante 15 anos por “irregularidades administrativas” quando era governador do estado de Miranda, uma acusação que ele nega.
“Os comentários do presidente Lula não foram adequados, foi uma declaração infeliz”, afirmou Capriles em entrevista à GloboNews.
Imagem de 2017 de Henrique Capriles
Reuters/Carlos Garcia Rawlins
Segundo ele, a Venezuela não tem um simples problema de propaganda negativa, mas, sim, problemas reais. “É preciso perguntar aos venezuelanos que estão no Brasil, que estão em Argentina, Colômbia, Equador, e Peru por que tiveram que emigrar (da Venezuela) de forma forçada, por que estão nesses países”, disse ele.
O oposicionista venezuelano lembrou que a origem política de Lula é a “luta dos trabalhadores”, e então pediu para que perguntem a Lula o que ele pensa de um aposentado ganhar menos de US$ 5 por mês. “Esse é o salário mínimo e a aposentadoria na Venezuela, e isso não é uma propaganda, não é uma narrativa, não é uma retórica, mas uma realidade”, disse Capriles.
O político afirmou então que ainda que haja uma intenção de se aproximar de Maduro, é preciso entender que os grandes prejudicados no país são os mais pobres.
A defesa de Maduro por Lula
O presidente Lula recebeu 11 líderes sul-americanos em Brasília para uma reunião.
Na segunda-feira, antes da cúpula, Lula teve uma reunião bilateral com Maduro, que não pisava no Brasil há quase oito anos, e depois fez uma defesa do regime venezuelano, na qual relativizou a deterioração da democracia ocorrida durante os governos Maduro e Hugo Chávez, ao dizer que isso se trataria de uma “construção narrativa”.
Para muitos especialistas e organizações dedicadas ao estudo e à promoção da democracia, a Venezuela é atualmente uma autocracia eleitoral.
Lula afirmou o seguinte: “Você sabe a narrativa que se construiu contra a Venezuela. Da antidemocracia, do autoritarismo. Então eu acho que cabe à Venezuela mostrar a sua narrativa para que possa efetivamente fazer pessoas mudar de opinião. É preciso que você construa a sua narrativa. Eu acho que, por tudo que nós conversamos, a sua narrativa vai ser infinitamente melhor do que a narrativa que eles têm contado contra você”.
Outras críticas a Lula
Outros presidentes que estavam em Brasília criticaram a defesa do regime chavista feita por Lula. Um deles foi o chileno Gabriel Boric, um líder de esquerda.
“Estamos felizes que a Venezuela retornou aos órgãos multilaterais, porque acreditamos que nesses espaços é onde os problemas são resolvidos. E não com declarações em que só nos atacamos uns aos outros. Isso, no entanto, não pode significar varrer para debaixo do tapete ou fazer vista grossa para questões que, para nós, são questões de princípios importantes”, afirmou Boric.
Luis Lacalle Pau, do Uruguai, não mencionou o nome de Lula, mas ter ficado “surpreso quando se falou que o que acontece na Venezuela é uma narrativa”.
O uruguaio destacou que há diversas iniciativas de mediação “para que a democracia seja plena na Venezuela”, e que o pior a fazer seria ignorar a violação de direitos humanos no país.
“Todos já sabem o que pensamos a respeito da Venezuela e do governo da Venezuela. Agora, se há tantos grupos no mundo que estão tentando mediar a volta da democracia plena na Venezuela, para que se respeitem os direitos humanos, para que não haja presos políticos, o pior que podemos fazer é tapar o sol com a peneira. Vamos dar o nome que tem e vamos ajudar”, disse Lacalle Pau, do tradicional Partido Nacional, de centro-direita.

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