Amamentação envolve resiliência, persistência e orientação, diz obstetra | …

Rodinei Crescêncio/Rdnews

m�dica ginecologista annie caroline - entrevista da semana

Cercado de mitos e tabus, o aleitamento materno ainda é um assunto pouco discutido na sociedade. Diante da romantizarão sobre o tema, muitas mulheres tendem a questionar sua experiência pessoal e a construção da intimidade entre ela e o filho recém-nascido. Buscando desmistificar algumas informações sobre o cenário, a ginecologista e obstetra Annie Magalhães explica a relevância da conscientização da sociedade sobre vivências reais e múltiplas da maternidade, como também da importância do aleitamento materno.

Confira, abaixo, principais trechos
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Qual a importância do Agosto Dourado no processo de conscientização sobre a amamentação e a doação de leite materno?

Agosto Dourado faz referência a cor dourada porque o leite materno é considerado padrão ouro de alimentação principalmente nos primeiros 6 meses de vida de um bebê. Então, agosto foi escolhido como o mês para a gente conscientizar, realizar formações a respeito da importância do aleitamento materno tanto para a mãe quanto para o bebê. Muitas mulheres não sabem os benefícios que têm o aleitamento materno para elas, imaginam que seja só para o bebê. Mas, a amamentação é uma proteção tanto para o bebê quanto para a mãe.

As mães que estão grávidas ou querem engravidar, o que podem fazer para se preparar para esse momento de amamentação?

As orientações começam durante o pré-natal de como vai ser esse processo de amamentação que, muitas vezes, é muito romantizado, que vai ser tudo fácil, tudo muito lindo. A imagem da mulher amamentando e as mulheres acham que vai ser igual e nem sempre é. Às vezes a mulher tem o mamilo invertido, pode ter um pouco mais de dificuldade de pega e, muitas vezes, o bebê fica na UTI neonatal, então estabelecer esse processo vai ser um pouco mais demorado. Muitas mulheres sentem dor para amamentar e isso é muito comum. Além de ser exaustivo também. Para estabelecer o

Processo de amamentação, a gente resume em resiliência e persistência e muita orientação. 


Annie Magalhães

Como tudo, a gente vai ver muitas informações que não são verdadeiras como: “ah, o seu leite é fraco, por isso o bebe só chora”. A mulher tem que entender desde o pré-natal que o leite tem o colostro que é aquele leite mais clarinho e depois esse leite vai ficando mais escuro, mas esbranquiçado, vai mudando a característica para mais proteína, mais gordura, mais nutriente, mas cada fase desse leite não quer dizer que ele seja fraco, mas é para ele nutrir e passar toda a proteção de bebê, que é necessária. 

Existem muitas soluções caseiras que ajudam a facilitar a amamentação, como tomar sol nas mamas, passar bucha vegetal, isso é mito ou verdade? 

Hoje já não existe mais isso de preparo na mama durante o pré-natal, mas existe o cuidado com a mama no pós-nascimento do bebê. Muitas coisas que ajudam essa mulher a estabelecer a amamentação, a pega correta, como colocar o bebê no peito. Às vezes uma posição da cabeça já faz com que se alinhe a amamentação. Hoje a gente já tem isso bem claro de não usar isso de passar bucha vegetal, mas tomar sol nas mamas é algo que ajuda muito, principalmente se já tem um corte ou fissura. Hoje nós temos técnicas como o laser que ajudam na cicatrização, mas muitas pessoas não têm acesso ao lazer, então expor a mama ao sol por um período ajuda sim na cicatrização.

Rodinei Crescêncio/Rdnews

m�dica ginecologista annie caroline - entrevista da semana

Acredita que existe uma romantização da amamentação que acaba tendo um impacto negativo no momento em que a mãe começa a amamentar de forma real?

Sim, assim como o parto é romantizado, a amamentação também é. Com imagens de que amamentar é sempre muito fácil. Para algumas mulheres o processo não é tão fácil assim. A gente percebe quando elas voltam no pós-parto, é até frustrante às vezes você ver o quanto a mulher tá cansada, exaurida porque não dorme. Às vezes está com dor e, muitas vezes, se sentem mal, porque tem o pré-julgamento das outras pessoas. Existe o pré-julgamento das pessoas mais velhas que dizem: ‘você não está conseguindo amamentar porque você é fraca’. Ou seja, não dão um apoio para essa mulher de peraí, você tem um problema. A gente vê que é comum as mulheres desistirem da amamentação por se sentirem culpadas. 

Quais os benefícios da amamentação até 6 meses, preconizado pelas organizações de saúde, e como ela se diferencia da fórmula? 

Essa é uma grande dificuldade quando a mãe vai fazer essa transição. Ela tem de fato os 4 meses de licença, algumas empresas aderiram ao programa do Governo Federal de empresa cidadã que estende a licença para 6 meses e aí a gente ver que isso reforça muito a questão da amamentação. Mas, a nossa orientação para as mães sempre vai ser: sempre que possível ali já nos 4 meses pós-parto, começar a fazer a ordenha e guardar esses leites, já se informar como armazenar, a duração de armazenamento. Ver qual o recipiente adequado para ela congelar e outra pessoa que for cuidar do bebê fazer o descongelamento e o ofertar o próprio leite materno para que a gente não faça esse desmame. A gente sabe que quando a mulher volta a trabalhar, a frequência não vai ser a mesma de amamentação, então pode diminuir um pouquinho a produção de leite, mas sempre que possível guardar e oferecer o próprio leite materno, não substituir pela fórmula, exceto quando tem situações que a mulher não consegue produção adequada ou por outro motivo. 

A fórmula é um aliado quando necessário. Existem situações em que nós teremos que lançar mão da fórmula, mas ela não é um substituto ideal, o preferencial sempre é o leite materno. Eu sempre digo: é de graça, quentinho, não precisa esterilizar, é um alimento completo que esse bebê precisa, principalmente nesses primeiros meses de vida. A gente percebe que a maioria das mães que ultrapassam essas barreiras, amamentam mais tempo porque o vínculo estabelecido é muito forte. Existem casos que a mãe fala : ‘doutora, eu não quero parar’ porque é um momento dela com o bebê. 

Quais problemas mais comuns enfrentados pelas mães e o que pode ser feito para amenizar efeitos do processo como rachadura do bico do seio inchaço, seio empedrado? 

A mama às vezes fica empedrada, ingurgitada que a gente chama, porque essa mulher não faz o esvaziamento completo da mama. O correto é que o bebê mame uma mama até esvaziar e depois mama no outro, mas isso nem sempre acontece, principalmente à noite, quando a mulher já está exausta. Então, sempre que o bebê não suga é importante que a mãe faça a ordenha e a retirada total desse leite. E esse leite fica ali represado, e leite é um meio de cultura, tem açúcar natural, mas se eu tenho ali um represamento deste leite, e se eu fizer qualquer machucadinho no bico do peito, já é uma porta de entrada para as bactérias que ficam na nossa pele e aí tem o risco não só de ingurgitar, ficar vermelha, ter dor, como de mastitite, que é uma infecção. Muitas mulheres acabam interrompendo o processo da lactação por causa das complicações. A nossa mensagem é: todas às vezes que tem uma mãe com a mama muito vermelha, muito endurecida e aspecto empedrado, vá a um lactário, que lá tem técnicas e enfermeiras que vão ensinar a fazer uma série de manobras que ajudam as mamães. 

Rodinei Crescêncio/Rdnews

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É mito ou verdade que as mulheres que usam prótese ou fazem redução de mama não conseguem amamentar por não produzirem leite?

As mamães que fizeram redução ou colocaram próteses no processo podem ter retirado os tecidos de glândulas que ajudam tanto a produzir como transferir o leite. Então, a depender de como essas cirurgias foram realizadas podem dificultar um pouco, mas a gente tem que fazer uma orientação que seja correta e isso não quer dizer que a mãe não vai amamentar. Isso não inviabiliza de forma alguma. 

No popular, se fala muito no leite fraco, o que leva muitas mães a desistirem de amamentar. Como desmistificar isso?

A partir do momento que eu faço um esforço negativo, eu já desestímulo essa mulher. Isso é um mito, realmente, não existe leite fraco. Quem sabe essa mulher não está conseguindo amamentar porque está sentido dor, alguma fissura e na hora de amamentar dói. Às vezes ela não consegue esvaziar por completo e às vezes o bebê não vai ficar satisfeito, não porque o leite é fraco, mas porque ele não está mamando o suficiente. 

E para as mães que gostariam de amamentar e por não conseguirem optam pela alimentação mista, quais as orientações?

A gente precisa cuidar da mulher e mostrar que a amamentação é boa para ela e é a construção de vínculo com o bebê


Annie Magalhães

Nós não indicamos a amamentação cruzada porque assim como é uma fonte de proteção do bebê, que a gente tem pelo leite materno a passagem de anticorpos, eu são as células de defesa, que vão fortalecer esse bebê, caso essa mulher tenha alguma doença também será transmitida. Por exemplo, HVI, as mulhres que tem HVI é contraindicado a amamentação, e às vezes eu estou fazendo a amamentação cruzada e não sei essa outra mulher que se dispôs a amamentar, apesar de ser muito nobre a atitude, tem alguma doença ou faz uso de medicações. Tem medicações que, assim como passa pela placenta e atinge o bebê, quando a gente amamenta passa pelo leite materno. Então é contraindicado, não deve ser realizado. As mães com HIV, é contraindicado a amamentação. Então, elas têm direito às fórmulas, elas ganham as fórmulhas por meio do aúxilio do Governo, que ajudam a nutrir esse bebê e não ter esse problema de amamentação cruzada.  

Existem restrições para amamentação durante uma gravidez?

A amamentação exclusiva diminui sim as chances de uma nova gravidez, mas não é uma condição 100%. Às vezes a mamãe tá com bebê de colo de 6 meses e descobre que está grávida e chega angustiada perguntando se terá que parar de amamentar. Às vezes o leite muda de característica por causa dos hormônios da gravidez, mas a mãe pode sim continuar amamentando até onde ela achar prudente. A mãe tem um bebê crescendo que exige uma demanda nutricional muito grande. O que a gente vê é que essa mamãe que está amamentando e está grávida pode ter anemia, déficit de vitaminas. Mas, se tá tudo suplementado e ela tá bem, pode continuar. Só deixando claro que, depois que nascer, ela não pode amamentar os dois ao mesmo tempo porque são dois bebês. Um que já come comida e outro que acabou de nascer que não tem células de defesa e não é vacinado. Então não pode compartilhar a mesma mama por que pode ter processos infecciosos. Então, pode continuar, mas tem que ter o momento de interromper para não ter essa mama compartilhada.

Qual a importância da agilidade do primeiro contato entre o bebê e a mãe nesse processo?

Faz diferença, por isso que hoje é preconizado o contato pele a pele imediato e a amamentação na primeira hora. Em geral, em procedimentos de emergência, a gente não consegue estabelecer essa alimentação imediata mas, em geral, nos partos normais a gente já consegue estabelecer essa alimentação na primeira hora de vida.

Qual a importância do olhar mais sensível e apoio emocional para as mulheres neste momento?

Ter uma rede de apoio e suporte é essencial. Eu acho que as mulheres têm algo de multitarefa e às vezes, quando vem a maternidade, é muito difícil admitir que a gente precisa de ajuda, mas isso não quer dizer que seja uma falha. Na amamentação, entrar para o banheiro e lavar a cabeça é um luxo por isso que tem sim que ter apoio. Às vezes a mulher precisa de alguém que cuide do bebê para ela poder dormir. A gente precisa cuidar da mulher e mostrar que a amamentação é boa para ela e é a construção de vínculo com o bebê. Inclusive, entre as mulheres que têm rede de apoio as chances de amamentar por um tempo maior são mais recorrentes do que as que não têm.



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