Alvin Bragg, o promotor que Trump tem como arqui-inimigo


Especializado em crimes do colarinho branco, ele resiste ao desgaste político e pode tornar-se o primeiro procurador a indiciar um ex-presidente. O promotor norte-americano Alvin Bragg, responsável pela investigação sobre suposto suborno de Donald Trump a uma ex-atriz pornô, em Nova York em março de 2023.
Amanda Perobelli/ Reuters
No linguajar ferino e difamatório de Donald Trump, o promotor distrital de Manhattan é frequentemente referido como racista, tirano, desonesto e outros adjetivos desabonadores.
Existe uma razão para isso: aos 49 anos e há um ano no cargo, Alvin Bragg pode tornar-se em breve o primeiro promotor a indiciar um ex-presidente americano pelo suposto caso de suborno à ex-atriz pornô Stormy Daniels.
Bragg virou alvo de Trump, que reivindica o papel de vítima em mais um ato de seu manual de campanha. O ex-presidente pratica o habitual bullying nas redes sociais, descrevendo o promotor democrata como ativista progressista e vinculado ao filantropo George Soros. Sob pressão dos republicanos, Bragg vem se esquivando dos holofotes a que foi exposto, assim como das armadilhas engatilhadas para jogar o indiciamento na esfera política.
No fim de semana, num revival do 6 de janeiro de 2021, o ex-presidente se antecipou à decisão judicial e anunciou que seria preso na terça-feira (22), conclamando seus seguidores a protestarem em Nova York.
Nascido e criado no Harlem, primeiro promotor negro do distrito e experiente nos crimes de colarinho branco, o veterano Bragg driblou a manobra: solicitou reforço policial e barreiras em torno do tribunal e manteve sob sigilo a agenda de audiências.
O promotor Alvin Bragg deixa audiência em caso que condenou a empresa de Donald Trump por fraude fiscal, em Nova York, em 6 de dezembro de 2022.
Julia Nikhinson/ AP
Um grande júri analisa o papel de Trump no pagamento de US$ 130 mil à atriz Stormy Daniels, durante a campanha presidencial de 2016, feito por meio do advogado Michael Cohen, em troca de seu silêncio sobre um relacionamento amoroso. A forma como teria sido feito o reembolso de Trump a Cohen vem sendo questionada como irregular.
O processo foi iniciado há cinco anos, quando o ex-presidente ainda ocupava o Salão Oval, e herdado por Bragg do procurador anterior, Cyrus Vance Jr., que se aposentou após 12 anos no cargo. No início de seu mandato, Bragg foi criticado por dois procuradores de mostrar-se relutante em relação às acusações que pairavam contra o ex-presidente.
Agora, ele se equilibra entre o mantra “ninguém está acima da lei” e o desgaste político de acusar Trump e ainda ser lançado à jaula da extrema direita. Ele sinalizou ao departamento de 500 advogados que não tolerará intimidações.
Se Trump for indiciado, Bragg entrará em ação para conduzir as acusações e a forma como ele se apresentará à Justiça – algemado ou não – num caso que, por si só, se destaca pelo ineditismo e pelos desdobramentos políticos.
Caberá a ele, por exemplo, pedir a sua prisão, considerada pouco provável até agora. Se for acusado, o ex-presidente poderá prosseguir na disputa eleitoral para voltar a ocupar a Casa Branca. As imagens produzidas pelo indiciamento, certamente terão impacto na campanha e Trump saberá tirar proveito do papel de mártir.

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