Conversas interceptadas e transcritas em relatório pela Polícia Federal, que culminaram na Operação Hermes II, apontam que “funcionários” do grupo criminoso contrabandeavam mercúrio sem “nenhum tipo de cuidado”. Em áudio captado pelos investigadores, Arnoldo Veggi, citado como um dos líderes do esquema de compra irregular de mercúrio, revelou a um sócio que um dos homens que trabalhavam para a organização transportou a matéria-prima no “bolso” e no “saco”, se referindo aos testículos do homem.
Arnoldo fez a revelação para Willian Leite Rondon em uma conversa no WhatsApp. O empresário salvou o contato do sócio como Will. Ambos eram muito próximos tratavam frequentemente de assuntos pessoais e profissionais.
Montagem/Rdnews
No decorrer das investigações, os agentes descobriram que a participação de Willian nas questões relativas ao comércio de mercúrio do Grupo Veggi ficou mais intensa, de modo que ele foi adquirindo uma importância maior no contexto da organização criminosa.
No dia 20 de outubro, de 2022, Arnoldo conversa com Willian e explica como faz o procedimento irregular de câmbio para disponibilizar capital na Bolivia.
Veja o video a seguir:
Os investigadores apontaram que “o vídeo mostra, inclusive, que o transporte clandestino de mercúrio é feito de forma rudimentar, sem nenhum tipo de cuidado, expondo a risco todos ao redor”.
No mesmo dia, Arnoldo envia algumas fotos e explica para Will que estava fazendo algumas tentativas de enviar de forma clandestina o mercúrio para introduzir em território nacional.
Os investigadores acreditam que Arnoldo estava no México e tentava enviar mercúrio misturado com outras substâncias pelo correio, de forma rudimentar, sem nenhum cuidado com o produto transportado. Foram diversas tentativas e Willian acompanhou todo o procedimento. Em algumas oportunidades, o mercúrio vazava e o risco de contaminação aumentava.
As diversas tentativas de inserir o mercúrio irregular em território nacional eram acompanhadas por Willian, que em algumas oportunidades revelava ter ciência da periculosidade da manipulação do material.
Manuseio
Especialistas apontam que o mercúrio deve ser transportado geralmente em estado liquido e transportados em locais frios, secos, bem ventilados, protegidos de radiação solar e de fontes de calor e ignição.
Além disso, o material deve estar fora do contato de ácido nítrico concentrado, acetileno, amoníaco e claro. Deve ser acondicionado em recipientes resistentes à corrosão e fechados hermeticamente.
Riscos
As intoxicações por mercúrio apresentam uma graduação de efeitos proporcionais a sua ingestão e/ou acumulação.
As intoxicações mesmo leves por mercúrio caracterizam-se por causar anemia, anorexia, dermatite, fadiga, dores de cabeça, hipertensão, torpor, irritabilidade, tremores, fraqueza, problemas de audição e visão.
Os problemas mais severos podem levar a inúmeros problemas neurológicos graves, inclusive paralisia cerebrais.
Operação Hermes (Hg) II
A segunda fase da Operação Hermes foi deflagrada pela PF no dia 8 de novembro, após representação feita pela PF à juíza Raquel Coelho Dal Rio Silveira, da Primeira Vara Federal de Campinas. Nessa fase, a PF apura se as empresas investigadas estariam envolvidadas no esquema de contrabando de mercúrio para garimpo de ouro e tem o objetivo de apurar e reprimir crimes contra o meio ambiente, especialmente por meio do comércio e uso ilegal de mercúrio, organização e associação criminosa, receptação, contrabando, falsidade documental e lavagem de dinheiro.
Conforme a PF, a organização criminosa teria dado um prejuízo aos cofres públicos de R$ 5 bilhões. Para tentar amenizar o tamanho do rombo, a Justiça de Campinas (SP) determinou o sequestrou de aproximadamente R$ 3 bilhões. Ao todo, 29 mandados foram cumpridos em Mato Grosso.