Reino Unido vai entregar aos ucranianos mísseis de cruzeiro Storm Shadow, com alcance superior a 250 quilômetros, mais do que qualquer outro armamento fornecido a Kiev até o momento. Mísseis hipersônicos russos KH-47, abatidos pela defesa antiaérea ucraniana, são analisados em Kiev. (12/05/2023)
REUTERS – VALENTYN OGIRENKO
O governo russo classificou como uma decisão “extremamente hostil” a entrega de mísseis de longa distância pelo Reino Unido para a Ucrânia, anunciada na quinta-feira (11). Ao comentar o assunto nesta sexta (12), um comunicado do Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou que Londres busca “uma agravação séria” do conflito.
A medida “visa inundar ainda mais a Ucrânia de armas”, complementa o texto. “A Rússia se reserva o direito de tomar todas as medidas necessárias para neutralizar as ameaças que podem resultar da utilização de mísseis de cruzeiro pela Ucrânia.”
O ministro britânico da Defesa, Ben Wallace, disse que o Reino Unido vai entregar aos ucranianos mísseis de cruzeiro Storm Shadow, com alcance superior a 250 quilômetros, mais do que qualquer outro armamento fornecido a Kiev até o momento pelos países ocidentais.
“A doação destes sistemas de armas oferece à Ucrânia a melhor chance de defesa contra a agressão contínua da Rússia, em particular dos ataques deliberados contra a infraestrutura civil ucraniana, que são contrários ao direito internacional”, justificou o ministro britânico, no Parlamento.
O míssil Storm Shadow foi desenvolvido em conjunto por Reino Unido e França e teria a capacidade de atingir áreas no leste da Ucrânia, controladas pelas tropas russas. “A Ucrânia tem o direito de defesa. O uso do Storm Shadow permitirá à Ucrânia provocar o recuo das forças russas estabelecidas em território soberano ucraniano”, destacou Wallace.
Especulações sobre ofensiva ucraniana
Nesta sexta-feira, em meio a especulações de que uma contraofensiva ucraniana teria começado perto de Bakhmut, no leste do país, Kiev afirmou ter retomado alguns trechos de território, enquanto Moscou disse que repeliu 26 ataques ao longo de 95 quilômetros da frente oriental. Os anúncios de grandes operações marcam uma intensificação dos combates, após meses de uma relativa estabilidade.
Ucrânia afirmou que suas tropas avançaram dois quilômetros nas proximidades de Bakhmut. As forças russas ocupam cerca de 80% da cidade, praticamente destruída pela batalha, a mais longa e sangrenta desde o início da invasão russa à Ucrânia, em fevereiro de 2022.
A Rússia nega que a Ucrânia tenha feito qualquer progresso, dizendo que expulsou as forças de Kiev perto de Soledar, cerca de 15 quilômetros ao nordeste de Bakhmut. Na quinta-feira, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, havia dito que seu Exército precisaria de mais tempo para lançar uma contraofensiva em grande escala. Mas vários correspondentes de guerra russos garantiram que a esperada contraofensiva de Kiev já começou.
O chefe da milícia russa Wagner, que lidera o ataque a Bakhmut, acusou o Exército regular de “fugir” dos combates. “As unidades do Ministério da Defesa simplesmente fugiram dos flancos” em Bakhmut, disse Yevgeny Prigozhin em um vídeo. As defesas “colapsam”, e as tentativas de “amenizar a situação” levarão a uma tragédia global para a Rússia, acrescentou.
Prigozhin, cuja rivalidade com o Exército russo aumentou nos últimos dias, reconheceu os sucessos ucranianos e desafiou o ministro russo da Defesa, Sergei Shoigu, a visitar Bakhmut. Ele também afirmou que “o plano do Exército ucraniano está em andamento”.
China tenta mediar negociação
Na frente diplomática, a China anunciou o envio de um emissário especial à Ucrânia, Polônia, França, Alemanha e Rússia para “se comunicar com todas as partes sobre a solução política da crise ucraniana”. Pequim, que nunca condenou a invasão russa da Ucrânia, esboça há semanas um esforço de mediação no conflito.
A China e Europa devem se unir para “rejeitar a mentalidade da Guerra Fria”, afirmou nesta sexta-feira (12) o chanceler chinês, Qin Gang, em paralelo a uma reunião ministerial da União Europeia (UE) destinada a “reajustar” a posição do bloco em relação a Pequim.
“Atualmente, alguns estão falando sobre a democracia contra a autocracia e até falam de uma nova Guerra Fria. Se tivermos uma nova Guerra Fria, o resultado será ainda mais desastroso”, declarou Qin Gang à imprensa durante uma visita à Noruega.
O ministro das Relações Exteriores enfatizou que a Europa deve estar ao lado da China para “rejeitar a mentalidade da Guerra Fria e liderar o fortalecimento da coordenação e do intercâmbio entre as grandes potências”.
Volodymyr Zelensky, por sua vez, viajará a Roma no sábado (13), onde se encontrará com líderes políticos e possivelmente com o papa Francisco. Será a primeira visita do presidente ucraniano à Itália desde a invasão russa.
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