Reação de Maduro a críticas de Lula não é própria de uma democracia, diz Edmundo González, candidato da oposição

Em entrevista exclusiva ao blog, opositor de Maduro repercutiu troca de farpas entre Lula e presidente venezuelano, disse que terá vitória ‘esmagadora’ e que quer reduzir tempo de transição de governo. Reação de Maduro a críticas de Lula não é própria de uma democracia, diz Edmundo González
O principal opositor de Nicolás Maduro nas eleições venezuelanas, Edmundo González Urrutia, disse nesta quarta-feira (24) em entrevista exclusiva ao blog que o governo venezuelano “tem a pele sensível” e não reage de maneira democrática quando é criticado.
ENTENDA O CONTEXTO: Esta semana, Lula e Maduro trocaram farpas. Depois de Lula se dizer “assustado” com a fala de Maduro sobre um possível banho de sangue em caso de derrota nas urnas, Maduro, sem citar nomes, disse que quem se assustou deveria tomar um chá de camomila.
Em entrevistas a agências internacionais, Lula pediu que o resultado das eleições venezuelanas seja respeitado. Nesta quarta (23), Maduro reagiu e mentiu ao dizer que, no Brasil, o processo eleitoral não é auditado.
“Lula tem sido um aliado do governo por muito tempo, o governo sabe disso e o tratou como um aliado quase incondicional. Agora, este é um governo que tem ‘a pele’ muito sensível e, quando fazem alguma crítica, reage com circunstâncias como estas. Quando diz algo que não gostam, [aí] já não é mais o aliado de sempre. Por isso, tem essas reações que não são próprias de uma sociedade democrática”.
As eleições venezuelanas ocorrerão no próximo domingo (28), e o vencedor assumirá o governo apenas em 10 de janeiro. Questionado sobre os mais de cinco meses de uma eventual transição, o candidato disse que espera que a troca de governo ocorra em um tempo mais curto.
“Nós acreditamos que, diante de uma situação eleitoral que se possa apresentar no domingo, com uma vitória esmagadora da nossa candidatura, novas situações políticas se abrirão. As realidades políticas do governo se verão obrigadas a mudar de atitude e iniciar um processo de conversações que podem até apontar para uma redução desse intervalo”, disse o candidato. Ele, no entanto, preferiu não definir de quanto tempo gostaria que fosse essa redução.
E, apesar da declaração de que pode ocorrer “um banho de sangue” caso Maduro não vença as eleições, Urrutia disse que acredita em um desfecho pacífico.
“Confiamos que possa ser feita uma transição com normalidade, sem violência, como costuma acontecer em situações como esta em qualquer sociedade democrática”.
González também comentou outra polêmica do mandatário venezuelano. No fim de maio, Maduro desconvidou observadores internacionais europeus para participar das eleições.
“É um sinal de desespero e de nervosismo que há no governo diante da real possibilidade de perderem as eleições”, disse Edmundo González.
‘Economia no chão’
EXCLUSIVO: Edmundo González fala sobre disputa contra Maduro nas eleições da Venezuela
Sobre os principais desafios econômicos em um eventual governo, González destacou a valorização da moeda nacional, o bolívar. Nos últimos anos, houve um movimento de dolarização muito forte na economia venezuelana.
“Temos uma economia que está no chão. Precisamos recuperar o poder aquisitivo da moeda e alcançar uma taxa de câmbio que esteja em sintonia com a nova realidade econômica do país. Enfim, há muitas coisas que precisam ser feitas nesse sentido”.
Retorno de compatriotas
Nos últimos anos, milhões de venezuelanos deixaram o país para fugir do desemprego, da escassez de alimentos e da instabilidade política na Venezuela.
“Nós vamos oferecer um governo que vai facilitar o retorno de todos aqueles venezuelanos que desejam se reencontrar com o país, para que o país possa se beneficiar das experiências que adquiriram no exterior e que possamos aproveitar essas experiências no processo de recuperação econômica”.
Criticado por Lula, depois de falar em banho de sangue, Maduro eleva o tom contra o Brasil
Situação de Essequibo
González disse que, se eleito, vai apelar para o Acordo de Genebra de 1966 para resolver o impasse sobre o território de Essequibo, na Guiana.
“Essa reivindicação é histórica e nós temos um plano para resolvê-la no âmbito do Acordo de Genebra de 1966. Esse é o caminho que foi autorizado historicamente, e nós apelaremos a esses mecanismos se for necessário.”
Em abril, Maduro promulgou uma lei que criou uma província da Venezuela no território do país vizinho. A Guiana disse que não permitirá a anexação de Essequibo.
O território é disputado pelos dois países há mais de 100 anos. A área representa 70% do atual território da Guiana, onde moram 125 mil pessoas. Na Venezuela, a área é chamada de Guiana Essequiba. É um local de mata densa e, em 2015, foi descoberto petróleo na região.
Diplomata de carreira teve apenas três meses de campanha
Edmundo González foi escolhido pela oposição venezuelana para enfrentar Maduro nas urnas após a principal candidata, Maria Corina Machado, e Corina Yoris, terem sido impedidas de concorrer.
González foi anunciado pela Plataforma Democrática Unitária (PUD), a coalizão de oposição, no final de abril.
Diplomata de carreira, Urrutia tem 74 anos e serviu como embaixador na Argélia entre 1991 e 1993. Também foi embaixador na Argentina nos primeiros anos do governo de Hugo Chávez (1999-2013).
Considerado um candidato discreto, um dos principais desafios de González é fazer seu nome ser reconhecido entre os eleitores em um curto prazo, apontam analistas políticos.
O ex-diplomata Edmundo González também atuou na década de 1990 nos bastidores do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Mais recentemente, foi conselheiro de relações internacionais da coligação da oposição.
O político publicou diversos livros e, como membro da oposição, foi representante internacional da Mesa Redonda da Unidade Democrática entre 2013 e 2015.
González foi elogiado pelo líder da oposição venezuelana, José Guerra, por seu amplo conhecimento de questões internacionais, econômicas e políticas. Além de espanhol, o ex-diplomata fala francês e inglês.
Lideranças da oposição acusam o governo Maduro de impor barreiras a candidaturas oposicionistas desde o início do ano — o governo nega as acusações.

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