Quando bati o olho, já sabia que ela era a nossa filha, relata mãe por adoção | …

Rodinei Crescêncio/Rdnews

Luc�lia Bellido e Lorena Bellido

Amor, dedicação e coragem. Essas são algumas das principais características das mulheres que optaram pela maternidade, seja ela biológica ou através da adoção. No entanto, o caminho para a adoção nem sempre é fácil, como é o caso da fisioterapeuta Lucélia Metello Bellido, de 46 anos, que se apaixonou à primeira vista pela filha, Lorena Bellido Medeiros, hoje com 13 anos, quando a conheceu com apenas um mês de vida, no Lar da Criança, em Cuiabá.

Lucélia havia passado em um concurso para atuar como fisioterapeuta no Lar da Criança. A mãe biológica de Lorena era viciada em drogas e abriu mão da guarda da filha em abril de 2011, quando ela tinha apenas um mês de vida, após um parto prematuro. Lorena, então, foi encaminhada à casa de acolhimento. “Eu falo que ela nos escolheu porque, quando ela chegou, eu a peguei no colo e, quando bati o olho nela, já sabia que ela era a nossa filha”, conta Lucélia.

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Luc�lia Bellido

A fisioterapeuta, que até então já tentava engravidar, nunca havia pensado em adoção, mas se apaixonou por Lorena e conversou com o marido, Késio Alex, para que eles pudessem adotá-la.

“Ele empolgou, eu empolguei e aí foi um processo muito doloroso e muito demorado. Foi uma verdadeira luta porque ela ainda não estava destituída da família biológica, precisava ter todo esse processo que começou em abril e só em dezembro a gente conseguiu o apadrinhamento dela, então a gente a trazia todos os finais de semana para a nossa casa. O difícil era ter que devolver para o abrigo nos outros dias da semana. Era difícil ter que deixar todas as coisinhas dela aqui em casa e o emocional dela também ficava abalado, então ela sempre ficava doentinha nesses dias que tinha que ficar longe da gente”, relembra.

Arquivo Pessoal

Luc�lia Metello Bellido e Lorena Bellido Medeiros

Lorena apresentava algumas dificuldades na questão motora e Lucélia decidiu investigar se ela possuía alguma deficiência. Na época, só Lucélia e o esposo entraram na fila para adoção de crianças especiais, que tinha somente mais dois casais. O laudo final, no entanto, apontou que Lorena tinha apenas uma inversão no cariótipo – alteração nas estruturas dos cromossomos -, mas não uma deficiência.

Lucélia se recorda que entrou em desespero porque sabia que havia uma fila enorme de casais esperando para adotar uma criança com as características da Lorena.

“Quando chegou esse resultado, eu ainda estava lá no Lar e desabou tudo. Foi tudo por água abaixo porque eu pensei: menina, bonita, branquinha e bebê? Automaticamente seria quem está na fila há mais tempo. Mas o médico que a acompanhava me disse para ter calma porque realmente a Lorena tinha uns atrasos na coordenação motora, ela era uma criança com características especiais”, conta.

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Luc�lia Bellido e Lorena Bellido

Percalços e vitória

Após o primeiro impasse com os exames médicos, foi registrada uma denúncia de que estaria havendo uma facilitação da adoção de Lorena por Lucélia trabalhar no Lar da Criança.

A denúncia foi checada por peritos do Ministério da Saúde e ficou comprovado que não havia nenhuma facilitação no processo. No entanto, mais um obstáculo surgiu: a mãe biológica de Lorena desistiu da decisão anterior e passou a pedir a guarda da filha novamente, movida por interesses pessoais. Isso porque, caso alguma deficiência fosse confirmada, Lorena receberia algum auxílio do governo – o que chamou a atenção da genitora.

Ainda olham a adoção como se fosse um favor para o outro. É um sentimento injusto. […] Tem esse tabu, tem isso de achar que estamos fazendo um gesto grandioso, mas só estamos nos tornando mãe. É um amor que é incontestável


Lucélia Bellido

“A mãe biológica dela soube de alguma forma que ela tinha feito todos esses exames e que estava na fila de adoção especial. Ela quis a guarda porque a pessoa que estava com ela na época, que era um senhor muito mais velho que ela, disse que ela poderia ter o benefício, mas Deus é muito bom e ela não foi devolvida para a mãe”, contou.

O processo, porém, foi moroso. A guarda definitiva de Lorena saiu somente um ano depois, quando a menina já tinha mais de um ano de idade.

Lucélia conta que ouve elogios pela batalha da adoção, mas considera um “sentimento injusto”, uma vez que fez nada além do que qualquer mãe biológica faria: lutar pela filha. Como explica a fisioterapeuta, mães por adoção são simplesmente “mães” e filhos adotivos são apenas “filhos”.

“As pessoas falam que é tão bonito eu ter adotado a Lorena, mas às vezes isso incomoda porque realmente é bonito, é gratificante, mas as pessoas ainda olham a adoção como se fosse um favor para o outro. É um sentimento injusto. O que eu acredito é que hoje ainda tem esse tabu, tem isso de achar que estamos fazendo um gesto grandioso, mas só estamos nos tornando mãe. É um amor que é incontestável”, define.

Rodinei Crescêncio/Rdnews

Lorena Bellido

Cenário em Mato Grosso

Em Mato Grosso, atualmente, existem 51 crianças e adolescentes disponíveis para adoção. Destas, 15 são do sexo feminino e 36 do sexo masculino. Apenas seis possuem idades entre 2 e 8 anos. As outras 45 têm entre 10 e 16 anos. Em relação à etnia, das 51 crianças disponíveis, 37 são pardas, 9 brancas, 4 negras e uma é indígena. 

Os dados são do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), criado pelo Conselho Nacional de Justuiça (CNJ), e foram consultados no dia 10 de maio.

SNA/CNJ

Quadro - crian�as dispon�veis para ado��o em MT

Os dados apontam ainda que o Estado possui 616 pretendentes disponíveis, sendo que 336 não têm preferência por etnia e estão dispostos a adotar crianças. Já 188 preferem crianças pardas, 182 têm preferências por crianças brancas, 78 buscam por asiáticas, 62 querem negras e 22 têm preferência por indígenas.

SNA/CNJ

Quadro ado��o - perfil buscado pelos pretendentes

O sistema mostra, ainda, que a preferência de idade é por crianças de 2 a 8 anos, sendo que a maioria dos pretendentes buscam por crianças na faixa etária entre 4 e 6 anos.



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