Comandante das forças especiais do exército sul-coreano revelou à comissão do Parlamento ordem dada por Yoon Suk Yeol durante movimentação, na madrugada de terça para quarta passada, para anular lei marcial. Presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, em foto de arquivo
Reuters/Kim Hong-Ji/Pool/File Photo
O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, ordenou que militares “retirassem à força” os deputados de dentro do Parlamento durante votação para derrubar a lei marcial, revelou um comandante do exército da Coreia do Sul nesta terça-feira (10).
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O comandante Kwak Jong-geun, da unidade de guerra especial do exército sul-coreano, afirmou ter recebido uma ordem direta do presidente Yeol para “retirar os parlamentares à força” durante depoimento perante a Comissão de Defesa Nacional do Parlamento.
“O presidente me ligou diretamente por um telefone seguro, dizendo: ‘Parece que o quórum ainda não foi alcançado. Quebrem a porta, entrem rapidamente e retirem à força as pessoas que estão lá dentro'”, disse Jong-geun.
O presidente Yeol surpreendeu o país e o mundo ao decretar lei marcial na madrugada de 3 de dezembro, no horário local. A medida restringe direitos e liberdades civis e sua adoção foi duramente criticada pela oposição e pela população.
A lei foi derrubada em poucas horas pelo Parlamento sul-coreano, que realizou sessão emergencial à revelia das forças da lei marcial, que tinham instruções para fechar a casa legislativa. O presidente sobreviveu a uma votação de impeachment no final de semana passado, quando seu partido abandonou a votação.
O presidente foi proibido pela Justiça sul-coreana de sair do país e é alvo de investigações por traição.
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Votação de impeachment
O presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol sobreviveu a uma votação de impeachment no Parlamento do país no último final de semana, em um esforço liderado pela oposição. Yeol não caiu porque a maioria dos parlamentares de seu partido boicotar a votação.
Segundo a oposição, ocorreu um boicote, já que o presidente só poderia ser retirado do cargo caso 2/3 do parlamento votasse a favor do impeachment — são 200 de seus 300 membros. Os partidos de oposição que apresentaram a moção de impeachment têm 192 assentos. Eles precisariam de pelo menos oito votos adicionais do Partido do Poder Popular.
A derrota da moção deve intensificar os protestos públicos pedindo a saída de Yoon. Uma pesquisa mostrou que a maioria dos sul-coreanos apoia o impeachment do presidente.
Manifestantes pedem o impeachment do presidente sul-coreano
Kim Hong-ji/Reuters
Pedido de desculpas
Yoon Suk Yeol foi acusado de violar seu dever constitucional e cometer um crime semelhante à traição ao declarar lei marcial na última terça-feira (3). Mais cedo, ele pediu desculpas e disse que decretou a lei marcial por desespero.
O discurso foi a primeira aparição pública do líder embaraçado desde que ele revogou a ordem de lei marcial na manhã de quarta-feira, apenas seis horas depois de ela ter sido declarada, e após o parlamento desafiar os cordões militares e policiais para votar contra o decreto.
“Estou muito arrependido e gostaria de pedir sinceras desculpas ao povo que ficou chocado”, disse Yoon. Entretanto, o presidente não apresentou sua renúncia. “Deixarei nas mãos do meu partido estabilizar a situação política no futuro, incluído o meu mandato”, acrescentou.
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Decreto da lei marcial
Na terça-feira (3), Yoon acionou um dispositivo constitucional para implementar a medida, substituindo a legislação normal por leis militares, fechando a Assembleia Nacional e colocando setores como a imprensa sob controle do governo.
A lei marcial foi decretada em um contexto de baixa aprovação do presidente e de trocas de farpas entre o governo e os deputados. A medida pegou a Coreia do Sul de surpresa e expôs a crise política do país, que vem se agravando nos últimos meses.
Yoon defendeu o decreto como uma maneira de proteger a Coreia do Sul de aliados da Coreia do Norte que estariam infiltrados no país. A lei, no entanto, sofreu uma série de reações negativas e levou milhares de sul-coreanos às ruas.
Crise política
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Em abril deste ano, o Partido Democrata — de oposição ao governo de Yoon — venceu com ampla vantagem as eleições parlamentares. Com isso, a legenda ampliou o controle da Assembleia Nacional, conquistando mais de 170 das 300 cadeiras da Casa.
À época, Yoon fez um pronunciamento prometendo mudanças no governo e políticas para estabilizar a economia na Coreia do Sul.
Enquanto isso, a oposição aprovou moções para investigar a primeira-dama. Todos os projetos acabaram sendo vetados pelo presidente.
No fim de novembro, o Partido Democrata rejeitou o orçamento do governo e avançou com um plano de revisão de gastos, cortando o equivalente a mais de R$ 17 bilhões. A medida irritou o gabinete presidencial, sendo que a porta-voz do governo chamou a ação de “tirania parlamentar”.
Ao anunciar a lei marcial, Yoon descreveu a oposição como “forças pró-Coreia do Norte, sem vergonha, que estão saqueando a liberdade e a felicidade” dos sul-coreanos.
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