O ministro das Relações Exteriores de Israel disse que o termo só será retirado se Lula pedir desculpas. Petista deu declaração após ser questionado sobre a decisão de alguns países de suspender repasses financeiros à Agência da ONU para os Refugiados Palestinos. O presidente Lula durante declaração à imprensa em Adis Abeba, na Etiópia
Reprodução/Canal Gov
O governo de Israel afirmou que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é uma “persona non grata”, após o presidente comparar ações de Israel na Faixa de Gaza ao extermínio de judeus na Segunda Guerra.
O termo é um instrumento jurídico utilizado nas relações internacionais para indicar que um representante oficial estrangeiro não é mais bem-vindo. A nomenclatura foi descrita no artigo 9 da Convenção de Viena sobre relações diplomáticas.
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De acordo com Tanguy Baghdadi, professor de Política Internacional e criador do podcast Petit Journal, o termo costuma ser usado para pessoas detratoras, que apresentam algum risco de hostilidade para um determinado país.
“Na prática, a consequência para o presidente [Lula] é que caso ele decida visitar Israel, provavelmente o país vai negar”, afirmou Baghdadi. Para o especialista, a decisão de classificá-lo como persona non grata é pior à imagem do que qualquer coisa.
Para reverter a situação, o professor indica que o Brasil maneje o discurso e afirme que a fala de Lula é mais sobre o excesso do exército israelense na Faixa de Gaza do que a política do governo de Israel como um todo. “Mas não acho que o governo brasileiro fará isso”, diz Baghdadi.
Por que Lula foi chamado de ‘persona non grata”?
No final da semana, Lula classificou como “genocídio” e “chacina” a resposta de Israel na Faixa de Gaza aos ataques terroristas promovidos pelo Hamas no início de outubro. Ele comparou a ação israelense ao extermínio de milhões de judeus pelos nazistas chefiados por Adolf Hitler no século passado.
“O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar os judeus”, disse Lula.
O petista fez a afirmação após ser questionado sobre a decisão de alguns países de suspender repasses financeiros à Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) — entenda mais abaixo o que está acontecendo com a agência.
Lula é declarado ‘persona non grata’ em Israel
Nesta segunda-feira (19) então, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, afirmou nas redes sociais que a comparação feita por Lula é um “grave ataque antissemita que profana a memória daqueles que morreram no Holocausto”.
“não perdoaremos e não esqueceremos — em meu nome e em nome dos cidadãos de Israel, informei ao Presidente Lula que ele é uma ‘persona non grata’ em Israel até que ele peça desculpas e se se retrate”.
Benjamin Netanyahu, por sua vez, disse que conversou com o ministro e decidiu convocar o embaixador do Brasil para uma reunião sobre a fala de Lula.
Em uma rede social, o premiê declarou que a afirmação banaliza o extermínio de judeus. “Comparar Israel ao Holocausto nazista e a Hitler é ultrapassar uma linha vermelha. Israel luta por sua defesa e garantia do seu futuro até a vitória completa”.
O que está acontecendo com a UNRWA?
Alguns funcionários da Agência das Nações Unidas de assistência aos palestinos (UNRWA) foram acusados no final de janeiro de estarem envolvidos no ataque do Hamas, em Israel, em 7 de outubro de 2023. O porta-voz do governo israelense, Eylon Levy, afirmou que o lugar é uma fachada para o grupo terrorista.
“A agência foi comprometida de três maneiras: contratando terroristas em massa, deixando suas instalações serem usadas para atividades militares do Hamas e se apoiando no Hamas para a distribuição da ajuda na Faixa de Gaza”, afirmou.
À época, a agência afirmou que os funcionários foram demitidos enquanto uma investigação é feita. Segundo o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, um relatório preliminar da equipe de auditoria será apresentando até o final de março, com entrega de um relatório definitivo até o final de abril, que será público.
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Após a acusação, dez dos principais países financiadores da agência suspenderam temporariamente suas doações à entidade: Alemanha, EUA, Austrália, Japão, Itália, Holanda, Canadá, Finlândia, Suíça e Reino Unido.
Um porta-voz da agência também disse que se o financiamento não for retomado, a UNRWA conseguirá prestar seus serviços em toda a região, incluindo Gaza, até fevereiro.
A UNRWA, criada em 1949 após a primeira guerra árabe-israelense, oferece serviços que incluem educação, cuidados primários de saúde e ajuda humanitária aos palestinos em Gaza, Cisjordânia, Jordânia, Síria e Líbano.
Sede da UNRWA na Faixa de Gaza. Entidade também está presente na Cisjordânia, Síria, Líbano e Jordânia
Picture alliance/dpa/APA/ZUMA Press Wire
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