Os homens estão sonoros e exaltados | …

Olga Lustosa

Atualmente vivemos num mundo envolto em volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, em inglês há uma siga para isso, VUCA (volatility, uncertainty, complexity, and ambiguity). São velhos assuntos que testam a humanidade, como a emergência climática, a violência, os conflitos internacionais e a eterna Aliança Global de Combate à Fome, que, repaginada, foi lançada recentemente e teve a adesão de 82 países e diversos organismos internacionais.

Atualmente vivemos num mundo envolto em volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, em inglês há uma siga para isso, VUCA (volatility, uncertainty, complexity, and ambiguity)

Os humanos são seres que fazem sentido e procuram compreender e interpretar o que está acontecendo, porém, nem sempre conseguem conviver bem com o extrato da sociedade e abordagem dos fatos como está acontecendo nesse dado momento. Os homens estão muito sonoros e exaltados, se rompem os laços interpessoais de fraternidade, que são necessários para que tenhamos uma sociedade sem violência, como disse o Ministro do STF, Flávio Dino, dias atrás, em Cuiabá.

E, contrariando um provérbio oriental, tempos difíceis não tem gerado homens fortes. Os ânimos estão à flor da pele, não há mais o adversário, o oponente, há o inimigo. Não há aceitação da derrota. Há tentativa de golpe, planos de assassinatos. Não há mais comparsas leais. Há a delação.

A crítica tem sido punida sob a positividade das convicções de quem as ouve, mas devemos aceitar a punição do que é errado sem favoritismo, fanatismo ou polarização, a violência praticada ou comprovadamente planejada deve entrar na conta do delito e seguir com o processo judicial.

O cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais, Felipe Nunes diz que: “a sociedade brasileira se tornou polarizada e socialmente calcificada”. Ele explicou que o índice da polarização afetiva está associado à tolerância com o diferente. Já a calcificação pode ser relacionada ao fato de que a sociedade se tornou mais rígida quanto à identidade, ou seja, as pessoas estão mais intolerantes quanto a ouvir quem pensa diferente, não debatem mais o Estado, debatem os valores. Diz que o povo virou torcedor que têm visões de mundo radicalmente diferentes e não estão dispostos ao diálogo. O cientista político diz ainda que a única maneira de superar a calcificação é por meio da pluralidade de ideias e do convívio saudável com o diferente e do debate.

Apesar de estamos emocional e fisiologicamente sintonizados com o mundo que nos rodeia, estamos também, bombardeados com informações já recheadas de ideologia e não podemos perder a noção de onde vêm nossas influências, não podemos permitir a quebra dos valores civilizados da cultura da paz. Precisamos desafiar nossas suposições para nos abrirmos para a possibilidade de vermos uma situação sob variadas formas de interpretação.

Porque, em John Donne, poeta inglês aprendemos que: “Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra…” e como uma partícula do universo, condensada à sua importância, nenhum homem pode fazer grandes coisas, apenas pequenas coisas com grande amor. (Mahatma Gandhi).

Olga Lustosa é socióloga e cerimonialista pública. Escreve com exclusividade para esta coluna aos domingos. E-mail: olgaborgeslustosa@gmail.com



Fonte