Quando você pensar em fazer um comentário preconceituoso, racista, pensa bem e não o faça. Acompanhando as notícias sobre os jogos Olímpicos, deparei-me com pessoas preocupadas, fazendo ironia comparando o desempenho maravilhoso da ginasta número 1 do mundo, Simone Biles e seu cabelo desalinhado nas apresentações. Todos os comentários que li são de mulheres. O conjunto que a ginasta põe diante dos nossos olhos para julgamentos, é seu corpo como instrumento de realizações incríveis na barra, no solo e no salto.
Criticar o cabelo de uma mulher negra aplaudida efusivamente pelo mundo inteiro não faz sentido.
Nem todas as atletas têm cara e corpo de atleta, segundo o imaginário popular. Criticada também nas mídias Beatriz Souza, a única medalhista de ouro do Brasil até o momento, uma mulher negra que não permitiu que seu corpo fora dos padrões estabelecidos a afastasse do universo das artes marciais. Pesando 135 quilos, é a única brasileira a conquistar uma medalha de ouro em competições individuais em sua estreia nos Jogos Olímpicos e deixa cravado uma mensagem de que o esporte e o mais alto lugar no pódio é para todos os tipos de corpos.
“Problemas sempre vão existir onde se reúnem pessoas de culturas distintas, porém, julgamentos, ironias, xingamentos racistas tem a mesma conotação negativa em toda parte do mundo e devem ser evitados”
Olga Lustosa
Os telespectadores dos Jogos assistiram o futebol e o hino argentino serem vaiados em Paris, numa retaliação as atitudes racistas, atravessadas de xenofobia exibidas pelos argentinos no final da Copa América, dias antes de começar as Olimpíadas, com insultos aos jogadores negros, filhos de migrantes que atuam na seleção francesa; “ Escute, rola a bola/ jogam na França, mas são todos de Angola/que bom que eles vão correr/ a mãe deles é nigeriana e o pai camaronês/mas no passaporte: francês”.
Numa expressão corajosa, diante de pessoas que mal sabem a localização da República Democrática do Congo, a boxeadora Marcelat Sakobi levou dois dedos às têmporas, simulando uma execução e a outra mão, calando-lhe a boca, denunciando a violência dos conflitos armados que até o ano passado, deixou 7 milhões de pessoas desabrigadas no país.
Os Jogos de Paris estão sendo aclamados como as Olimpíadas da igualdade de gênero. O Comitê Olímpico Internacional divulgou que este ano alcançou a plena paridade de gênero, o que define o estabelecimento de uma cota para distribuir vagas igualmente para atletas femininos e masculinos. Os eventos desportivos internacionais progrediram significativamente, em comparação com a primeira vez que as mulheres competiram nos Jogos modernos em 1900.
Mesmo assim, os estereótipos de gênero persistem: um dia após o início dos Jogos, um comentador do canal Eurosport fez uma observação sexista sobre a equipe de natação australiana que tinha acabado de garantir uma medalha de ouro, a emissora anunciou o desligamento do repórter dos Jogos Olímpicos.
No dia seguinte, um funcionário do COI, alertou as emissoras contra observações e imagens que remetem a vestígios sexistas de atletas femininas, como por exemplo, a forma que as câmeras enquadram os corpos de atletas homens e mulheres.
Problemas sempre vão existir onde se reúnem pessoas de culturas distintas, porém, julgamentos, ironias, xingamentos racistas tem a mesma conotação negativa em toda parte do mundo e devem ser evitados.
Olga Lustosa é socióloga e cerimonialista pública. Escreve com exclusividade para esta coluna aos domingos. E-mail: olgaborgeslustosa@gmail.com.