Na luta pela sobrevivência política, premiê relegou ao segundo plano temas relacionados à segurança e a economia do país, que guiaram a sua trajetória política. Premiê israelense, Benjamin Netanyahu, durante sessão do Parlamento em 24 de julho de 2023
Amir Cohen/REUTERS
Aprovada uma parte significativa da legislação que impede a Suprema Corte de Israel de anular leis aprovadas pelo Legislativo, uma questão martela as mentes de partidários e críticos do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu: ele ainda mantém o controle da coalizão mais radical que já governou o país ou tornou-se uma marionete de seus sócios?
Político habilidoso, afeito a manobras mirabolantes para se manter no cargo, Bibi, como é conhecido o premiê mais longevo de Israel, vem sendo guiado pela agenda ultraconservadora de religiosos e nacionalistas.
Desde que assumiu o novo mandato, há sete meses, após um ano e meio de vacância, mudou o rumo do país, numa guinada nunca vista em seus 75 anos de existência.
O chefe de governo administra simultaneamente várias crises sem precedentes, criadas essencialmente pela insistência em empreender uma reestruturação radical no sistema judiciário que é classificada pelos críticos como um golpe à democracia israelense.
Ao limitar o poder da Suprema Corte, o Executivo se permite governar o país sem freios e contrapesos.
Manifestantes protestam contra o governo do atual premiê israelense Benjamin Netanyahu, em 24 de julho de 2023
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Grandes empresas, sindicatos, reservistas militares e altos integrantes da inteligência israelense passaram para o outro lado da trincheira, voltando-se incisivamente contra o premiê.
Seu legado político passou a ser questionado como o governante que fragmentou a sociedade israelense entre seculares e religiosos; nacionalistas e pacifistas.
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, fala com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, durante sessão do Parlamento em 24 de julho de 2023
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Recém-saído da mesa de cirurgia, onde foi submetido a um procedimento para inserir um marca-passo cardíaco, Netanyahu chamava a atenção pelo semblante apático durante a sessão no Parlamento que aprovou parte de sua reforma, nesta segunda-feira.
Pesquisas mostram que se as eleições fossem hoje, ele certamente perderia a maioria dos votos e não conseguiria articular a coalizão que governa.
Mas ainda restam três anos de mandato, e não é exagero dizer que o pior está por vir. Seus parceiros de governo ditam normas descabidas, como a concessão de reajuste de salários apenas para os professores de escolas religiosas filiadas a partidos da coalizão.
Atual premiê israelense Benjamin Netanyahu acompanhado de parceiros políticos em uma sessão do Parlamento em 24 de julho de 2023
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Respaldados pela legislação que revogou a autoridade da Suprema Corte para derrubar decisões do governo, propuseram também uma lei que isentaria os ultras religiosos do recrutamento militar obrigatório. Ou seja, o estudo da Torá seria equiparado ao serviço ao Estado.
Em sua luta pela sobrevivência, Netanyahu parece ter relegado ao segundo plano os temas relacionados à segurança interna do país e o fortalecimento da economia, que até então guiaram a sua trajetória política.
O premiê mantém-se inerte às sucessivas e desafiadoras visitas do ministro de Segurança Interna, Itamar Ben-Gvir, à Esplanada das Mesquitas. Abre o caminho para o retorno de ministros afastados por corrupção. Corrobora com os projetos de lei que expandem e aceleram a construção de assentamentos israelenses e o controle da Cisjordânia ocupada. E deixa-se levar pelo isolamento no cenário internacional, como se não houvesse amanhã para ele e para Israel.
Entenda conflito na Cisjordânia
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