Não podemos deixar que Líbano vire outra Gaza, diz secretário-geral da ONU na abertura da Assembleia Geral


Guterres abriu a sessão deste ano da Assembleia Geral da ONU, em que 193 líderes de países discursam. Sem citar Israel, criticou países que descumprem resoluções da ONU e disse que o Líbano ‘está a beira do precipício’. Não podemos deixar que Líbano vire outra Gaza, diz secretário-geral da ONU
A escalada de guerras em curso e um risco de que o conflito em Gaza se amplie pelo Oriente Médio marcaram a abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira (24).
Os conflitos foram o tema principal do discurso de abertura, feito pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antonio Guterres.
Antonio Guterres fala durante a 79ª Assembleia Geral da ONU
Mike Segar/Reuters
Sem citar Israel, Guterres criticou países que descumprem resoluções da ONU “sem que nada aconteça” – o Conselho de Segurança já aprovou uma resolução pedindo cessar-fogo em Gaza, que foi ignorada por Israel. E pediu que a comunidade internacional se mobilize para evitar que “o Líbano vire outra Gaza”, em referência à escalada do conflito entre Hezbollah e Israel.
“O Líbano está à beira do precipício”, disse. “O povo do Líbano – o povo de Israel – e o povo do mundo – não pode permitir que o Líbano se torne outra Gaza.”
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O risco de um conflito regional generalizado no Oriente Médio estará entre os principais assuntos da Assembleia Geral da ONU, que começa nesta terça-feira (24).
Com Israel, Líbano, Irã e grupos extremistas no radar, os líderes mundiais devem ressaltar a importância da paz nos discursos.
A preocupação é a abertura de uma segunda frente na guerra, que também envolve o Líbano. O país abriga o grupo extremista Hezbollah, que se opõe a Israel e demonstrou apoio aos terroristas do Hamas na ação de outubro de 2023.
Bombardeios israelenses no Líbano mataram quase 500 pessoas, na segunda-feira (23), fazendo com que o dia fosse o mais sangrento desde 2006.
É esperado que o conflito seja explorado nos discursos da Assembleia Geral, que contará com a presença de chefes de Estado de 193 países. No entanto, outros temas como fome e mudanças climáticas estarão no radar.
Ainda para esta terça-feira estão previstos discursos dos presidentes da Argentina, El Salvador e Irã. As falas da Palestina e de Israel estão previstas para o dia 26 de setembro. É esperada a presença do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Já a autoridade do Líbano deve discursar no dia 30.
Não devem comparecer à Assembleia os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, da China, Xi Jinping, e da Venezuela, Nicolás Maduro. Eles serão substituídos pelos respectivos ministros das Relações Exteriores.
Nesta reportagem você também vai ver:
Como funciona a Assembleia Geral da ONU?
Por que o Oriente Médio estará no foco?
Como funcionam os discursos e qual é a ordem?
O que esperar do discurso do presidente Lula?
O que acontece se um país for criticado por outro?
Como funciona a Assembleia Geral da ONU?
A Assembleia Geral da ONU é um encontro anual que acontece entre os principais governantes e autoridades dos 193 Estados que fazem parte da organização. Vários eventos acontecem durante a reunião — que neste ano tem nove dias de trabalhos.
O principal encontro é chamado de “Debate Geral”, que começa nesta terça-feira. Apesar do nome, não existe de fato um debate entre as nações. Cada país tem o direito de fazer um discurso para apresentar seu ponto de vista sobre o tema do encontro e a situação global.
O primeiro Debate Geral aconteceu em 1946. A edição deste ano será de número 79 e irá até o dia 30 de setembro.
A Palestina e o Vaticano são considerados Estados observadores não membros e foram convidados a participar da reunião.
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Como funcionam os discursos e qual é a ordem?
Presidente chinês Xi Jinping fala em transmissão para a Assembleia Geral da ONU em 21 de setembro de 2021
Mary Altaffer/Pool via Reuters
Cada chefe de Estado tem o direito de discursar por 15 minutos no Debate Geral. A fala não é obrigatória, e o tempo de duração é flexível.
Ou seja, o orador que estourar os 15 minutos não será interrompido e poderá concluir a fala. Na década de 1960, por exemplo, o líder cubano Fidel Castro falou por mais de 4 horas.
O Debate Geral começa com um discurso do presidente da Assembleia Geral. Depois, começam as rodadas com as falas de governantes mundiais.
Pela tradição, o Brasil é o primeiro país a discursar. Isso acontece porque, nos primeiros encontros, nenhum país se colocava à disposição para ser o primeiro a falar. A exceção era o Brasil, que interveio em várias ocasiões e passou a encabeçar a lista.
Depois do Brasil, vêm os Estados Unidos. A escolha dos norte-americanos para o segundo lugar também é uma tradição, já que o país é a sede da Assembleia Geral. O encontro acontece na sede da ONU, em Nova York.
A ordem dos demais países é definida por equilíbrio geográfico, nível de representação e compatibilidade de agenda.
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O que esperar do discurso do presidente Lula?
Lula nas assembleias da ONU em 2006, 2009 e 2023
Julie Jacobson/AP; Richard Drew/AP; Mike Segar/Reuters
De acordo com o blog do Valdo Cruz, o presidente Lula deverá focar na agenda climática.
Na “Cúpula do Futuro”, no domingo (22), o presidente já havia falado sobre mudanças climáticas e chamado a atenção para reformas dentro da ONU.
A expectativa é que Lula suba o tom no discurso do Debate Geral e alerte sobre o risco de um fracasso coletivo mundial na agenda climática.
O presidente brasileiro também deve falar sobre o combate à fome no mundo e citar o agravamento da crise na Venezuela.
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Por que o Oriente Médio estará no foco?
Fumaça emerge no sul do Líbano após ataques israelenses, vista de Tiro, no Líbano, nesta segunda-feira (23).
Aziz Taher/Reuters
Esta é a primeira Assembleia Geral desde o começo da guerra no Oriente Médio, entre Israel e Hamas.
Atualmente, existe a preocupação que o conflito se agrave e passe a envolver outros países. Essa possibilidade ganhou ainda mais força após o Hezbollah sofrer um ataque coordenado com a explosão de pagers e walkie-talkies.
Apesar de não ter assumido a autoria do ataque, Israel foi responsabilizado pela operação. Como o Hezbollah é um grupo extremista do Líbano, o país passaria a estar diretamente envolvido no conflito.
Desde outubro de 2023, a fronteira entre Israel e Líbano vive tensões. Isso porque o Hezbollah fez ataques contra o território israelense em solidariedade do Hamas. As Forças de Defesa de Israel responderam com bombardeios contra estruturas do grupo extremista.
Essa tensão na fronteira fez com que moradores israelenses da região deixassem as próprias casas. No dia 18 de setembro, após a explosão dos pagers do Hezbollah, Israel moveu tropas para área e disse que estava iniciando uma nova fase na guerra.
O governo israelense também anunciou que o retorno dos moradores para casa na região de fronteira passou a ser um objetivo de guerra. Nos dias seguintes, bombardeios israelenses contra o Líbano foram registrados.
Além disso, existe o risco de que o Irã se envolva diretamente no conflito. Recentemente, o país prometeu punir Israel pela ação envolvendo os pagers, já que o embaixador iraniano no Líbano ficou ferido na operação.
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O que acontece se um país for criticado por outro?
Críticas mútuas são comuns nos discursos do Debate Geral. Caso algum Estado se sinta ofendido por algum orador, ele pode solicitar um direito de resposta.
O protocolo determina que o Estado que quiser dar uma resposta precisa apresentar a solicitação formalmente por escrito, em uma carta. O texto é repassado entre todos os membros da Assembleia.
Até dois direitos de resposta podem ser concedidos. O primeiro, tem duração de até 10 minutos, enquanto o segundo tem 5 minutos. O discurso de resposta é feito sempre ao fim do dia.
Outra prática comum é a delegação criticada se retirar do local da Assembleia em protesto. Israel e Irã costumam adotar essa medida enquanto o outro está discursando.
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