Na mira do governo Lula, bets somam 1 bilhão de acessos por mês no Brasil | …

Na mira do governo Luiz Inácio Lula da Silva, que estuda medidas para conter a chamada “epidemia de bets” e coibir o endividamento de beneficiários do Bolsa Família, as plataformas de apostas e jogos de azar virtuais somam 1 bilhão de acessos por mês no Brasil. Os dados são de um levantamento exclusivo da consultoria digital Bites a partir da ferramenta de análise de dados SimilarWeb.

 Os números também mostram que as bets só são superadas pelo comércio eletrônico, que tem 1,2 bilhão de acessos mensais. As plataformas de apostas têm sete sites entre os 100 mais acessados no Brasil, e estão à frente até mesmo de páginas de conteúdo adulto, que somaram 719 milhões de visitas.

Hugo Barreto/Metrópoles @hugobarretophoto

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 O estudo franqueado com exclusividade à equipe do blog indica entre as bets mais mais acessadas estão Betano (26ª posição entre os 100 sites mais populares), Bet365 (28ª), Betnacional (44ª), Esporte da Sorte (56ª), Estrelabet (75ª), 7gamesbet (93ª) e superbet (100ª).

 A Betano, líder entre as plataformas no volume de acessos no levantamento, teve 97,9 milhões de visitas no período e 44 milhões de usuários únicos. A centésima colocada não fica muito distante, com 41,8 milhões de acessos e 12,8 milhões de visitantes únicos.

As bets entraram na mira do Palácio do Planalto após o Banco Central divulgar no último dia 23 um relatório indicando que usuários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em apostas só no mês de agosto deste ano.

Pelo menos 2 milhões de usuários do programa – equivalente a 25% do total de 20,76 milhões de pessoas – fizeram apostas usando dinheiro repassado pelo governo para as famílias mais carentes. O valor médio das apostas foi de R$ 100 – a média do benefício, cujo repasse depende da configuração familiar e outros fatores, foi de R$ 684 no mês passado – e 70% foi efetuada por chefes de família.

As cifras contemplam tanto apostas esportivas quanto jogos online, como cassinos virtuais. O número pode ser ainda maior, já que o levantamento do Banco Central levou em conta apenas transações via Pix para os sites. Pagamentos no débito, crédito ou via transferência eletrônica direta (TED) não foram contabilizados.

O presidente da instituição, Roberto Campos Neto, declarou na semana passada ter preocupação com os endividamento da camada mais vulnerável da população e disse que as apostas com Pix triplicaram desde janeiro.

Os dados chacoalharam o Palácio do Planalto e abriram uma discussão na base do governo no Congresso sobre os impactos sociais da explosão de jogos de azar no país. O Ministério da Fazenda determinou que as bets sem autorização para operar do país saíssem do ar até a última terça-feira (1) e o chefe da pasta, Fernando Haddad, declarou ontem que Lula está “inclinado” a vetar o uso do cartão do Bolsa Família para financiar apostas.

‘Cassino dentro das cozinhas’

Há, no entanto, um debate sobre a restrição, já que historicamente o governo federal defendeu a autonomia dos beneficiários no uso do dinheiro, que tem como finalidade reduzir a desigualdade social e expandir o poder de consumo familiar.

“Nós estamos percebendo no Brasil o endividamento das pessoas mais pobres tentando ganhar dinheiro a todo custo”, disse o presidente da República na semana passada, durante sua viagem a Nova York para a Assembleia-Geral da ONU. “Esse é um problema que nós vamos ter que regular. Se não, daqui a pouco a gente vai ter cassinos dentro das cozinhas de cada casa”, declarou na ocasião.

A questão é que o governo demorou a se dar conta da enrascada traduzida nos números da Bites.

No ano passado, quando o Congresso votou um projeto de lei para regulamentar as apostas, autorizadas desde 2018, no governo Michel Temer, mas sem regramento público, deputados e senadores da base de Lula votaram em peso em um projeto de lei que definiu o formato atual das bets.

O texto nasceu de uma medida provisória formulada pelo Planalto para regulamentar as apostas, passou a incluir cassinos e outros jogos de azar online e foi aprovado na Câmara dos Deputados com votação simbólica, quando os votos individuais não são contabilizados. Na ocasião, apenas PSOL, governo, e Novo, oposição, se manifestaram contrariamente ao projeto.

O mesmo ocorreu no Senado Federal, que aprovou dois destaques à proposição, forçando o retorno da pauta para a Câmara. Mesmo nesta segunda oportunidade, apenas a oposição e a minoria na Casa orientaram voto contrário na agenda.

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, não economizou no sincericídio na semana passada. “É como se a gente tivesse aberto as portas do inferno, não tínhamos noção do que isso poderia causar”, declarou a dirigente petista na semana passada à Folha de S. Paulo.

Ainda que restrinja o pagamento de apostas com benefícios do governo ou combata as bets não autorizadas no Brasil, os números deixam claro que este é um mercado que o governo Lula e seus sucessores terão muita dificuldade em desmobilizar mesmo diante do endividamento das camadas mais sensíveis da população.



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