Mudanças climáticas e aumento dos incêndios exigem troca de rota, diz ICMBio | …

SOS Pantanal

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As mudanças no clima e na incidência dos incêndios no Pantanal nos últimos quatro anos preocupa profissionais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e faz com que a instituição mude de “direção” nas estratégias de combate e prevenção do fogo, afirma o presidente do ICMBio, Mauro Pires. Em evento para discutir o Manejo Integrado do Fogo, na manhã desta terça (23), profissionais divulgaram as perspectivas para o período de seca deste ano e a necessidade de ações preventivas.

Segundo Christian Berlinck, doutor do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros do ICMBio, a mudança do período de queimadas em 2023, que teve seu pico em outubro e novembro – diferente dos dados históricos – e a chegada do fogo mais cedo este ano, além do nível alarmante do Rio Paraguai, mostram que a tragédia de 2020 pode se repetir.

“Os estudos mostram que éramos para ter temperaturas apenas 2°C acima da média, mas ao invés disso, estamos bem mais, tivemos 12 dias de calor consecutivos com temperaturas maiores que 40°C, isso não era estimado para essa década. O que esperávamos viver no período de 2041 a 2060, estamos vivendo agora. Muitos dias sem chuva e com temperaturas acima dos 40°C. Todos esses dados apontam que vamos viver dias ainda mais críticos daqui para frente”, pontuou.

Annie Souza/Rdnews

ICMBio Christian Berlinck

Christian Berlinck, doutor do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros do ICMBio

Entre os problemas citados, Christian apontou a seca no Rio Paraguai. De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (SGB), o nível do Rio Paraguai em Ladário atingiu apenas 1,23 metros no último dia 14, uma das marcas mais baixas registradas. Em comparação com o mesmo período do ano anterior, as diferenças são significativas. No dia 1º de abril deste ano, o nível estava em 98 centímetros, enquanto em 2023, no mesmo período, registrou 2,47 metros. A média histórica para este período é de 2,87 metros, segundo o SGB, uma diferença expressiva.

“Com o nível do rio tão baixo, a seca vai chegar mais severa e mais cedo no Pantanal e os incêndios se propagarão com mais força. O fogo faz parte da natureza, excluir não é a solução. O que precisamos entender é como fazer isso. Perdemos parte da população com a tragédia de 2020. Há uma dificuldade na recuperação dos impactos indiretos. Se isso continuar acontecendo a redução da população vai ficar cada vez mais acentuada até espécies saírem do sistema”, explicou Christian.

Annie Souza/Rdnews

ICMBIO Mauro Pires

O presidente do ICMBio, Mauro Pires

No primeiro trimestre deste ano, o número de focos de incêndio no Pantanal teve um aumento de 1.000%, se comparado ao mesmo período do ano passado. O mês de março já foi o que mais registrou incêndios na série histórica desse período nos últimos 30 anos, tendo passado, inclusive, o mês de março de 2020, ano da grande tragédia no Pantanal.

O que esperávamos viver no período de 2041 a 2060, estamos vivendo agora. Muitos dias sem chuva e com temperaturas acima dos 40°C. Todos esses dados apontam que vamos viver dias ainda mais críticos daqui para frente


 Christian Berlinck

“O Pantanal é um bioma extremamente prejudicado pelo fogo. As mudanças que nós estamos observando no clima, em razão seja do El Niño, seja de forma mais ampla das mudanças climáticas, impactam diretamente no bioma. Quando um incêndio acontece, todo mundo sai correndo, tentando diminuir aquele impacto. E fica claro que a gente tem que investir mais em prevenção”, afirmou Mauro Pires.

Segundo o presidente, a discussão do Plano de Manejo Integrado é justamente para mudar a direção dessa prevenção dos incêndios.

“O manejo integrado do fogo reúne técnicas que vêm de conhecimento milenares, como o dos indígenas, que não põem fogo no período da seca, mas sim no período mais úmido. Técnicas que mostram, por exemplo, como usar o fogo para combater o próprio fogo. É o que chamamos de queima prescrita, que é a queima de uma área fora do período de seca, no horário mais compatível e com toda uma preparação, de acero, de modo que se eventualmente aquela área que você está fazendo a queima surja, tenha condições de evitar que aquele fogo se propague. Nesse período de seca, por exemplo, a gente não está fazendo nenhuma queima prescrita, exatamente por causa do risco que isso pode ocasionar e levar a novos incêndios”, esclareceu.

No entanto, uma das dificuldades, conforme o presidente, é levar a política de prevenção a todos os produtores rurais. “Temos que convencer, levar àqueles fazendeiros que têm áreas no Pantanal, para que eles também usem essas técnicas a fim de evitar o que a gente viu no ano passado. Esse cenário de mudanças climáticas cada vez mais evidentes nos obriga a agir de forma preventiva. É um trabalho a longo prazo. Se conseguirmos difundir esse manejo para todos os produtores evitamos esses incêndios como no ano passado”, finalizou.



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