Melhores amigas desde o berço, jovens largam a carreira para vender joias | …

Poucas duplas de amigos ou irmãos funcionam quando a relação evolui para algo profissional. O caso de Larissa Bassan e Maria Tereza Costa, de 25 anos, à frente da Casa 925, uma loja de pratas no bairro Goiabeiras, em Cuiabá, é exceção recheada de muito esforço ao longo de cinco anos. As sócias são também melhores amigas desde a barriga de suas mães e tiveram a ideia de empreender por conta na pandemia. O negócio deu certo e, após cinco anos, as amigas já realizam sonhos grandes com o faturamento da loja.

A ideia de vender pratas surgiu de Maria Tereza. À época, ela estudava nutrição e, pelo fato do curso ser integral, não conseguia trabalhar e teve o pensamento de montar uma maleta com as peças e leva-la para a faculdade como uma renda extra. Paralelamente, Larissa estudava direito e estagiava na Delegacia Especializada de Defesa da Mulher. Com a pandemia, Larissa saiu do estágio e Maria Tereza teve as aulas suspensas.

Annie Souza/Rdnews

casa 925 - Larissa e Maria Tereza

“Aí a ideia veio novamente. A Larissa falou comigo e disse “eu quero fazer essa coisa certa, não vai ser de vendinha, de andar com maleta, a gente vai fazer uma identidade, vai fazer o Instagram” e fomos criando do nosso jeitinho”, conta Maria Tereza.

As melhores amigas contam que a primeira tiragem foi pequena e adquirida com as economias das duas – que somavam R$ 4 mil. Segundo elas, o estoque não lotava nem uma maleta de tão pouco.

A loja evoluiu em criatividade e faturamento desde o ano de fundação. Inicialmente, os pedidos eram feitos pelo Whatsapp e administrados na casa de Larissa. Desde então, as embalagens foram se tornando cada vez mais personalizadas e a loja física está sob reformas.

Arquivo pessoal

casa 925 embalagens

À esquerda, a embalagem da Casa 925 em 2020; à direita, a embalagem atual.

Ao ver o crescimento, a dupla comenta que muitos sonhos já foram realizados apenas com a renda gerada pela loja. Em 2023, Maria Tereza fez um intercâmbio na Europa e Larissa casou-se e deu entrada em um apartamento.

“Esses tempos uma amiga da minha mãe falou bem assim: “a Casa está dando super certo, né? Graças a Deus”. Eu sei que a gente não está nem perto de onde a gente quer chegar, que tem muita coisa para crescer, mas está dando certo. E ela me respondeu assim: “Já está dando certo, né? Porque seus pais te ajudam e aí você consegue pagar suas coisinhas”. A Casa é o nosso sustento, eu sou casada, eu tenho a minha vida e me banco também. Não tem essa de “meus pais pagam e eu banco minhas coisas”. Hoje, a Casa paga os nossos luxos e todo o resto, porque foi uma construção de quatro anos”, afirma Larissa.

Annie Souza/Rdnews

 Casa 925 joias amigas

Realização profissional

Apesar de terem seus diplomas em direito e nutrição, as sócias não hesitam ao dizer que se realizaram com o empreendedorismo. De acordo com a pesquisa do Sebrae Mato Grosso sobre empreendedorismo feminino no estado, 49% das mulheres empreendedoras buscaram montar seu próprio negócio como uma maneira de conquistar liberdade financeira e autonomia. Para Larissa, a decisão de ser empresária veio mais forte quando se deparou com a realidade da delegacia.

Eu fui estagiar na Delegacia Especializada de Defesa da Mulher, que era o que eu mais sonhava. E aí, quando eu cheguei lá, eu falei ‘não é isso’


Relembra Larissa Bassan

“Eu fui estagiar na Delegacia Especializada de Defesa da Mulher, que era o que eu mais sonhava. E aí, quando eu cheguei lá, eu falei ‘não é isso’. Eu me pegava pensando o que eu que estava fazendo no curso, o que eu deveria fazer de carreira, até que eu percebi que não era aquilo. Eu pensei em advogar quando deixei a delegacia pela frustração que eu tive. No final, eu que não sabia que o empreendedorismo me responderia isso”, comenta.

Já no caso de Maria Tereza, a decisão por se dedicar totalmente à loja após a faculdade foi mais dolorida. Tetê, como Larissa a chama, amou nutrição e relutou em desperdiçar seis anos de estudo para tocar o negócio.

“Eu acabava nesse orgulho, ficava pensando no tempo que eu gastei estudando e também porque é ruim você falar isso para as pessoas. Todo mundo ficava: “quando você vai começar a atender?”. Eu falava que iria fazer uma pós-graduação, mas, hoje em dia, não imagino atendendo como nutricionista de jeito nenhum. Eu sou muito feliz aqui, para falar a verdade”, pontua.

Parte da realização vem da parceria que as duas cultivam desde a infância. A rotina de reunião com fornecedores, fazer pedidos, criar conteúdo para o instagram e atualizar o estoque fortaleceu mais o laço entre as duas. Mesmo que Larissa e Maria Tereza não se desgrudem, as personalidades distintas se complementam evitam conflitos no meio profissional.

Tendo Larissa como a principal porta-voz e parte mais agitada do duo, Maria Tereza é mais tranquila e pondera muito mais as decisões da empresa. As duas se definem como “cabeça” e “coração”, respectivamente.

“É claro que toda empresa vai ter um momento em que as coisas vão estremecer e vamos precisar ter uma conversa séria. Como amigas, praticamente irmãos, a gente tem intimidade para isso sem ficar magoada. Nós nunca brigamos feio e já sabemos quando cada uma está em um dia mal, sabemos o limite de cada uma e só precisa de um olhar às vezes. Quando se trabalha com uma amiga, a gente pega a melhor parte e não a pior da pessoa”, comenta Larissa.

Futuro da Casa

Toda a fachada do empreendimento das melhores amigas está em reforma. Segundo as empresárias, a loja física foi crescendo como dava, ocupando os espaços com o “jeitinho” delas, mas agora os planos são de fazer a coisa certa, mais uma vez.

Com medo de soar soberba, Larissa tem consciência de que a Casa 925 pode mais e as metas são altas para o empreendimento. Agora, formadas, a dupla possui mais tempo para se dedicar à empresa e colocar os planos em prática.

“A gente tem muita vontade de avançar no e-commerce e é um processo muito longo e delicado, cheio de ramificações de coisas que precisam ser resolvidas, mas a gente tem muito interesse de crescer e ser uma referência de e-commerce. Temos a loja física, mas queremos chegar a muitos outros lugares do Brasil. Hoje, os personalizados nos permitiram isso e temos alcançado mais pessoas de fora”, relata Larissa.

Para além do comércio online, as amigas também tem optado por associar a marca a eventos que sejam do interesse de seu público-alvo, uma estratégia conhecida como marketing offline.

Hoje, Larissa e Maria Tereza contemplam muito mais do que imaginaram ao ter a ideia de uma “maletinha”. Durante os quase cinco anos de empresa, a amizade não foi motivo de entrave, mas de impulso para que o empreendimento tivesse forma e expressão em Cuiabá – logo no país.



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