Brasil tradicionalmente é o primeiro país a discursar na Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Lula começou o discurso saudando a presença da representação da Autoridade Palestina, como membro observador. Lula fala na ONU
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) condenou, nesta terça-feira (24), o crescimento dos conflitos no mundo, e afirmou que a situação dos palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia é uma das “maiores crises humanitárias da história recente”.
Durante discurso na 79ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, Lula citou o agravamento do conflito no Líbano e a postura da comunidade internacional diante das guerras em Gaza e na Ucrânia.
Leia a íntegra do discurso de Lula na Assembleia Geral da ONU
O presidente iniciou o discurso saudando a presença da representação da Autoridade Palestina, que integra pela primeira vez a sessão de abertura do organismo internacional, na condição de observador. Ele foi aplaudido.
Em seguida, falou sobre o crescimento dos conflitos e cobrou as demais nações sobre os investimentos em armamento. “Vivemos um momento de crescentes angústias, frustrações, tensões e medo”, declarou o petista.
“Testemunhamos a alarmante escalada de disputas geopolíticas e de rivalidade entre estratégias. 2023 ostenta o triste recorde do maior número de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial. Os gastos militares globais cresceram pelo nono ano consecutivo e atingiram 2 trilhões e 400 bilhões de dólares”.
‘Testemunhamos a alarmante escalada de disputas geopolíticas e rivalidade estratégicas’, diz Lula na ONU
“Esses recursos poderiam ter sido utilizados para combater a fome e enfrentar a mudança do clima. O que se vê é o aumento das capacidades bélicas. O uso da força sem amparo no Direito Internacional está se tornando a regra. Presenciamos dois conflitos simultâneos com potencial de se tornarem um confronto generalizado”, seguiu o presidente.
Lula também afirmou que os combates entre Israel e os grupos Hamas, na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, e o Hezbollah, no Líbano, transformaram o direito à defesa em um “direito de vingança”.
“Em Gaza, e na Cisjordânia, assistimos a uma das maiores crises humanitárias da história recente. E que agora se expande perigosamente para o Líbano. O que começou como uma ação de fanáticos contra civis israelenses inocentes tornou-se uma punição coletiva, de todo o povo palestino.”
O Brasil é um defensor histórico da solução de dois Estados no Oriente Médio – o Palestino e o de Israel —, assim como outras mais de 140 nações que reconhecem a Palestina como um Estado independente.
“São mais de 40 mil vítimas fatais, em sua maioria, mulheres e crianças. O direito de defesa transformou-se no direito de vingança, que impede um acordo para a liberação de reféns e adia o cessar-fogo”, disse.
Nessa segunda-feira (23), Israel fez o maior ataque ao Líbano desde o início da guerra em Gaza, matando 356 pessoas.
Com os ataques, essa segunda se tornou o dia mais sangrento no país em mais de 18 anos, desde a guerra de 2006 entre Israel e o Hezbollah.
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Israel está em guerra com o Hamas desde que o grupo terrorista lançou diversos ataques ao sul do país, em outubro de 2023, e sequestrou mais de 250 pessoas.
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Confrontos no Leste Europeu
Durante o pronunciamento a chefes de Estado, o presidente Lula também lembrou o confronto entre a Rússia e a Ucrânia, que se arrasta desde que o governo Vladmir Putin invadiu o território vizinho, em fevereiro de 2022.
“Na Ucrânia, é com pesar que vemos a guerra se estender sem perspectiva de paz. O Brasil condenou de maneira firme a invasão do território ucraniano. Já está claro que nenhuma das partes conseguirá atingir todos os seus objetivos pela via militar”, declarou.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, acompanhou o discurso da tribuna. Lula também cobrou uma atuação mais contundente dos demais países para resolver os conflitos, e lembrou a sugestão desenvolvida em parceria entre o Brasil e a China para o fim das hostilidades no Leste Europeu.
“O recurso a armamentos cada vez mais destrutivos traz à memória os tempos mais sombrios do conflito estéril da Guerra Fria. Criar condições para a retomada do diálogo direto entre as partes é crucial neste momento. Essa é a mensagem do entendimento de seis pontos que China e Brasil oferecem para que se instale um processo de diálogo e o fim das hostilidades”, seguiu.
Reforma na ONU
O presidente brasileiro também cobrou uma atuação mais contundente dos demais países para resolver os conflitos, e afirmou que isso passa por uma nova governança global. “Precisamos ir muito além e dotar a ONU dos meios necessários para enfrentar as mudanças vertiginosas do panorama internacional”, frisou.
“A versão atual da Carta não trata de alguns dos desafios mais prementes da humanidade. Na fundação da ONU, éramos 51 países. Hoje somos 193.Várias nações, principalmente no continente africano, estavam sob domínio colonial e não tiveram voz sobre seus objetivos e funcionamento”, lembrou.
“Inexiste equilíbrio de gênero no exercício das mais altas funções. O cargo de Secretário-Geral jamais foi ocupado por uma mulher. Estamos chegando ao final do primeiro quarto do século XXI com as Nações Unidas cada vez mais esvaziada e paralisada”.
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O petista defende uma reforma no Conselho de Segurança na ONU há pelo menos duas décadas, desde que assumiu o poder pela primeira vez.
“É hora de reagir com vigor a essa situação, restituindo à Organização as prerrogativas que decorrem da sua condição de foro universal. Não bastam ajustes pontuais. Precisamos contemplar uma ampla revisão da Carta”.
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