Lula admite 'culpa' por extrema direita ter mais força nas redes e diz que fará 'correções necessárias' na comunicação do governo


Presidente comentou dificuldades da esquerda em dialogar com o eleitorado no universo digital, mas direcionou críticas à comunicação do governo como um todo. Lula em 28 de novembro de 2024
Reuters/Adriano Machado
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou, nesta sexta-feira (6), que integrantes e lideranças do PT atuem de forma mais estratégica e organizada nas redes sociais, e admitiu ter “culpa” pelas dificuldades da esquerda em dialogar com o eleitorado.
“O PT tem culpa, o meu governo tem culpa, porque a gente não pode permitir, em nenhum momento, que alguém que pense como pensa a extrema-direita no nosso país tenha mais espaço nas redes sociais do que nós, tenha mais informações na internet do que nós e consiga projetar as suas maldades menos do que a gente consegue projetar as bondades que nós fazemos”, afirmou.
O presidente discursou por videoconferência durante o segundo dia do Seminário Nacional do PT, em Brasília. Lula não participou do evento presencialmente porque está em São Paulo, após viagem para Montevidéu, no Uruguai, onde participou da Cúpula do Mercosul.
Mercosul e União Europeia anunciam acordo de livre comércio depois de 25 anos de negociações
A esquerda tem sido cobrada para demonstrar uma presença digital melhor, diante do desempenho que partidos e políticos de direita têm apresentado nos últimos anos, e Lula chamou a atenção para o tema.
“Não temos uma digitalização, eu diria do PT, que pense como cabeça, tronco e membros, falando a mesma linguagem durante todo o dia. É uma coisa que vamos ter que levar em conta para resolver nesses dois anos que faltam para terminar o meu governo”.
Apesar das cobranças direcionadas para o contexto digital, o petista também admitiu que há uma falha de comunicação no governo como um todo.
Para Lula, o governo e o PT não estão organizados para utilizar a internet a fim de divulgar as ações realizadas nos últimos dois anos. O presidente afirmou que precisa conceder mais entrevistas, já que os adversários não falarão bem da sua gestão.
“Há um erro no governo na questão da comunicação e eu sou obrigado a fazer as correções necessárias para que a gente não reclame de que a gente não está se comunicando bem”, frisou.
Segundo o presidente, a questão será tratada com seriedade no início do próximo ano.
“Alguma coisa precisa ser mudada para que as pessoas tenham acesso aquilo que nós estamos fazendo. Nós não estamos conseguindo colocar as coisas que nós estamos fazendo. E essa é uma das minhas preocupações que quero começar a resolver no começo de ano e quero resolver junto com o partido”.
Durante a fala, o presidente não citou no discurso o ministro da Secretaria de Comunicação (Secom), Paulo Pimenta, responsável pela área criticada pelo presidente.
Trabalhadores e Congresso
Lula afirmou que o “mundo no qual o PT foi criado não existe mais”, já que a classe trabalhadora dos anos 1980 é diferente da atual. Segundo o presidente, o partido e o governo demonstram “fragilidade” na organização e na mobilização da sociedade.
“Hoje, os sindicatos estão enfraquecidos, mas a classe trabalhadora continua existindo. Ela pode não ser metalúrgica, mas ela está fazendo alguma atividade em algum bairro, em alguma função. Ela existe, não morreu. Nós precisamos é descobrir o jeito de falar com essa gente outra vez”, declarou.
Para o titular do Planalto, há “um problema sério” de formação política dos quadros do PT. O presidente defendeu que a militância não seja puxada pelos políticos com mandato.
Lula também citou o fato de não ter maioria na Câmara e no Senado e afirmou ter sido eleito em um momento no qual os parlamentares sequestraram o orçamento.
“Eu fui eleito presidente num momento em que o poder executivo e o orçamento foram sequestrados pelo congresso nacional, as agendas foram sequestradas pelo Congresso Nacional. É tudo mais difícil”, disse.
Pacote de gastos e mercado
Lula voltou a dizer que está “muito otimista” com os rumos do país, o que inclui o pacote de corte de gastos anunciado recentemente. As medidas desagradaram o mercado financeiro e são apontadas entre os motivos para que a cotação do dólar esteja acima de R$ 6.
“Eu estou muito otimista com o que vai acontecer neste país. E quero dizer para vocês que eu fiquei mais otimista com o lançamento do programa que nós anunciamos agora, desde a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até 5 [mil reais] até a tentativa de moralizar os benefícios públicos, porque nem tudo é correto, mas sobretudo a gente cobrar renda das pessoas mais ricas”, disse.
O presidente também disse não ter ficado “nervoso” com o resultado de uma pesquisa Quaest que apontou reprovação de 90% do governo na opinião de agentes do mercado financeiro.
“Esses banqueiros disseram que 90% são contra mim. Eles pensaram que eu fiquei nervoso. Não. Eu não fiquei nervoso, eu fiquei feliz porque eu ganhei 10%. Antes eram 100% contra mim”, disse.
Segundo Lula, é importante diferenciar o lado político desses agentes e reafirmar que o governo deseja melhorar as condições de vida das pessoas mais pobres.
“A gente continua vendo as pessoas viverem mais, a gente continua vendo as pessoas sofrerem mais, a gente continua vendo os pobres morrerem mais, os pobres serem mais analfabetos. E nós nascemos para mudar isso”, afirmou.

Fonte