Leila Salim Leal foi para Beirute para desenvolver um projeto de pesquisa. Ao g1, ela contou que terá que retornar ao Brasil sem o marido, que é libanês e precisa cuidar da mãe. Leila Salim Leal em Beirute
Arquivo pessoal
A jornalista Leila Salim Leal é uma entre os 21 mil brasileiros que moram no Líbano e estão vivenciando, junto aos libaneses, a escalada de conflito entre o país e Israel. A carioca de 39 anos contou ao g1 que a sensação é de tensão permanente e que tenta voltar para o Brasil.
Leila é casada com um libanês. Ela conta que vai precisar deixar o marido, já que ele não tem condições de deixar o país agora porque precisa cuidar da mãe.
“A situação do Líbano é de uma tensão permanente, uma situação horrível com uma crise humanitária profunda que só se agrava a cada dia. Os ataques de Israel não param, pelo contrário, só se agravam a cada dia”, afirma ela.
A jornalista foi para o Líbano para estudar árabe e desenvolver um projeto de pesquisa que seria para o ano que vem. Mas, com a tensão no Oriente Médio, decidiu, no fim de semana passado, adiar os planos acadêmicos e voltar ao país natal.
Carioca conta que sensação no Líbano é de ‘tensão permanente’
Morando em Beirute, uma área ainda considerada segura, ela ouve os bombardeios. O mais próximo, segundo ela, foi a apenas 3 km da sua casa.
“O ataque da madrugada de segunda foi a 3 quilômetros daqui, e os bombardeios não param. O subúrbio de Dahieh, que fica a 7 km da minha casa, está sendo bombardeado quase que diariamente. Tem famílias desalojadas nas ruas da capital”, conta Leila.
“Consigo sair, aqui no bairro e arredores ainda é ok de andar. Tenho ido também a algumas áreas mais afastadas pra trabalhar, mas é cada vez mais inseguro. Hoje tinham colegas jornalistas no subúrbio minutos antes do bombardeio”, emenda.
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Para ela, foi difícil a decisão de retornar e deixar o marido no Líbano.
“Além da dimensão pessoal, tem a profissional e a afetiva também. Comecei a fazer frilas (trabalho de freelancer) para o Brasil cobrindo a região, e já me sinto muito vinculada ao país”, relata.
Com a intensa saída de pessoas do país, ela tem encontrado dificuldades em comprar a passagem aérea.
“Consegui um [voo] para o dia 5, mas já foi cancelado. Ontem consegui outro, mas apenas para o dia 18 de outubro”, explica.
Nesta quarta (2), o primeiro avião da missão de repatriação de brasileiros no Líbano vai sair do Rio de Janeiro em direção ao país. Quase 3 mil brasileiros já demonstraram interesse em deixar o país.
O Irã disparou cerca de 200 mísseis balísticos em direção a Israel nesta terça-feira (1º), segundo as Forças Armadas israelenses. O Irã também confirmou o envio, que culmina a escalada de tensões entre Israel e o Hezbollah nas duas últimas semanas.
Moradores de cidades libanesas relatam bombardeio intenso na fronteira com Israel, além do som de helicópteros e drones sobrevoando a área.
Leila conta que a situação humanitária é grave. Além da questão psicológica ao ter que lidar com os sons constantes do conflito, quem perdeu suas casas tem que enfrentar a falta de abrigo suficiente para todos.
“Nos últimos dias a gente teve um ataque israelense que atingiu um prédio que estava sendo usado como alojamento. Essas pessoas foram enterradas em covas coletivas nessa terça. É uma situação de uma crise humanitária gravíssima, a gente sente que não tem lugar seguro. O Líbano é um país muito pequeno e estamos todos em risco diante dessa agressão israelense”, completa ela.
De acordo com o Ministério da Saúde do Líbano, mais de 1 mil pessoas foram mortas e 6 mil ficaram feridas ao longo das últimas duas semanas. O governo afirmou ainda que 1 milhão de pessoas – praticamente um quinto da população do país – deixaram as casas onde viviam.
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