Investir no clima é “grande negócio” para agro em MT, diz pesquisador | …

Investir em monitoramento climático e defender a Floresta Amazônica como grande “produtora de chuva” pode ser um “grande negócio” para Mato Grosso, principalmente para o setor agrícola, afirma o pesquisador e professor de Climatologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Rodrigo Marques. O especialista analisa o cenário do agro na região, reforçando que o setor e, consequentemente, a economia do Estado, dependem diretamente do clima, e que por isso é preciso maior atenção. 

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soja plantio

“É preciso um maior investimento. Esse é um problema que sempre existiu. Muitos dos produtores rurais se baseiam em como foi o clima no último ano para aumentar a área de plantação ou não, ao invés de se basear em previsões mais assertivas. Entendo que deveria haver uma preocupação maior com isso. Estamos falando de um setor que movimenta bilhões de reais. Um exemplo é que no ano passado, agricultores entraram na Justiça para antecipar o plantio da soja, para furar o vazio sanitário e a Justiça concedeu. No entanto, a solução não se mostrou adequada”, afirma em entrevista ao .

No exemplo, o pesquisador se refere a decisão do Ministério da Agricultura, que autorizou, no ano passado, que produtores mato-grossenses antecipassem o plantio de soja no estado antes do fim do vazio sanitário, previsto para 15 de setembro. A autorização atendeu um pedido da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), que argumentou que o El Niño traria maiores riscos climáticos para aqueles que fazem a segunda safra, pois as chuvas poderiam ficar mais fracas antes da hora, já entre o final de março e início de abril.

“No entanto, a previsão meteorológica já indicava que os meses de agosto, setembro e outubro seriam mais quentes que o normal e sem previsão de chuva, e de fato foi. Isso foi um problema, porque a soja precisava dos 20 milímetros de chuva e não teve. Além disso, com uma temperatura 2°C acima da média a soja não germina. Então o que aconteceu no ano passado: os produtores anteciparam o plantio para um período que não era viável e vários deles tiveram que replantar, porque perderam a safra”, explica Rodrigo.

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Chuva na lavoura de soja c�u escuro

Por isso, o especialista afirma que é necessário entender melhor o clima em uma economia que depende tanto dele. “Os modelos de previsão estão com dificuldades de prever melhor o que não aconteceu ainda. O que estamos registrando agora são registros que nunca tiveram e é difícil prever algo que nunca viu, porque a referência é o histórico de registros. É preciso de investimento e o agro é um setor que tem recursos para isso. Cada vez temos avançado nas temperaturas máximas e para a agricultura é um problema muito sério”, afirma.

Segundo o pesquisador, essa situação está se agravando nos últimos cinco anos com a redução das chuvas. “Mato Grosso tem sofrido muito nos últimos anos com a má distribuição das chuvas. Chuvas que eram mais espaçadas estão acontecendo em um volume concentrado, que é prejudicial. Então, ao invés de termos duas chuvas de 20 milímetros, temos uma de 40 milímetros e isso causa danos até pela força da chuva”, explica.

Com a desativação do El Niño desativou, e a configuração da La Nina, a expectativa é que o ano não seja tão seco como o anterior, ano El Niño, sobretudo no norte do estado. Mas deve ser mais quente que a média histórica. “No ano passado houve um registro que nunca vimos, de 14 dias seguidos com temperatura acima de 40°C. E a expectativa é que o “novo normal” seja assim, mais quente e mais seco, daqui para frente”, relata.

Conforme defende Rodrigo Marques, as pautas ambientais, principalmente contra o desmatamento, ainda são as maiores aliadas dessas mudanças climáticas. “As chuvas em Mato Grosso são totalmente dependentes da Floresta Amazônica, que é quem “segura” e “recicla” o ar úmido, o devolvendo em forma de chuva para a atmosfera. Então preservar e aumentar a área da Floresta Amazônica é um grande negócio para o Estado”, conclui.



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