Impactos Econômicos das enchentes | …

Arte: Rodinei Crescêncio

Vivaldo Lopes arte nova

A tragédia climática do Rio Grande do Sul sensibilizou e colocou em ação toda a nação brasileira, em extraordinária corrente de solidariedade, fraternidade e humanismo, para socorro e proteção imediata aos irmãos gaúchos. Os próximos movimentos serão de retomada das atividades rotineiras das empresas, instituições públicas, das famílias e o longo processo de reconstrução da infraestrutura econômica e social das cidades.

Na seara das expectativas econômicas, as enchentes são um ingrediente a mais no conjunto de fatores que já contribuíam para formar um cenário menos otimista para a economia brasileira em 2024.  Mudança no cenário internacional, com a decisão do Federal Reserve (Fed), o Banco Central americano, de manter os juros em patamar elevado, continuidade de guerras no continente europeu e oriente médio e as incertezas sobre a capacidade da equipe econômica em manter equilibradas as contas públicas federais levaram o Banco Central a desacelerar o ciclo de redução da taxa básica de juros.

Estimativas iniciais indicam que a reconstrução da infraestrutura do Rio Grande do Sul exigirá montante de recursos equivalentes a 1,5% do PIB brasileiro, algo próximo de 150 bilhões de reais. Naturalmente, todo esse recurso não sairá de uma fonte única. Virá dos tesouros federal, estadual, municipais, da iniciativa privada, de empréstimos bancários subsidiados, da prorrogação de dívidas públicas e privadas, desembolsos de benefícios sociais.

Estimativas iniciais indicam que a reconstrução da infraestrutura do Rio Grande do Sul exigirá montante de recursos equivalentes a 1,5% do PIB brasileiro, algo próximo de 150 bilhões de reais

Levantamentos preliminares mostram considerável impacto da paralisação da atividade econômica do estado gaúcho no mercado nacional e até internacional. Na agropecuária, teremos impacto nos preços de arroz, trigo, feijão, frutas e vinhos.  O estado responde por 7,4 milhões de toneladas de arroz, do total produzido no país (10,5 milhões de toneladas). A maior parte da safra de arroz já foi colhida, mas a dificuldade logística para levar o produto até as indústrias processadoras e aos centros de consumo deve pressionar os preços no curto prazo.

O maior impacto virá no campo industrial. O Rio Grande do Sul é um dos estados mais industrializados do país. Tem forte participação na indústria de movelaria, calçados, roupas, vinhos, metalurgia, veículos, autopeças, carnes processadas, carrocerias de ônibus, tratores, colheitadeiras, implementos agrícolas. Nesta semana, várias montadoras no Brasil e na Argentina deram férias coletivas e reduziram atividades em suas plantas por falta de componentes que deixaram de ser entregues por fábricas instaladas em cidades gaúchas.

Outra manifestação da redução das expectativas dos analistas surge no Relatório Focus, do Banco Central, que resume as projeções de analistas, bancos, academia. Na edição da última segunda feira (20) as estimativas de inflação aumentaram de 3,73% para 3,80% e do crescimento (PIB) foram reduzidas de 2,09% para 2,05%.

Trabalho com cenário mais otimista que a mediana dos economistas e analistas do mercado financeiro. Vejo que, mesmo com a alteração das projeções, todos os cenários indicam que inflação ficará na margem da meta de 3% ao ano, crescimento da atividade acima de 2% e a taxa real de juros em patamar razoável, inferior ao da última década. Entendo também que a injeção de capital do “Plano Marshall” brasileiro que será implementado para a recuperação da economia do Rio Grande do Sul ajudará a impulsionar a atividade do estado no segundo semestre.

A tragédia climática e humanitária do Rio Grande do Sul deixa ao menos uma lição a ser observada por todos: o risco climático é uma realidade que precisa ser incorporada às análises de risco das empresas e, principalmente, dos governos nas instâncias federal, estadual e municipal. Desconsiderar tal fato é expor ao risco, de forma temerária, a vida das pessoas, das cidades e dos negócios.

Vivaldo Lopes é economista e escreve neste espaço às segundas-feiras



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