Garota judia de 12 anos é vítima de estupro coletivo na periferia de Paris; caso choca a França


Suspeitos, dois adolescentes de 13 anos, foram indiciados na terça-feira (18). Vítima, da comunidade judaica de Courbevoie, nos arredores da capital francesa, também vinha sofrendo ataques antissemitas e violência. Pessoas andam em rua de Courbevoie, nos arredores de Paris, onde menina judia de 12 anos foi estuprada, em junho de 2024.
Michel Euler/ AP
Uma menina judia de 12 anos foi vítima de um estupro coletivo nos arredores de Paris, na França, após sofrer uma série de insultos antissemitas. O caso chocou a França, onde relatos de episódios de antissemitismo têm sido frequentes após o início da guerra na Faixa de Gaza.
O caso aconteceu em Courbevoie, cidade nos arredores de Paris com uma forte comunidade judaica.
Na terça-feira (18), dois adolescentes de 13 anos foram indiciados pelo crime. Eles também responderão por ameaças de morte, insultos antissemitas e violência contra a menina.
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Um terceiro suspeito, de 12 anos, foi colocado sob proteção de testemunhas por estupro e foi indiciado por outros crimes ainda sob investigação, de acordo com a promotoria pública de Nanterre, na região oeste da capital francesa.
Os três menores foram presos e “colocados sob custódia policial e detenção”, segundo o Ministério Público francês.
Arrastada para um galpão
A menina relatou o incidente no sábado (15) à noite. De acordo com uma fonte policial, a menor explicou que havia sido abordada por três adolescentes e arrastada para um galpão enquanto estava em um parque perto de sua casa, com um amigo.
Os suspeitos a agrediram e “a forçaram a se submeter à penetração anal e vaginal e à felação, enquanto faziam ameaças de morte e comentários antissemitas”, acrescentou a fonte. Seu amigo conseguiu identificar dois dos agressores.
A adolescente foi atendida pelo corpo de bombeiros e transportada para a unidade médico-judicial de Garches, na região oeste de Paris. Os suspeitos foram levados perante um juiz de instrução na tarde de terça-feira como parte de uma investigação judicial sobre estupro e agressão sexual de uma menor de 15 anos, tentativa de extorsão, invasão de privacidade e ameaças de morte.
Os crimes de “violência e injúria” são “agravados pelo fato de terem sido cometidos porque a vítima pertencia a uma religião”, de acordo com a promotoria pública de Nanterre.
Na manhã de quarta-feira, o coletivo Nous Vivrons, criado após o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro, convocou uma manifestação em Paris às 18h30, pelo horário local, para “condenar o estupro antissemita dessa jovem”.   
‘Sórdido’
Em um comentário na rede X na noite de terça-feira, o presidente do Consistório Central, Elie Korchia, expressou seu “apoio a essa jovem vítima, de fé judaica, que sofreu estupro e agressão insuportável”, deplorando “um crime sexual sórdido e desprezível que nos comove profundamente”.
“Ninguém pode ser desculpado diante dessa prova sem precedentes de antissemitismo”, comentou o rabino-chefe da França, Haïm Korsia, no X, dizendo-se “horrorizado”.
Na mesma rede social, o Conselho Representativo das Instituições Judaicas na França (Crif) expressou sua “imensa emoção com o trágico estupro dessa jovem”, alertando que acompanha “todos os desdobramentos desse caso extremamente preocupante”.
“O estupro é uma ferramenta de destruição a serviço do ódio, e quando crianças estupram crianças, é também a sociedade como um todo que deve questionar sua responsabilidade diante da violência, do antissemitismo e da misoginia em ação em nosso país”, reagiu a filial francesa da Women’s Foundation, organização de defesa dos direitos das mulheres.
“É um ato desprezível, não podemos acreditar que ainda exista”, disse Jacques Kossowski, prefeito do partido de direita Os Republicanos, de Courbevoie. “O que eu espero é que os tribunais possam condenar firmemente esses agressores, independentemente de sua idade”, acrescentou.
Atos antissemitas disparam na França
Os atos antissemitas dispararam na França no primeiro trimestre de 2024, de acordo com dados do governo, que relatou “366 incidentes antissemitas” entre janeiro e março, um aumento de 300%, em relação aos primeiros três meses de 2023.
Em janeiro, o Crif relatou um aumento acentuado nos atos antissemitas na França, que quadruplicaram em um ano, passando de 436 em 2022 para 1.676 em 2023, com uma “explosão” após 7 de outubro e o ataque realizado pelo movimento islâmico palestino Hamas em Israel, e a reação israelense ao ataque.
Enquanto isso, ódio é instrumentalizado. Em plena campanha eleitoral para as eleições legislativas na França, alguns das principais lideranças políticas se manifestaram nesta quarta-feira sobre o caso. 
A líder do partido de extrema direita Reunião Nacional (RN), Marine Le Pen, se disse chocada e denunciou o “ataque antissemita e o estupro de uma criança de 12 anos” em Courbevoie, e continuou a denunciar o que considera como “estigmatização dos judeus pela extrema esquerda”. “Todos devem estar plenamente conscientes disso em 30 de junho e 7 de julho”, concluiu Marine Le Pen, referindo-se às datas das eleições legislativas antecipadas.
O líder do partido de esquerda radical, A França Insubmissa (LFI), Jean-Luc Mélenchon, denunciou o “racismo antissemita” e disse estar “horrorizado com (o) estupro” de uma menina de 12 anos. 
“Horrorizado com esse estupro em Courbevoie e tudo o que ele destaca sobre o condicionamento do comportamento criminoso masculino desde a juventude e o racismo antissemita”, declarou Mélenchon, que é regularmente acusado por seus oponentes políticos de comentários ambíguos sobre antissemitismo.
‘Que a raiva seja transformada em justiça’
O deputado François Ruffin, do mesmo partido, também denunciou na rede social o X (antigo Twitter) um “horrível estupro antissemita”.
“Esse crime odioso deve nos atingir no nível mais profundo, por causa do que ele revela: o machismo grosseiro de homens jovens para quem o corpo de uma mulher é algo que lhes pertence. E o antissemitismo, para quem o judaísmo é uma mancha, uma afronta à honra. Que a raiva seja transformada em justiça”, disse ele.
“Estou sem palavras diante dessa história de horror”, disse Marine Tondelier, líder dos ecologistas franceses, nesta quarta-feira. “O antissemitismo e a violência contra as mulheres são feridas abertas em nossa sociedade. Devemos enfrentar essa realidade e agir com determinação”, conclamou.
Na terça-feira, o primeiro secretário do Partido Socialista Francês (PS), Olivier Faure, condenou o “flagelo” do “ódio antissemita”. “A luta contra o antissemitismo deve ser travada sem fraqueza e sem trégua”, insistiu.
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