Gabinete de Bolsonaro contratou assessor de Castro que teria 'se voluntariado' para ser informante da Abin; Ramagem diz não lembrar


Informação consta de depoimento de Alexandre Ramagem à PF. Assessor ficou lotado no gabinete regional da Presidência da República até 2023, já no governo Lula. Ramagem e Castro (de branco) ao lado de Jair Bolsonaro
Reprodução/TV Globo
Um assessor do gabinete do então vice-governador do Rio de Janeiro Cláudio Castro foi contratado pelo gabinete pessoal do então presidente Jair Bolsonaro após se disponibilizar à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) como “colaborador” – ou, nas palavras da Polícia Federal (PF), “fonte humana”.
A informação consta no depoimento à Polícia Federal do ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem. O conteúdo foi divulgado peo Jornal O Globo – o g1 também teve acesso ao material.
O “recrutamento” de Carlos Alberto Viana Montarroyos consta nas perguntas feitas pela PF a Ramagem. O político foi ouvido pela PF no inquérito que investiga a existência de uma “Abin paralela”.
No depoimento, Ramagem foi questionado sobre o “recrutamento” de um então funcionário do governo do Rio de Janeiro para “obtenção de vantagens políticas em troca de cargo público no governo federal”.
Ramagem disse não se lembrar da ação, negou envolvimento em recrutamentos e disse que “não era usual” a prática apontada pela PF como “pagamento de fontes humanas por meio de cargos públicos federais”.
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‘Análise Primeiro Contato’
Os arquivos que tratam do tema foram encontrados pela Polícia Federal em dispositivos de Alexandre Ramagem, apreendidos após autorização judicial do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Os documentos, de dezembro de 2019, trazem informações sobre um homem chamado Carlos Alberto Viana Montarroyos.
Apontado no documento como “colaborador”, Montarroyos é identificado como assessor no gabinete do então vice-governador Cláudio Castro.
O documento tinha nome “Análise Primeiro Contato” e, segundo a PF, foi criado por um e-mail com o nome “aramagem”.
Imagens do documento foram anexadas pela PF no relatório do depoimento. Elas indicam que o “motivo da colaboração” de Montarroyos seria “conseguir um cargo junto ao grupo político vinculado ao Presidente da República.”
O material inclui ainda uma informação de que “durante a entrevista, [Montarroyos] deixou isso claro várias vezes, insinuando que poderia conseguir mais informações se estivesse com um cargo assegurado.”
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A Polícia Federal prossegue apontando o que seriam informações dadas pelo colaborador, mencionando integrantes do então governo de Wilson Witzel e do Ministério Público do Rio de Janeiro.
Uma das pessoas mencionadas é a promotora Simone Sibílio, que à época atuava nas investigações do assassinato da vereadora do PSOL Marielle Franco.
O candidato a colaborador teria inclusive informado que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, “iria assinar um acordo de delação envolvendo o nome do Presidente Bolsonaro e de seus familiares”.
O próprio documento, afirma que “no entanto, o colaborador não apresentou nenhuma materialidade, nem mesmo qualquer elemento que permitisse comprovar essa afirmação.”
Nomeação no gabinete pessoal do presidente
A PF aponta que, segundo fontes abertas, “o então Presidente da República teria nomeado o sr. Carlos Alberto Viana Montarroyos.”
Segundo o Diário Oficial do governo do RJ, Montarroyos ocupou o cargo de “Ajudante II” na vice-governadoria do Estado entre junho de 2019 e março de 2020.
Ele foi exonerado do cargo no dia 20 de março – dois dias após ter sido nomeado no gabinete regional da Presidência.
Montarroyos ficou no cargo federal até 13 de janeiro de 2023, quando foi demitido – já no governo Lula.
Durante este período, o GSI chegou a ser questionado pela Câmara dos Deputados quanto a sigilo imposto aos dados dos servidores lotados no escritório regional do Rio, mas alegou que apenas as informações de acesso ao local eram reservadas.
À Câmara, o GSI confirmou que Montarroyos era um dos servidores lotados no local.

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