Rodinei Crescêncio
O futebol amador vive o seu melhor momento na história de Mato Grosso. Não é atoa que os jogos servem de atrativos para diversas comunidades mato-grossenses. Em Cuiabá, por exemplo, as partidas têm movimentado as arenas dos bairros, atraindo bom público e contribuindo até com a economia local. Em entrevista especial ao , o professor André Lopes ressaltou pontos importantes do amador, que segundo ele, está vivendo uma evolução significativa dentro do estado.
Entre os assuntos destacados por André estão a realidade atual do futebol amador em Mato Grosso, as diferenças evidentes em relação ao profissional, além de fonte de renda dos atletas e o pouco apoio do poder público na categoria.
Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista
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História do futebol amador e a importância da categoria no mundo da bola?
Falar da história do futebol amador em Mato Grosso é necessariamente falar do futebol mato-grossense. Acredito que existem algumas ligações entre essas duas categorias, porque antes do Luverdense e Cuiabá, havia uma ausência da profissionalização no futebol estadual. Então um dos meios para que esses jogadores profissionais se mantivessem fisicamente financeiramente, era justamente estar disputando o futebol amador.
Creio que temos um grande divisor de água no futebol amador simbolicamente do ano passado para esse ano. Falo isso em relação ao show de pirotecnia, uso de fogos, preparação dos jogadores, fisicamente e mentalmente, e a toda estrutura que um CT consegue demonstrar.
Qual é a realidade do futebol amador hoje em Mato Grosso?
O futebol amador parece estar profissionalizando, conseguindo fazer o que o profissional não consegue, a exemplo do número de pessoas presentes nos jogos. A média de público nos campeonatos do futebol amador chega até 15 mil torcedores por partida. Esse ano tem sido a conciliação do que foi feito no ano passado. É um pouco redundante falar da importância do amador, porque diz respeito a essa junção com a comunidade. O amador é em várias instâncias um momento de lazer para as comunidades.
Rodinei Crescêncio
“O Cuiabá, por exemplo, em grande parte não consegue lotar a Arena Pantanal como um time do amador consegue nas arenas”
André Lopes
Quais são as diferenças mais evidentes entre o amador e o futebol profissional?
A única diferença do futebol amador para um time profissional de Mato Grosso é que no amador a comunidade consegue ter uma identificação com o jogador, diferentemente do profissional. O Cuiabá, por exemplo, em grande parte não consegue lotar a Arena Pantanal como um time do amador consegue nas arenas pelos bairros.
Essas diferenças já tiveram uma distância maior. Hoje no amador tem vários jogadores que meses atrás estavam disputando competições como o Mato-grossense, Copa FMF, até Série D. Hoje há uma diferença mais política do que de estrutura. Antes o jogador não tinha respaldo físico, fisioterapia, mas hoje já temos tudo isso.
A grande diferença, infelizmente, é que o futebol profissional mato-grossense não conseguiu profissionalizar como ainda deveria. Ele não consegue criar uma identificação, pra mim isso é um grande marco. Já o amador é muito forte aqui, mas porque existe uma identificação e conexão com o torcedor. As vezes posso colocar ingresso barato na Arena Pantanal, mas mesmo assim não vai ter um bom público como tem no futebol amador. Acredito que a grande diferença seja essa. O futebol amador conseguiu anteriormente que cada jogo se tornasse um evento. A comunidade precisa se sentir acolhida. Infelizmente entra a ausência do Estado nesse processo. É um Estado que não quer chegar às periferias, onde estão os times do Amador.
Principais times amadores de Mato Grosso?
Temos que fazer uma divisão. Existem as equipes tradicionais, como Liga e Pedregal. Hoje, falando em estrutura no geral, temos o Amigos WT, o Chapadão Araraúna, Pax Nacional. Esses times sempre estão chegando em finais e marcando presença nos grandes campeonatos.
Como é feita a preparação dos atletas para os jogos? É o mesmo processo de um time profissional?
Nem todas as agremiações têm a estrutura necessária hoje em dia, sobretudo porque envolve muito dinheiro, onde até há alguns representantes políticos que acabam ajudando, mas não são todos que dão essa força. Às vezes a gente sabe que um jogador está jogando de graça ou até mesmo por um prato de comida. Hoje, o elenco por exemplo, tem a presença de fisioterapia, preparador físico, academia, massagista, treinos semanais. Grande parte da garotada não quer jogar no Cuiabá ou até no Mixto, mas querem jogar nas agremiações de futebol amador, porque é mais acessível e não envolve empresários.
O futebol amador pode servir de fonte de renda para os atletas?
Sempre serviu. Acredito que esse símbolo de 2022 para 2023 é muito forte. O crescimento do futebol amador permite agora que os jogadores sejam assalariados, mas isso varia muito de time para time. Há evidentemente as agremiações grandes que têm o apoio de mercados, empresários, e outros patrocinadores. Mas hoje a maioria dos jogadores do futebol amador são assalariados sim.
Como é feito a organização dos campeonatos, logística, marketing, segurança?
Estamos vivendo a fase da profissionalização do futebol amador. É uma discussão muito grande, porque como profissional sem perder a essência dessa categoria? Existem várias figuras de representantes do amador em relação à organização, como por exemplo o Sapinho que organiza o S18, o Hélio que faz o Ralinha e outros. Temos uma estrutura bastante profissional, conseguimos observar, por mais que seja mínimo, cercas ao redor dos jogos, ônibus, hotel, alojamento, até ambulância e muita segurança. Tudo isso tem avançado no crescimento do futebol amador.
“Infelizmente temos pouco apoio, às vezes um ou outro nos ajuda”
André Lopes
Quem paga as despesas dos torneios? Tem apoio das prefeitura ou do governo?
Essa é a grande problemática, infelizmente temos pouco apoio, às vezes um ou outro nos ajuda, principalmente em época de eleição, quando as agremiações acabam servindo de benefício para eles. A ajuda para pagar as despesas vêm de diversas maneiras, o amador respira principalmente por meio da comunidade, que é apaixonada pelo futebol.
Hoje, você como dirigente e diretor de futebol, qual o nível de satisfação com o futebol amador?
Nunca antes tivemos tão satisfeito com o futebol amador como agora. Nunca tivemos tantas competições de alto nível como estamos tendo agora. Nunca antes tivemos jogadores de alto nível fisicamente como agora. Acredito que ainda há muito para caminhar, mas creio que nos últimos 10 anos a gente viveu o auge do futebol amador em vários níveis, como contribuição social, geração de emprego e outros meios. A gente sente a ausência do poder público nesse processo.