Francesa drogada pelo marido para ser violentada por estranhos fala pela 1ª vez: 'Estupraram-me com toda a consciência'


Nesta quinta-feira (5), quarto dia de julgamento de Dominique Pélicot e mais 50 homens, Gisèle falou sobre a descoberta dos crimes do marido e não poupou os homens que lhe abusaram. Gisèle Pélicot
Christophe SIMON / AFP
Gisèle Pélicot, a francesa que foi drogada pelo marido por 10 anos para que estranhos a estuprassem, falou pela primeira vez sobre tudo que sofreu nesta quinta-feira (5), no quarto dia de julgamento do ex, Dominique Pélicot, e mais 50 homens, supostos autores dos abusos.
“Assisti a todos os vídeos. Não são cenas de sexo, são cenas de estupro; dois, três deles sobre mim. Fui sacrificada no altar do vício. Quando vemos essa mulher, drogada, maltratada, morta na cama… Claro que o corpo não está frio, está quente, mas eu estou como se estivesse morta. Esses homens estão me contaminando, aproveitando-se de mim”, declarou.
Além do ex-marido, que já confessou ser culpado de todas as acusações e pode pegar até 20 anos de prisão, mais 50 homens, com idades entre 26 e 74 anos e perfis diversos, respondem pelos crimes que estão sendo julgados; 18 deles estão em prisão preventiva.
Na terça, ao serem questionados pelo juiz, 35 réus se declararam inocentes e 13, culpados. Um deles está foragido e outro não compareceu ao tribunal.
Ao ser questionada sobre os 35 que alegam inocência, Gisèle não poupou os abusadores e ressaltou o fato de nenhum deles ter denunciado o que ela vinha sofrendo.
“Que eles reconheçam os fatos, o contrário é insuportável. Que eles tenham, pelo menos uma vez na vida, a responsabilidade de reconhecer seus atos. Estes senhores permitiram-se entrar na minha casa, não me violaram com uma arma apontada à cabeça. Estupraram-me com toda a consciência. Por que não foram à delegacia? Até um telefonema anônimo poderia salvar minha vida”, afirmou.
A divulgação do caso ao público foi uma escolha de Gisèle, de 72 anos. Segundo um de seus advogados, ela renunciou ao seu direito ao anonimato para que “isso nunca mais aconteça” e porque um julgamento a portas fechadas era “o que seus agressores queriam”.
Gisèle, ao centro, ao lado dos 3 filhos e da nora
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Segundo a imprensa que acompanha o caso, durante todo seu depoimento, que durou duas horas antes de um intervalo para almoço, a francesa se mostrou firme. No entanto, ao juiz, ela admitiu:
“Dentro de mim sou um campo de ruínas. A fachada é sólida, mas por trás dela…”
Gisèle Pelicót descobriu os estupros no dia 19 de setembro de 2020. Após o marido ser flagrado filmando sob as saias de três mulheres em um supermercado, ela foi intimida a depor na delegacia e um policial a mostrou uma das imagens encontradas no computador de Dominique.
O casal ficou junto por 50 anos e teve três filhos e sete netos.
“Em 50 anos não tivemos uma vida linear, mas sempre nos mantivemos unidos. Problemas financeiros, problemas de relacionamento, problemas de saúde… Sempre apoiei meu marido. Tenho um sentimento de nojo, tínhamos tudo para sermos felizes, tudo. Não entendo como ele conseguiu chegar a isso”, lamenta.
Ex-marido e mais 50 homens são julgados por crime
Réus sendo orientados por advogada durante audiência
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A maioria dos 50 coacusados pelos crimes esteve apenas uma vez na casa do réu principal, na cidade de Mazan, no sul da França. Dez deles estiveram até seis vezes no local.
O marido da vítima não pedia dinheiro em troca. Os acusados não sofrem patologias psicológicas significativas, embora tenham um sentimento de “onipotência” sobre o corpo feminino, segundo especialistas.
Muitos afirmam que acreditavam estar participando das fantasias do casal. Segundo o marido, “todos sabiam” que sua esposa estava drogada sem o seu consentimento.
Segundo a investigação, “cada um dispunha de seu livre arbítrio” e poderia ter “partido” ao perceber a situação.
Francesa drogada pelo marido para ser estuprada por estranhos acompanha julgamento
Os investigadores identificaram 92 estupros desde 2011, quando o casal vivia na região de Paris, mas principalmente a partir de 2013, ao se mudarem para Mazan, até 2020.
O ex-funcionário da empresa de energia elétrica EDF administrava um ansiolítico forte à esposa e determinava que os homens, contatados no site de encontros coco.fr – já desativado – não a acordassem.
Também os orientava a não usar perfume ou tabaco, aquecer as mãos com água quente e tirar a roupa na cozinha, para evitar que fossem esquecidas no quarto.
Caroline sendo amparada pelo irmão, ao lado da mãe
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Filha foi às lágrimas ao ouvir que pai tinha fotos suas nua no computador
Dominique Pélicot também tinha fotos da filha, Caroline, nua, em seu computador. A revelação ocorreu na terça-feira (3), segundo dia de julgamento dele em Avignon, no sul da França, e levou Caroline aos prantos.
Segundo a imprensa, que acompanha o caso, ela abandonou a sala de audiência tremendo e às lágrimas, acompanhada dos dois irmãos, e só retornou 20 minutos depois.
A mãe dela, Gisèle, permaneceu durante todo o relato dos fatos no local. À sua frente, o ex-marido e principal agressor parecia impassível enquanto os crimes eram narrados.
As fotos foram encontradas no computador de Dominique, em uma pasta intitulada “Em volta da minha filha, nua”.
Ao jornal “Le Parisien”, esta semana, Caroline confessou seu medo de que o pai também pudesse ter convidado homens para estuprá-la depois que soube da foto em que aparece com “a calcinha de outra pessoa”:
“Estou convencida de que fui drogada, mas ele nunca vai admitir”.
Protesto na porta do tribunal
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