Secom-MT
A falta de mão de obra e de profissionais qualificados para o trabalho no campo é um desafio enfrentado por 70% dos produtores rurais mato-grossenses, aponta uma pesquisa realizada pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MT), apresentada na última semana. O estudo é a primeira edição de um levantamento que traça o perfil do produtor rural no estado e os gargalos existentes.
Segundo a pesquisa, apenas 9,1% dos entrevistados enfrentam baixa dificuldade para encontrar mão de obra – e a situação se agrava ainda mais quando o produtor procura por profissionais qualificados.
“O principal desafio do estado é que nós estamos vivendo um pleno emprego. O estado tem crescido muito nos últimos anos e a disponibilidade de mão de obra tem reduzido. Os produtores acabam tendo uma dificuldade, às vezes brigando por causa desses espaços, buscando a mão de obra de um outro produtor, de uma outra empresa ou até mesmo importando pessoas de outras regiões para conseguir ocupar todas as vagas necessárias para operar”, analisa o superintendente do Imea, Cleiton Gauer.
Montagem Rodinei Crescêncio/ Reprodução Imea
Conforme a pesquisa, 36% dos produtores indicaram a necessidade de operadores de máquinas, evidenciando o problema de falta de mão de obra no campo, tendo em vista que esse é um profissional crucial para o desenvolvimento das atividades. Grande parte dos produtores que citaram esses profissionais foram agricultores. Vaqueiros e profissionais de campo também foram mencionados por 20% e 10% dos entrevistados, respectivamente, indicando um gargalo na disponibilidade de trabalhadores para executar essas funções em Mato Grosso.
“Profissões como vaqueiros têm sido cada vez mais difíceis de completar e preencher as vagas, visto que temos uma migração. As pessoas não querem mais ficar no campo, buscam outras oportunidades. No entanto, o produtor precisa dessas profissões para operar e acaba sendo difícil de encontrar. Além disso, vivemos mudanças tecnológicas e outras oportunidades têm aberto o leque de oportunidades e novos mercados. Então, o produtor vive esse desafio e não briga somente com a mão de obra de dentro do campo, mas dentro da cidade, com novas indústrias ou o setor da construção civil”, afirma Cleiton.
Além de operador de máquinas e de vaqueiros, há também demanda de profissionais do campo, marceneiros, mecânicos, profissionais para serviço de inseminação artificial, técnicos de armazém, cargos administrativos e financeiros emotoristas, entre outros – veja o quadro abaixo:
Reprodução Imea
Em função da dificuldade em encontrar mão de obra no estado, 29% dos produtores responderam que têm funcionários fixos que vieram de outros estados brasileiros.
“Temos visto realmente o estado como um todo e o setor criarem a base para importar a mão de obra de outras regiões do país. Os produtores têm adotado essa estratégia, além das estratégias de competição financeira. Então, seja por salário, seja por comissão, movimentação, tem surgido essa estratégia para o produtor tentar reter essa mão de obra e até mesmo buscar a pessoa de fora para atender essa demanda que existe na fazenda”, pontua o superintendente do Imea.
Reprodução Imea
Falta de qualificação
De acordo com o levantamento, o maior desafio enfrentado em relação à mão de obra é a necessidade de qualificação técnica, citado por 57% dos produtores. Isso evidencia a importância da formação e qualificação técnica dos funcionários para atender às demandas do setor, que está cada vez mais tecnificado.
“Temos visto os produtores cada vez mais utilizando telemetria, as máquinas estão cada vez mais conectadas. Às vezes há o centro de controle dentro da propriedade pra tocar o uso de drones para pulverização, e mapeamento também tem aumentado nos últimos anos. Os níveis de gestão acabam sendo aprimorados. Esse cenário acaba aumentando a demanda por outras profissões que até então não eram necessárias. Um exemplo é o técnico de agricultura de precisão, um perfil de mão de obra que não aparecia muito nos nossos levantamentos e agora surge como relevante, representando quase 5% do recorte”, explica Cleiton.
O estudo mostrou que o uso de drones na propriedade, por exemplo, já é adotado por quase 20% dos produtores, principalmente na agricultura. Desta forma, o estudo aponta para a necessidade de investimento na formação de novos profissionais, somado à demanda para qualificar os trabalhadores que já estão no mercado de trabalho, objetivando superar os desafios enfrentados pelos produtores.
Reprodução/Aegro
Resistência dos produtores
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Vilmondes Tomain, explica que ainda há alguns desafios enfrentados pelas próprias entidades, como a resistência do produtor em conceder o funcionário para a capacitação nos centros de treinamentos.
“É difícil para o produtor parar uma atividade para qualificar o funcionário, principalmente quando está dentro de uma safra. As distâncias também do estado precisam ser levadas em consideração. Temos três centros de treinamentos, em Sorriso, Campo Novo do Parecis e em Rondonópolis. Então, para disponibilizar esse operador para ir até esse centro, existe uma certa dificuldade. A propriedade rural é muito dinâmica no nosso estado. Tem a safra de soja, depois do milho ou algodão e também tem a pecuária. As atividades dentro fazenda não param, funcionam praticamente 12 meses por ano”, explica.
Rodinei Crescêncio
Vilmondes Sebastião Tomain, presidente da Famato
Dessa forma, ainda há essa dificuldade para promover a maior qualificação técnica, principalmente em regiões mais distantes. “Não é igual para nós da parte administrativa, que retirar alguns funcionários não gera um problema. No campo, o operador não pode sair na época da colheita, o cara que faz a pulverização não pode sair na época do desenvolvimento da planta, existem essas situações. Mas qualificar é importante, melhora a rentabilidade, a produtividade, melhora o resultado, pois quem faz o trabalho no campo é o colaborador”, pontua o presidente da Famato.
“Precisamos mostrar que esse é um mercado importante, mostrar o agro como uma oportunidade de trabalho e que é diferente do que era no passado, árduo, sofrido”
Cleiton Gauer, superintendente do Imea
Estratégias adotadas
Segundo as entidades, estratégias vem sendo estudadas e trabalhadas para atrair mais profissionais e qualificar melhor os já disponíveis.
“Já vimos alguns resultados, o produtor bonifica mais, dá condições, tem estruturas de moradia dentro da propriedade. Penso que outro passo é comunicar mais. Precisamos mostrar que esse é um mercado importante, mostrar o agro como uma oportunidade de trabalho e que é diferente do que era no passado, árduo, sofrido. Hoje há mecanismos de tecnologia e muitas oportunidades”, diz Cleiton.
A presença ou ausência de bonificações, além dos salários, também pode influenciar a satisfação e retenção de funcionários nas propriedades, conforme apontou a pesquisa. Assim, 47% dos produtores rurais bonificam seus funcionários além da remuneração mensal.
“Estamos buscando esse diálogo junto ao próprio Governo para buscar meios, mecanismos para atrair pessoas que venham de outros estados para cá. A remuneração do campo é uma remuneração muito boa e competitiva com o setor urbano, tem alguns benefícios que já foram identificados também, porque hoje proprietário bem sucedido da atividade rural distribui o resultado para poder dar segurança e não perder o bom funcionário”, conclui Vilmondes Tomain.