O problema da falta de areia para retirada do Rio Cuiabá é um problema que está escancarado desde a construção do Lago do Manso e que precisa de solução imediata, pois tem causado impacto ambiental, social e econômico. A análise é feita pelo geólogo e pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Caiubi Kuhn, que afirma também que esse problema encarece o preço da areia no estado, impactando na construção civil.
Secom-MT
“Não é um problema que nasce agora. Quando foi construído o Lago do Manso, já sabiam que a areia iria ficar lá, mas nada foi feito. Estamos há muito tempo sem nenhuma medida ser tomada. A falta de areia e retirada da pouca que existe no Rio Cuiabá acaba impactando o Pantanal. Além disso, há o impacto social, já que a há o aumento do custo dessa areia, essencial para o desenvolvimento para Cuiabá e da região metropolitana”, afirma.
“É complicado irmos para discussões (sobre construção de PCHs) sem ter estudos feitos, sem ter a política de recursos. O Manso foi construído sem estudo de impacto no fluxo de sedimento e olha no que deu”
Segundo o geólogo, a situação mostra a importância das políticas de recursos minerais. “Quando falamos dragas, estamos falando de recursos para construção civil, para construir casas. Antes, quando não tinha o Lago do Manso, a areia daquela região chegava em Cuiabá em um volume alto. Os mais antigos falam em praias de água doce no Rio Cuiabá no Dom Aquino, que o pessoal jogava futebol na praia. Hoje não tem mais essas praias, pois essa areia está no Lago do Manso”, explica.
A redução da disponibilidade de areia levou ao encarecimento do material.
“A tendência é só diminuir a quantidade e aumentar o preço, porque a areia que estava no caminho do rio já passou ou está terminando de descer, não vindo mais areia dessa região. É preciso buscar soluções para isso e é uma discussão ampla que precisa ser feita por vários setores”, pondera.
Segundo especialista, quando uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) é construída torna-se comum que a areia fique barrada nela. Dependendo do tamanho do reservatório, a areia não atravessa esse reservatório, o que impacta ao longo do canal do rio e acaba impactando a população que precisa dessa areia. Por isso é importante ser discutido com a população a decisão dessas construções, pois qualquer intervenção no meio tem resultados”, pontua.
Segundo Caiubi, em alguns casos, a construção de usinas pode não criar um impacto grande ao longo da bacia. “Agora na Bacia do Rio Cuiabá especificamente a construção do Manso já impactou muito o fluxo de sedimento, e a construção de outras barragens impactaria mais. E é complicado irmos para discussões sem ter estudos feitos, sem ter a política de recursos. O Manso foi construído sem estudo de impacto no fluxo de sedimento e olha no que deu”, critica.