Explosão Solar: há razão para tanto medo?

Na noite do dia 21 para 22 de fevereiro, duas poderosas explosões solares foram captadas por instrumentos espaciais e terrestres, que as classificaram como um surto de classe X1.8 às 19h07 (hora de Brasília) no dia 21, e outro de classe X1.7, às 2h32 do dia 22. Consideradas as mais fortes que ocorrem em nossa estrela, elas podem também ter impactos na Terra.

A Agência Espacial Europeia (ESA) publicou em seu site que “essa explosão não foi associada a ‘Partículas Solares Energéticas’ (ESP) ou a uma ‘Ejeção de Massa Coronal’ (CME)”. No entanto, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA) emitiu, no dia 23, um alerta para uma emissão de rádio solar, forma de radiação eletromagnética gerada por processos de aceleração de elétrons na coroa do Sol.

Na manhã do dia 22, começaram a pipocar, em várias regiões dos EUA, interrupções generalizadas de telefonia celular das companhias AT&T, Verizon e T-Mobile, impedindo chamadas e mensagens de texto. No entanto, o fenômeno, que em seu pico chegou a afetar 70 mil usuários, não foi claramente atribuído às explosões, principalmente depois que a AT&T reconheceu que o problema foi causado por problemas de software, segundo a Reuters.

Alerta nos EUA: o que acontece durante uma explosão solar?

O comunicado oficial da NOAA fala em "FORTE Evento de Explosão Solar".O comunicado oficial da NOAA fala em “FORTE Evento de Explosão Solar”.Fonte:  NOAA 

Explosões solares tem início dentro da “sopa quente” que constitui o plasma do Sol, quando partículas carregadas se chocam, formando intensas linhas de campo magnético invisíveis que se cruzam e se embaraçam. Quando esses campos se realinham de maneira repentina em regiões ativas do Sol, onde o campo magnético é mais forte e complexo, geram uma enorme quantidade de energia.

Essa gigantesca liberação de energia aquece o plasma a milhões de graus Celsius, e acelera ainda mais as partículas, gerando radiação eletromagnética. Não se trata, portando, de uma explosão física no sentido tradicional, que se propaga como uma onda de choque pelo espaço, mas um verdadeiro “bombardeio” de raios-X, raios gamas, radiação ultravioleta, ondas de rádio e, eventualmente partículas carregadas, viajando quase à velocidade da luz.

Esses “flares”, como chamados em inglês, principalmente as erupções de classe X, são extremamente poderosos. A mais forte já observada até hoje, o chamado Evento Carrington de 1859, pode ter liberado uma energia equivalente a dez bilhões de megatons de TNT explodindo. A ejeção da massa coronal (CME), que leva quatro dias para chegar à Terra, chegou em 17 horas, trazendo um caos para os sistemas telegráficos da Europa e EUA.

Deveríamos nos preocupar com uma explosão solar?

É preciso deixar claro que a maioria das erupções solares que ocorrem não atingem nem de perto a magnitude da Carrrington, que causou auroras (sim, aquelas luzes verdes do norte) em várias partes do mundo. Mas, mesmo menores, podem trazer à Terra essas perigosas nuvens de plasma (CMEs) que nos envolvem, com potencial para perturbar eletrônicos. Mas são, geralmente, perturbações sutis, sem impacto importante em nossas vidas.

Quanto ao possível efeito dessas erupções e partículas magnéticas em nossos corpos, ele é inexistente, enquanto estivermos na superfície da Terra e, portanto, protegidos pela nossa poderosa magnetosfera, o campo de força que nos protege, e a toda a vida no mundo, há bilhões de anos, deste que o nosso planeta e o Sol surgiram.

Logicamente, essas partículas de energia muito alta, como as trazidas ultravelozmente pelas CMEs, seriam perigosíssimas, e até fatais, para seres humanos que estivessem cumprindo missões na Lua ou em Marte, por exemplo. Pois podem causar envenenamento por radiação.

Entretanto, em alguns locais, como Estados Unidos e Europa, pessoas estão com receio do que pode acontecer, como é o caso da TikToker que publica conteúdos no @Californices. Confira:

@californices? original sound – californices

Tempestades solares trazem algum risco para nossas tecnologias?

Quando uma CME chega à atmosfera da Terra, ela perturba o nosso campo magnético, gerando aqui o que chamamos de tempestade geomagnética. Mas seus efeitos não são necessariamente notados pelos seres humanos, a não ser que ocorram as brilhantes auroras, pois, como o nosso campo magnético é mais fraco nas regiões polares, as partículas carregadas do Sol se chocam com átomos e moléculas da atmosfera terrestre.

Quanto aos temidos impactos em equipamentos tecnológicos, esses foram moderados, mesmo em explosões severas já ocorridas. Segundo o chefe de investigação ambiental espacial da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, Sean Elvidge: “Não consigo pensar em nenhum impacto dos produtos eletrônicos de consumo que fosse sequer possível”, disse ele à Scientific American.

As ameaças às redes elétricas e cortes generalizados de energia, outra ameaças citadas constantemente em tempestades magnéticas, é pouco provável. A consultora de clima espacial, Erika Palmerio, heliofísica da empresa Predictive Science exemplifica: é como seu computador ser atingido por uma partícula forte e fritar. “Mas obviamente as probabilidades são muito baixas” afirma ela à Scientific American.

É possível prever e se preparar para tempestades solares?

Os eventos solares com potencial para nos afetar ocorrem na face do Sol voltada para a Terra. Os eventos solares com potencial para nos afetar ocorrem na face do Sol voltada para a Terra. Fonte:  Centro de Previsão do Clima Espacial dos EUA 

Para prever novas explosões solares, e ajudar à indústria de energia elétrica a se preparar para mitigar seus impactos, os Satélites Ambientais Operacionais Geoestacionários (GOES), operados pela NOAA, monitoram continuamente o Sol. Quando ocorre alguma tempestade solar com potencial de afetar a Terra, esses operadores a detectam, pois, nesse caso, o evento ocorre no lado do Sol voltado para o nosso planeta.

Quando isso acontece, eles notificam os engenheiros de redes elétricas, para que eles possam adotar estratégias de redução de impactos, como diminuir a produção de energia para proteger os transformadores ou disponibilizar mais equipamentos de backup.

As CMEs, por exemplo, são mais fáceis de prever e levam vários dias para que a bolha de plasma chegue à Terra. Assim, é possível que, antes da sua chegada, os satélites desliguem brevemente seus sistemas para ficarem em segurança. Da mesma forma, com a possibilidade de serem alertadas previamente, as empresas de eletricidade poderiam reconfigurar suas redes com aterramento extra. E assim por diante!

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