Eventual vitória de Milei pode impactar relação com Argentina, mas 'rede de interesses' falará mais alto, avaliam fontes do Itamaraty


Candidato populista que se define como libertário disputará neste domingo (19) segundo turno da eleição presidencial contra Sergio Massa, atual ministro da Economia. Argentina é o principal parceiro econômico do Brasil na América do Sul. Javier Milei e Sergio Massa, candidatos à presidência da Argentina
Alejandro Pagni, Luis Robayo/AFP
O governo brasileiro, através do Itamaraty, analisa os possíveis cenários de relação com a Argentina após as eleições presidenciais do país marcadas para o próximo domingo (19).
As campanhas eleitorais de Sergio Massa, candidato peronista e atual ministro da Economia da Argentina; e de Javier Milei, candidato de extrema direita, têm sido pautadas principalmente pela questão econômica do país.
As negociações futuras com o país vizinho – bilaterais e em bloco – são projetadas com cautela pelo governo brasileiro.
Interlocutores do Itamaraty ouvidos pela GloboNews afirmam que “existe uma rede de interesses entre os dois países que independe dos governos de turno” e que “certas questões fazem parte das relações de Estado”.
Como pano de fundo das declarações das fontes do Ministério das Relações Exteriores, estão as ameaças de possível saída da Argentina do Mercosul, feitas ao longo da campanha pelo candidato Javier Milei.
Milei, que foi o segundo colocado no primeiro turno das eleições, deu declarações ao longo dos últimos meses afirmando que o Mercosul – bloco fundado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai – não deveria ser fortalecido por ser um “fracasso”.
O candidato populista que se define como libertário também disser contra a adesão de seu país ao Brics – bloco que inclui hoje Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e pode receber, além da Argentina, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Irã.
Fontes do Itamaraty também lembram que até mesmo o Uruguai já ameaçou deixar o bloco sul-americano, mas, na análise do Itamaraty, essa “é uma decisão que tem custo interno” e que faria setores econômicos reagiriam.
Apesar dos discursos, a diplomacia brasileira entende que uma eventual eleição de Milei não deve resultar no fim das relações entre os dois países, especialmente as comerciais. A Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos e da China, e o principal parceiro econômico do Brasil na América do Sul.
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Mercosul-União Europeia
Entretanto, um dos pontos de atenção do Ministério das Relações Exteriores é a possibilidade do resultado na Argentina impactar as negociações do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.
O avanço das tratativas entre os dois blocos para concluir o que se arrasta há mais de 20 anos é uma das prioridades do governo brasileiro, que enxerga nas últimas semanas de 2023 um momento-chave para o sucesso da empreitada.
Na avaliação o Itamaraty, interlocutores do governo brasileiro têm recebido sinais para tranquilizar o país. “Há pessoas da campanha do Milei que mandam sinais de que é para o Brasil ficar tranquilo em relação às questões bilateral. Mas se tratando da personalidade, tudo é possível”, ressalta um diplomata ouvido pela GloboNews.
Milei é crítico do governo Luiz Inácio Lula da Silva e já classificou o petista como “socialista com vocação totalitária”. Já o candidato peronista Sergio Massa é alinhado ao governo do petista, e tem o apoio do atual presidente Alberto Fernández, considerado um amigo de Lula.
No ultimo debate presidencial entre Massa e Milei, a relação com o Brasil foi um dos pontos de discussão. Massa acusou Milei de querer romper relações com país.
“Você faz parte de um governo em que [o presidente] Alberto Fernández também não falava com [o ex-presidente brasileiro Jair ]Bolsonaro. Então qual é o problema se eu falo ou deixo de falar com Lula?”, questionou Milei, após ser criticado pelo adversário por ter dito que não vai encontrar o petista caso seja eleito.
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‘Risco Milei’ antecipa cúpula do Mercosul
A posse do próximo presidente Argentino está marcada para o dia 10 de dezembro. Diante do cenário imprevisível com uma disputa apertada, segundo apontam as pesquisas eleitorais, o Brasil antecipou para o próximo dia 7 de dezembro, no Rio de Janeiro, a cúpula do Mercosul.
A data foi escolhida pelo governo brasileiro, que ocupa a presidência temporária do bloco, para que, além de questões logísticas, o compromisso aconteça antes da posse o novo presidente da Argentina.

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