Estudo aponta que 24 celulares são roubados ou furtados por dia em MT | …

Um celular foi roubado ou furtado a cada uma hora em Mato Grosso em 2023, aponta os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024. No total, foram 8,6 mil roubos e furtos do aparelho, sendo 24 por dia. Dos roubos, 52,4% aconteceram em vias públicas.

Segundo os dados, foram 2,3 mil roubados (quando a subtração é por meio de violência, a mão armada, em um assalto) e 6,3 mil furtados (sem emprego de violência ou sem a presença da vítima). Ou seja, foram em média 724 aparelhos subtraídos por mês.

“Fica nítida, portanto, a importância que os celulares passaram a ter na dinâmica dos crimes patrimoniais, não apenas pelo elevado número de crimes, mas porque eles são a porta de entrada mais fácil do crime organizado para uma série de outras modalidades delituosas que estão a financiar e aumentar o poder das organizações criminosas, a exemplo dos estelionatos e golpes virtuais”, diz trecho do estudo.

Rodinei Crescêncio

Perfil dos celulares roubados e furtados em MT, segundo Anu�rio de Seguran�a P�blica

De acordo com o levantamento, a marca mais visada pelos criminosos foi a Samsung, com 37,4% dos casos, Motorola com 23,1% dos registros, Apple com 25% e Xiaomi com 10%. No caso dos aparelhos da Motorola, por exemplo, verifica-se que sua participação no mercado nacional é maior do que sua participação entre os celulares subtraídos, indicando que este é um equipamento menos valorizado no mercado criminal.

Já os Iphones, da marca Apple, respondem por apenas 10% do mercado nacional, mas representam um em cada quatro roubos e furtos de celular no país. “O que, dito de outra forma, implica em reconhecer que usuários da Apple, talvez por ser uma marca com aparelhos mais caros, correm mais riscos de serem vítimas de roubos e furtos de celular do que em relação a outras marcas”, pontua o estudo.

Conforme o anuário, os celulares subtraídos são utilizados para fraudes bancárias e golpes, mas grande parte dos aparelhos tem como destino países da África como Angola, Guiné-Bissau, Senegal e Nigéria, dado que o bloqueio das operadoras brasileiras não funciona nestes países e os celulares podem ser revendidos e reutilizados. 

Essa é uma tendência que tem se consolidado em vários países do mundo e tem relação com a popularização dos smartphones. Um relatório da Interpol sobre as redes transnacionais de roubo e receptação de aparelhos celulares na América Latina mostrou que, em 2014, o faturamento chegava a U$ 500 mil dólares diariamente em uma rede que envolvia países como Brasil, Colômbia, Peru, Venezuela, Chile, Equador e México e, desde então, estes crimes só cresceram nos países da região.

“Assim como ocorre nos demais crimes patrimoniais, o roubo ou furto de celular é um crime de oportunidade, mas com a popularização destes equipamentos e seu elevado valor agregado se tornou altamente rentável para o mundo do crime focar sua ação na subtração destes dispositivos. O enfrentamento a este delito passa necessariamente pelo aprimoramento da investigação e da cooperação de esforços entre Polícia Civil e Judiciário”, diz outro trecho.

Apesar de alto número, com a taxa de 237,5 celulares roubados e furtados a cada 100 mil habitantes, o índice apresentou uma redução de 19,8% de 2022 para 2023 e é menor que o índice nacional de 461. Além disso, a taxa é a quarta mais baixa, atrás apenas da Paraíba (148), Rio Grande do Sul (159) e Mato Grosso do Sul (165). O número de roubos e furtos de celulares por 100 mil habitantes ficou bem longe da taxa dos estados que lideram o ranking, como Amazonas (1.075), Distrito Federal (908), Rondônia (866) e São Paulo (666).

Locais dos roubos e furtos

Reprodução/Anuário de Segurança Pública

Roubos de celulares por localidade, segundo Anu�rio de Seguran�a P�blica

Taxa de roubos de celulares por localidade, segundo Anuário de Segurança Pública.

Em Mato Grosso, os roubos aconteceram em 52,4% dos casos em vias públicas, enquanto os furtos foram em sua maior parte nos estabelecimentos comerciais (28%). Em seguida, os roubos aconteceram nas casas (18%) e estabelecimentos comerciais (16%), enquanto os furtos foram em casas (17%) e vias publicas (15%).

“É cada vez mais comum notícias sobre a atuação de gangues de bicicletas ou motos que tentam surpreender as vítimas quando elas estão utilizando seus aparelhos celulares nas ruas. Essa é uma tática que visa não só subtrair o equipamento mas conseguir acessá-lo desbloqueado, o que facilita a rápida invasão de aplicativos de bancos ou que permitam transferências ágeis de recursos.

Segundo o anuário, essa tática, tecnicamente, tem sido tipificada como furto qualificado e não como roubo, apesar de essa diferença legal não ser percebida pela população, que entende ambas as situações como violentas e profundamente invasivas.

Reprodução/Anuário de Segurança Pública

Furtos de celulares por localidade, segundo Anu�rio de Seguran�a P�blica

Taxa de furtos de celulares por localidade, segundo Anuário de Segurança Pública.

Mais furtos, menos roubos

O estudo identificou uma inversão na tendência de roubos e furtos de celular no Brasil, visto que até 2022, o roubo era a modalidade mais comum, mas a partir de 2023, há mais furtos de celular do que roubos. Entre 2018 e 2023, enquanto os roubos de celular tiveram queda de 21%, os furtos de celular tiveram crescimento de 13,7%.

Perfil dos roubos e furtos

No que diz respeito aos dias da semana, os furtos apresentam maior incidência nos finais de semana: sábados e domingos somam 35% dos registros. Os roubos, por sua vez, são mais frequentes entre terça e sexta-feira. Os roubos de celulares têm picos nos horários em que as pessoas estão saindo de casa para o trabalho/escola/faculdade – entre 5h e 7h – e quando retornam no final do dia, entre 18h e 22h. Já os furtos ocorrem principalmente entre 10h e 11h e a partir do meio da tarde, entre 15h e 20h, quando há menos pessoas circulando pela cidade.

Os dados indicam que pessoas mais jovens, adolescentes e jovens de até 29 anos sofrem mais com roubos do que com furtos de celular, mas a partir dos 40 anos os furtos se tornam prevalentes. Segundo o anuário, a análise das dinâmicas associadas aos furtos e roubos de celulares comprova a ideia de eles serem crimes de oportunidade e suscetíveis a diversas variáveis de local, horário, poder de compra das vítimas e tipo de dispositivo.

“Os roubos e furtos de celulares também parecem influenciados pelo baixo nível de letramento digital das vítimas e, em especial, pela baixa capacidade institucional do Estado, especialmente das polícias civis, em investigar tais ocorrências e punir seus responsáveis”, diz.

Dessa forma, de acordo com os especialistas, é importante que as forças de segurança pública coordenem esforços, a começar pela produção padronizada de dados e indicadores. “Os dados aqui trazidos mostram que, com planejamento e integração, é possível reduzir o volume de registros – lembrando que só uma parte do que de fato ocorre é registrado – e diminuir o peso crescente que esta nova modalidade delituosa tem no fluxo financeiro das organizações criminosas”, conclui o estudo.



Fonte