Enquanto imagens mostram candidato republicano pedindo para agentes de segurança esperarem gesto simbólico, líderes da campanha alertam a equipe republicana para evitar comentários públicos sobre o atentado. Analistas veem mais “profissionalismo” em iniciativas do partido. Veja as mudanças de estratégias política e de imagem de Trump
Após o atentado contra o ex-presidente Donald Trump no último sábado (13), os líderes da campanha do republicano, Chris Lacivita and Susie Wiles, enviaram à equipe um memorando pedindo que os funcionários evitassem fazer comentários públicos. O comunicado ressalta: “Em momentos de tragédia e horror, devemos ser resolutos em nossa missão de reeleger o presidente Trump.”
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Esta é a iniciativa de campanha mais recente para um reposicionamento da imagem de Trump desde as eleições de 2016 e 2020. Além de cuidados na internet, analistas destacam como Trump foge de “armadilhas” online e a influência de uma poderosa conselheira da campanha republicana.
Redes sociais
No comunicado enviado pelos republicanos nesta segunda-feira (15), os gerentes de campanha reconhecem a polarização política na eleição e pedem atenção em conteúdos da internet, condenando qualquer “retórica perigosa” publicada nas redes sociais.
No texto, os chefes pedem ainda discrição, para que a tentativa de assassinato do ex-presidente não seja tema de comentários dos membros. “Por favor, não comentem publicamente sobre a ocorrência de hoje”, diz o memorando.
Brian Winter, analista político e editor-chefe da Americas Quarterly, avalia que a equipe de Donald Trump tem feito uma campanha mais disciplinada em 2024, na tentativa de evitar “escorregões” e erros nas redes sociais.
Para o analista, a campanha dos republicanos está mais profissional. O candidato não deixou de fazer posts na internet, agora de forma massiva pela plataforma “Truth Social”. As publicações, no entanto, miram de forma mais objetiva ao público alvo e evitam conteúdos que podem se voltar contra ele.
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Susie Wiles, líder da campanha de Donald Trump nas eleições americanas de 2024, observa o candidato republicano durante discurso em 15 de janeiro de 2024.
AP Photo/Andrew Harnik
Susie Wiles
Considerada uma das principais armas contra o candidato democrata Joe Biden nessa corrida eleitoral, Susie Wiles enfrenta a terceira campanha ao lado de Trump – mas a primeira no posto de liderança.
Com mais de 40 anos dedicados a campanhas do partido republicano, Willes também é conhecida como a “organizadora do caos” e é nome fundamental no reposicionamento de Trump na corrida eleitoral.
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Em 2016, a estrategista de campanha ajudou Trump a vencer na Flórida, um “Swing State”, que pode ter vitória de ambos os partidos nas corridas eleitorais. Desde então, o estado se tornou republicano.
Além de pedir discrição da equipe de campanha de Trump sobre o atentado, o documento assinado pelos líderes republicanos também traz, assim como Biden, a mensagem de união: “É nossa esperança fervorosa que esse ato horrendo reúna nossa equipe, e de fato a nação, em unidade e devemos renovar nosso compromisso com a segurança e a paz para nosso país”.
Entenda a evolução das estratégias de campanha e de imagem de Donald Trump.
Globonews/Jacqueline Santiago
Foto histórica
O momento mais tenso da corrida eleitoral americana até agora está eternizado num registro histórico, que rodou o mundo após o atentado.
Logo após ser atingido de raspão pelos disparos na orelha, é possível ouvir que o presidente Donald Trump pede para que os agentes “esperem” no local. Em seguida, Trump ergue o punho direito para a multidão com o rosto ensanguentado e gesticula a palavra “luta” com os lábios.
Donald Trump ergue o punho enquanto é cercado por agentes do Serviço Secreto dos EUA após ser alvejado por um tiro na orelha em um comício eleitoral em 13 de julho de 2024.
AP Foto/Evan Vucci
Os apoiadores reagem à imagem simbólica e gritam para o republicano, com frases de apoio aos EUA. Somente após posar para o público, o ex-presidente deixa o comício escoltado por seguranças e recebe apoio médico.
Mesmo minutos após ser atingido, Trump entendeu a importância política daquele momento e qual narrativa poderia trazer a si. Além de vítima de perseguição jurídica em processos criminais, o republicano também pode ressaltar que sobreviveu a uma tentativa de assassinato.
Os republicanos já estabeleceram um discurso de Trump como vítima do extremismo, o que deve se fortalecer até a votação em novembro.
Em entrevista ao programa Em Ponto, da GloboNews, o professor de Relações Internacionais do IRI-USP, Kai Enno Lehmann, afirmou que os republicanos vão se aproveitar politicamente do ataque na corrida eleitoral, enquanto os democratas não acharam, até agora, uma narrativa alternativa que coloque em foco outras situações de violência política, como o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
Por outro lado, Donald Trump pode se tornar um herói e destacar a imagem de força e virilidade contra Biden. Lehmann destaca que a preocupação com a idade de Biden voltará à tona durante a corrida eleitoral, o que deixará um grande contraste com a imagem simbólica do republicano.
No comunicado de campanha, os republicanos exaltam a coragem de Trump: “A Convenção do RNC (Partido Republicano) continuará conforme planejado em Milwaukee, onde nomearemos nosso presidente para ser o candidato corajoso e destemido do nosso partido.”.
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