Keir Starmer, o líder do Partido Trabalhista, quase desistiu da política em 2019. Agora, ele é o favorito para se tornar primeiro-ministro do Reino Unido. Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista do Reino Unido, em fevereiro de 2024
Kirsty Wigglesworth/Ap
A Muralha Vermelha do Reino Unido é um conjunto de distritos na região central do norte da Inglaterra que, tradicionalmente, elege parlamentares do Partido Trabalhista (o vermelho é a cor do partido).
Por ser uma região com alta concentração de famílias da classe trabalhadora onde houve muita desindustrialização, políticos do Partido Trabalhista eram vitoriosos.
No entanto, em 2019, o maior rival dos trabalhistas, o Partido Conservador, ganhou em muitos desses distritos.
Com eleições gerais marcadas para o dia 4 de julho, o Partido Trabalhista tem chance de voltar ao poder depois de 14 anos, e reconquistar os distritos da Muralha Vermelha é essencial para isso.
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O líder político que precisará convencer os antigos eleitores e convencer os novos a votar nos trabalhistas é Keir Starmer, um advogado de 61 anos.
Na quarta-feira (22), o atual primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, dissolveu o Parlamento e convocou eleições antecipadas para o dia 4 de julho.
O próprio Sunak deve ser o candidato dos conservadores. Apesar de ser o atual primeiro-ministro, ele está em desvantagem: segundo as pesquisas de intenção de voto, o favorito, com mais de 20 pontos de vantagem, é Starmer.
O favorito que quase desistiu da política
Starmer é de uma família de trabalhistas —ele foi até mesmo batizado em homenagem ao fundador do partido, Keir Hardie—, na região de Surrey. Ele é graduado em direito pela Universidade de Leeds e fez pós na Universidade Oxford.
Ele trabalhou como advogado especializado em direitos humanos. Ainda no direito, ele foi membro do Ministério Público, tendo chegado até mesmo a ser diretor do órgão. Em 2014, ele recebeu o título de cavaleiro.
No ano seguinte, ele foi eleito para o Parlamento. Como parlamentar, ele foi porta-voz dos trabalhistas para temas ligados à imigração e também para o Brexit, a saída da União Europeia. Starmer assumiu a liderança do Partido Trabalhista em 2020.
O líder anterior, Jeremy Corbyn, era considerado mais radical. Ele deixou a presidência depois de uma derrota eleitoral significativa em 2019. Starmer é tido como um político mais de centro-esquerda do que Corbyn.
Em 2021, quando os trabalhistas perderam o distrito de Hartlepool depois de décadas, Starmer chegou a se questionar se deveria continuar na política, de acordo com a agência de notícias Reuters.
A derrota em Hartlepool foi um golpe para ele, segundo a biografia “Keir Starmer: The Biography”, e Starmer só seguiu na política depois de ser convencido disso pela esposa e por assessores.
Ele conseguiu mudar a cara do Partido Trabalhista: Starmer administrou o grupo com disciplina e proibiu que os parlamentares fizessem promessas sem orçamento para isso.
O político também abandonou algumas de suas ideias. Por exemplo, ele chegou a militar pela estatização de serviços concessionados, como água e luz, mas depois passou a defender que as empresas particulares teriam mais capacidade de atuar para reanimar a economia.
Agora ele é o líder de um partido que pode voltar ao poder e vai assumir um país que enfrenta problemas no serviço público de saúde e uma alta no custo de vida.
O que dizem as pesquisas
As pesquisas dão aos trabalhistas (centro-esquerda), liderados por Keir Starmer, cerca de 45% dos votos, quase o dobro dos conservadores (20% a 25%).
“Durante as próximas semanas, lutarei por cada voto. Vou ganhar a sua confiança. E vou mostrar-lhe que apenas um governo conservador liderado por mim, que não coloque em risco a nossa estabilidade econômica conquistada com tanto esforço, pode restaurar o orgulho e a confiança em nosso país “, disse Sunak.
Starmer, declarou, por sua vez, que a eleição geral é “uma oportunidade de mudança positiva”.
“Podemos acabar com o caos, podemos virar a página, podemos começar a reconstruir o Reino Unido e mudar nosso país”, afirmou.
Antecipação
As eleições deveriam ser marcadas para antes do final de janeiro de 2025 e, até o momento, Sunak havia se limitado a falar sobre eleições “no segundo semestre” do ano.
Mas uma série de boas notícias econômicas e o avanço do plano de expulsão de migrantes irregulares para Ruanda, teriam convencido Sunak a convocar o pleito.
Pouco antes da convocação, o National Bureau of Statistics anunciou que a inflação de abril caiu para 2,3% em relação ao ano anterior, o nível mais baixo desde julho de 2021, depois de atingir 11% quando o premiê chegou ao poder em outubro de 2022.
“Espero que o meu trabalho desde que assumi o cargo de primeiro-ministro demonstre que temos um plano e estamos preparados para tomar as medidas ousadas necessárias para que nosso país prospere”, afirmou ele. Sunak também disse que “os trabalhistas não têm planos” e, como resultado, “o futuro só pode ser incerto para eles”.
Vitória trabalhista nas eleições locais
Os conservadores sofreram sua pior derrota em 40 anos nas eleições locais no início deste mês, culminando com a vitória dos trabalhistas em Londres (com a reeleição do prefeito Sadiq Khan) e em outras grandes cidades, como Manchester, Liverpool, Leeds e Sheffield.
“Todos querem mudanças”, afirmou Samuel Sackie, contador entrevistado pela AFP nas ruas de Londres, apesar do fato de que os trabalhistas “não propõem realmente uma política diferente da dos conservadores”.
“Já estava na hora”, disse Stephen Mann, 55 anos, que trabalha no setor financeiro. “O governo atual não funciona mais, então pelo menos podemos avançar”, acrescentou.
Com um sistema de votação de maioria simples em cada um dos 650 distritos eleitorais do Reino Unido, a situação é complexa para os conservadores. Dos atuais 344 deputados, mais de 60 desistiram de se candidatar.
Montagem mostra Rishi Sunak e Keir Starmer
AP
Fonte