'É uma bobagem imensa', diz Lula sobre ausência de Milei no Mercosul


Presidente da Argentina desistiu de participar do encontro de líderes do grupo. Questionado sobre o discurso de Milei em um fórum conservador no Brasil, Lula disse que ‘não se interessa’ pelo que foi dito. Presidente Lula após Cúpula do Mercosul em Assunção, no Paraguai.
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comentou nesta segunda-feira (8) a ausência do presidente da Argentina, Javier Milei, na Cúpula do Mercosul em Assunção, no Paraguai. O argentino é o único chefe de Estado que não participou da reunião, e foi criticado pelos demais líderes.
Segundo Lula, a decisão de Milei de se ausentar do encontro é “uma bobagem”, mas não representa qualquer obstáculo para o desenvolvimento do bloco e para os benefícios dele para o país vizinho.
É uma bobagem imensa um presidente de um país importante como a Argentina não participar de uma reunião com o Mercosul. É triste, é triste para a Argentina”, declarou.
A fala de Lula ocorreu após a reunião do bloco sul-americano. Esta é a primeira vez que a Argentina não é representada pelo presidente do país no encontro. Em 2022, algo semelhante ocorreu com o Brasil. O então presidente, Jair Bolsonaro, faltou à cúpula e se dirigiu aos demais líderes por meio de um vídeo.
Lula diz ser ‘uma bobagem imensa’ ausência de Milei em encontro do Mercosul
“A ausência de um presidente não atrapalha se o país está presente. Quem perde não comparecendo não são os que vieram, é quem não veio. Quem não veio desaprende um pouco, não sabe o que está acontecendo, disse o petista.
Segundo Lula, o Mercosul vai “continuar trabalhando o fortalecimento do bloco com a Argentina”, porque os demais países-membros acreditam na importância da nação sul-americana para o sucesso do grupo.
“Se o presidente participa ou não, não interessa, o fato é que o povo da Argentina precisa do Mercosul”, seguiu o petista.
Fórum conservador
Javier Milei desistiu de participar do encontro e enviou a chanceler argentina Diana Mondino para representá-lo. No entanto, veio ao Brasil no último fim de semana discursar em um fórum conservador em Balneário Camboriú, ao lado do ex-presidente Bolsonaro. Ele não se reuniu com Lula.
Questionado sobre o evento, Lula disse que é o tipo de reunião que “não interessa”.
“No final das contas, o presidente da República perder tempo fazendo uma coisa de extrema direita é tão desagradável, antissocial, é tão antidemocrático. Não entendo o que as pessoas ganham participando nisso”, comentou.
Tanto Milei quanto Bolsonaro são críticos do Mercosul e de outros fóruns de debate internacionais. Durante a campanha, o líder argentino chegou a ameaçar a saída do país do bloco, e teceu críticas ao presidente Lula, chamando-o de “corrupto” e “comunista”.
Javier Milei da Argentina
Reuters/Via BBC
‘Feliz que golpe na Bolívia não deu certo’
Na entrevista, Lula também comentou sobre a viagem que fará a Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, para onde embarca nesta segunda-feira.
O petista afirmou que o Brasil quer fortalecer a relação com os bolivianos e citou o potencial do país vizinho na exploração de recursos minerais e de gás natural.
O presidente brasileiro disse ainda estar “feliz” porque o golpe militar na Bolívia não deu certo.
“A minha ida a Santa Cruz de La Sierra é um voto de confiança na Bolívia. Para dizer pro povo da Bolívia que o Brasil está junto. Estou muito feliz que o golpe não deu certo na Bolívia. Muito feliz com a manutenção do presidente Luís Arce. E vamos aguardar que o processo eleitoral defina quem vai ser o presidente da República. O que eu quero é paz”, afirmou Lula.
A situação política na Bolívia é mais um ponto de divergência entre Lula e o argentino Javier Milei. Para o presidente da Argentina, a ação política na Bolívia foi uma ação orquestrada pelo governo de Luís Arce para tentar melhorar sua popularidade.
‘Nacionalismo arcaico e isolacionista’
Mais cedo, durante o pronunciamento na reunião de cúpula, Lula fez críticas ao que chamou de “nacionalismo arcaico e isolacionista”.
“Não faz sentido recorrer ao nacionalismo arcaico e isolacionista, tampouco à justificativa para resgatar experiências ultraliberais que apenas agravaram desigualdades na nossa região”, declarou no discurso.
Lula faz críticas à posturas de isolamento dentro do Mercosul durante discurso
O chefe do Planalto também aproveitou a ocasião para defender grupo das críticas, e lembrar da importância da integração em um cenário global, apesar de eventuais divergências políticas dos chefes de Estado no poder.
“O Mercosul é resiliente e tem sobrevivido aos difíceis anos de desintegração. Pensar igual nunca foi critério para engajamento construtivo nas tarefas do bloco. A diversidade de opiniões, sem extremismos e intolerância, é bem-vinda”, seguiu.
Logo após a fala de Lula, o presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, reiterou a importância da presença dos presidentes para os debates conduzidos no âmbito da cúpula. Lacalle Pou é um político de direita.
“Não importa somente a mensagem. É muito importante o mensageiro e, obviamente, não menosprezo ninguém. Mas, se o Mercosul é tão importante, aqui deveriam estar todos os presidentes. Eu presto importância ao Mercosul. E se realmente acreditamos nesse bloco, deveríamos estar todos”, disse.

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