Annie Souza/Rdnews
Quinze crianças e adolescentes, que estão em tratamento no Hospital de Câncer de Mato Grosso, publicaram seu próprio livro e fizeram uma manhã de autógrafos nesta sexta-feira (10). Para as famílias desses pacientes, o projeto trouxe alegria e acolhimento durante o difícil processo de tratamento.
O projeto Estrela Literária foi realizado com a ajuda de duas professoras que atuaram auxiliando os “escritores mirins” a se expressar através das histórias. A professora conta que foi preciso adaptar e respeitar o tempo de cada um.
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Professora Aline Fabiane da Silva: projeto trouxe resultados positivos visíveis
“Para alguns, esse processo de escrever o livro foi confortável. Para outros, tinha que respeitar o protocolo clínico, tinha dias que não estavam bem. Foi tudo feito através de um aplicativo, que permitia que eles falassem ou escrevessem o que queriam contar. Lá, eles já viam como ficaria o livro e as imagens que eles desenhavam. Cada um decidiu escrever sobre o que mais gostava. Os mais adolescentes contaram sobre sua própria vida. Com o tempo, o resultado era visível: melhorava o humor, a autoestima, até a imunidade”, relata.
Esse foi o caso do Bruno Henrique Carvalho, de 13 anos. Ele está enfrentando a luta contra a leucemia desde dezembro de 2022. A mãe dele, Raquel Carvalho, conta que esse período tem sido o mais difícil.
“O primeiro ano foi o mais complicado. Tratamento mais pesado, as sessões de quimioterapia muito próximas uma das outras. Quando a gente descobre a doença, pensamos muito no tratamento em si, que já é doloroso. O projeto traz alegria, tira o foco do tratamento e traz para o mundo criativo, faz esquecer o mundo real e entrar para o mundo imaginário”, relata.
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Raquel Carvalho e o filho Bruno, de 13 anos: fase de luta contra a doença é a mais difícil e participar de projeto ajudou a passar pelo período
Agora Bruno está entrando na fase de manutenção e deve voltar à rotina normal no próximo ano, podendo voltar para a escola e desenvolver outras atividades.
“Então foi muito importante ele participar do projeto na fase mais difícil. Eu ver hoje o que ele fez é um orgulho tamanho que não tem explicação”, conta a mãe.
A Lívia Silva Peres, 7 anos, também faz tratamento contra a leucemia há dois anos. Ela resolveu contar a história de um gato e um cachorro que estavam à procura de um lar. A mãe dela, Jaqueline Andreia da Silva, afirma que escrever um livro trouxe leveza para os momentos de tratamento.
“Para ela foi divertido, maravilhoso, nesse momento de desconstrução, ter momentos leves. E agora está muito feliz de ver os livrinhos impressos, está se sentindo especial”, diz.
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Lívia Silva Peres tem apenas sete anos de idade e já se aventurou como escritora; mãe relata como projeto ajudou a filha a se sentir especial
Para o Pietro Alberguini, de 10 anos, o dia também foi especial. Ele luta contra a leucemia há pouco mais de um ano. No último ano, não pôde frequentar a escola e essa foi uma forma de matar um pouco a saudade da sala de aula.
“Ele ficou animado, escreveu, interagiu. O Pietro sente falta dos coleguinhas da escola, ele gosta de fazer atividades, então [o projeto] ajudou a matar um pouco a saudade. Quando ele falou desse livro, veio todo empolgado”, relata a mãe, Jael Alberguini.
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Para Pietro Alberguini, participar do projeto ajudou a matar um pouco as saudades da escola; ele luta contra a leucemia há pouco mais de um ano
Como gosta de animais, o garoto decidiu escrever o livro “O gato abandonado que se deu bem”.
“É a história do meu gato, o Negão. Foi bem legal”, disse Pietro, que acrescentou que já se sente um pouco escritor e esperava dar vários autógrafos.
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A psicóloga Erluce Delmondes afirma que o processo todo acaba sendo terapêutico
A psicóloga Erluce Delmondes afirma que o processo todo acaba sendo terapêutico.
“A gente trabalha as habilidades deles de escrita, observação, criatividade, e isso tudo tem um sentido muito grande, porque quando você está uma condição de fragilidade, de doença que pode te remeter a morte, as expectativas somem. Aí, quando voce coloca para a criança: ‘você pode ser um escritor’, ela pensa ‘olha, não vou morrer, nem tudo está acabado’. Traz esperança de vida e, através dos livros, eles se expressam”, explica.
Além de todo o processo de escrita, a manhã de autógrafos também teve trouxe um momento de orgulho para todos os pacientes.
“Eles se sentem especiais, protagonistas da história, pensam: ‘sou uma pessoa tão importante'”, finaliza.