Rodinei Crescêncio/Rdnews
Na última quinta-feira (14) o IBGE divulgou pesquisa do desempenho do PIB dos estados brasileiros em 2022. O estudo analisa também o comportamento da economia dos estados no período de 2002 a 2022. A pesquisa utiliza dados das Contas Nacionais e leva em conta a composição e evolução do PIB de cada estado a partir da compilação dos valores anuais da produção, consumo intermediário e valor adicionado bruto de cada uma das cadeias produtivas.
Nos dois cenários Mato Grosso destaca-se como o grande campeão de crescimento entre as 27 unidades da federação. De forma colateral, ainda ajuda a região Centro-Oeste a se consolidar como a que tem o maior dinamismo econômico do país nas duas últimas décadas.
Três estados da região centro oeste, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, consolidam-se como grandes produtores agropecuários do país e avançam em seus respectivos processos de industrialização. Cada um com suas idiossincrasias regionais.
Em Mato Grosso a aceleração industrial se dá nas cadeias de combustíveis verdes (etanol, biodiesel), alimentação e bebidas. Em Goiás destacam-se as cadeias das indústrias de alimentos processados, automotiva, farmacêutica, tratores, implementos agrícolas. Em Mato Grosso do Sul o destaque é o parque industrial de papel e celulose.
Segundo o IBGE, em 2022 a economia de Mato Grosso cresceu 10,4%, em comparação com 2021. Ficou atrás apenas de Roraima, cuja economia cresceu 11,3%, partindo de uma base comparativa baixa de 2021. No mesmo ano, o PIB do Brasil cresceu 3%. O bom crescimento do país e dos estados, que teve início no segundo semestre de 2021, demonstra a retomada da economia após a parada imposta pela pandemia em 2020.
Com PIB de R$ 256 bilhões, Mato Grosso subiu para a 10ª. posição no ranking nacional (IBGE, 2022) e elevou sua participação para 2,5% do PIB nacional.
No período de 2002-2022 o PIB nacional teve crescimento médio anual de 2,2%. No mesmo período o estado apresenta crescimento médio de 4,8% ao ano, confirmando o bom desempenho econômico das duas últimas décadas.
No quesito PIB per capita (valor monetário do PIB dividido pela população) Mato Grosso também apresenta performance excepcional. Em 2002, o estado ocupava a 11ª posição no ranking dos estados. Em 2022, com PIB per capita de R$ 69.839,00 pulou para a 4ª, ficando atrás apenas do Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo. O PIB per capita brasileiro é de R$ 49.638,29.
Nos dois períodos analisados, o setor agropecuário de Mato Grosso tem papel relevante no forte crescimento do PIB. Especialmente as cadeias produtivas da soja, milho, algodão e carnes (bovina, frangos e suína). Mas outros setores passaram a assumir destaque na tração da economia como as cadeias industriais de biocombustíveis (etanol de milho, biodiesel de soja), alimentação (processamento de carnes e cereais) e bebidas. Outro setor que assume mais protagonismo na economia local é o comércio amplo (atacado, varejo, veículos e autopeças) e serviços de reparação de veículos automotores (caminhões, maquinários agrícolas, veículos, motocicletas).
“Mesmo com governantes de visões desenvolvimentistas bem diferentes, Mato Grosso continuou sua trajetória de crescimento chinês em pleno cerrado brasileiro”
Vivaldo Lopes
Análise regressiva do desempenho da economia do estado (2002-2022) mostra que a sua dinâmica independe dos matizes ideológicos e orientação administrativa de líderes políticos nacionais e estaduais.
Nesse período, passaram pela presidência do país Fernando Henrique Cardoso, Luís Inácio da Silva, Dilma Roussef, Michel Temer, Jair Messias Bolsonaro. À frente da governança estadual tivemos Dante de Oliveira, Blairo Maggi, Silval Barbosa, Pedro Taques, Mauro Mendes. Mesmo com governantes de visões desenvolvimentistas bem diferentes, Mato Grosso continuou sua trajetória de crescimento chinês em pleno cerrado brasileiro. Tal evidência reforça a relevância do capital privado na economia do estado, de fatores competitivos próprios e necessidade de sinergias saudáveis entre políticas públicas assertivas e empreendedorismo privado.
O estado ainda sofre com chagas como a elevada desigualdade social, excessivo contingente de famílias que dependem de programas sociais de transferência de renda e cidades muito fragilizadas economicamente.
Entendo que, nestes gerais do cerrado mato-grossense, o grande desafio dos próximos anos é manter o robusto crescimento com sustentabilidade social e ambiental, o que vai melhorar a qualidade de vida da população.
Vivaldo Lopes é economista e escreve neste espaço às segundas-feiras