Embora muita coisa tenha acontecido em dois meses, política venezuelana neste fim de semana parece ter retornado ao status quo, em que Maduro parece forte e imóvel e oposição contempla as suas opções. Líder opositor venezuelano Edmundo González vota nas eleições presidenciais em Caracas, em 28 de julho de 2024
Leonardo Fernandez Viloria/Reuters
“No dia 10 de janeiro de 2025, o presidente eleito Edmundo González Urrutia tomará posse como presidente constitucional da Venezuela.”
Com essas palavras, a líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, reagiu à saída do país do candidato opositor de 75 anos, que estava sob uma ordem de prisão pelas autoridades. No sábado, a Espanha concedeu asilo político a González, candidato da oposição nas eleições de 28 de julho.
Logo após a votação, a oposição divulgou uma série de supostas atas de votação que indicariam que ele teria vencido com 70% dos votos. No entanto, o Conselho Nacional Eleitoral, órgão eleitoral da Venezuela e controlado por um aliado do presidente Nicolás Maduro, declarou o atual mandatário como vencedor, decisão ratificada pelo Tribunal Supremo de Justiça, instância máxima do Judiciário, também alinhado ao governo.
A saída de González tira da disputa aquele que muitos consideram o verdadeiro presidente eleito. A princípio, isso parece uma vitória para o chavismo. A vice-presidente Delcy Rodríguez afirmou que a saída de González foi permitida “em prol da tranquilidade e paz política do país”.
Por outro lado, a oposição vê o asilo político de seu candidato como uma jogada estratégica na luta para remover Maduro do poder.
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Machado, que permanece clandestina no país, transmitiu uma mensagem de esperança para os milhões que desejam mudança, afirmando que o presidente eleito deve tomar posse em 10 de janeiro.
A oposição espera que, até essa data, surjam condições para que Maduro ou algum dos grupos políticos e militares que o sustentam promovam uma transição em meio à grave crise econômica e social do país.
‘Até o final’
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Em sua mensagem, Machado reiterou o lema desta campanha: “Venezuelanos, esta luta é ATÉ O FINAL, e a vitória será nossa”.
Em uma coletiva de imprensa virtual na quinta-feira (5), a líder da oposição afirmou que, embora algumas mudanças não sejam visíveis, acredita que a comunidade internacional está aumentando a pressão sobre o regime, embora esta precise ser mais significativa.
Machado continua convencida de que há descontentamento dentro do círculo de Maduro.
A situação atual tem colocado o presidente venezuelano novamente sob os holofotes internacionais como um “ditador”, o que pode aumentar o isolamento do país e intensificar as sanções financeiras contra os líderes chavistas.
“O regime está muito preocupado porque sabe que perdeu toda a legitimidade dentro das Forças Armadas”, disse Machado.
Ela acrescentou que a oposição continua aberta à negociação, reiterando que não busca perseguição nem vingança contra os governistas.
A estratégia da oposição é combinar a pressão diplomática, mensagens conciliatórias para as Forças Armadas e protestos ocasionais nas ruas, com o objetivo de causar fissuras no governo.
Também conta com o apoio de países como os Estados Unidos, que têm o poder de impor sanções, e da Colômbia, que mantém canais de comunicação com o chavismo, para tentar influenciar uma mudança de posição por parte de Maduro ou seus aliados.
Manutenção do status quo
Apesar das afirmações de Machado, especialistas não veem sinais de que o bloco chavista esteja fragmentado ou à beira de uma rebelião interna, o que seria essencial para uma possível transição de poder.
“O chavismo está profundamente enraizado há 25 anos e está decidido a não ceder o poder, com altos custos de saída que nunca foram realmente negociados”, afirma Luis Vicente León, presidente da consultoria Datanálisis e professor da Universidade Católica Andrés Bello (UCAB) e do Instituto de Estudos Superiores de Administração, ambos em Caracas.
Segundo ele, o chavismo conseguiu manter sua unidade e apoio militar, apesar das dificuldades.
Após anos de perseguição e divisões internas, a oposição venezuelana está agora centrada em torno de Machado, que lidera um grupo diversificado de forças políticas.
Embora o desejo de mudança seja forte entre os venezuelanos, os partidos que os representam estão desgastados, perderam muitos de seus líderes e agora enfrentam o desafio de decidir o próximo passo.
As próximas eleições regionais, locais e legislativas estão programadas para 2025.
Após o ocorrido em 28 de julho, quando o Conselho Nacional Eleitoral perdeu credibilidade, a oposição precisa decidir se deve ou não participar dessas eleições, lembrando que a abstenção no passado levou à irrelevância política e ao desinteresse dos eleitores.
Luis Vicente León prevê que, a médio e longo prazo, haverá um aumento da apatia e a necessidade de novas negociações, não focadas na saída de Maduro, mas na preservação do país e de seu povo.
Se houver novas negociações, é provável que Maduro resista a reconhecer os resultados de 28 de julho, mas pode considerar outras concessões, como não perseguir opositores, libertar manifestantes presos ou implementar políticas econômicas que aliviem a crise.
Embora a oposição tenha demonstrado força organizacional e amplo apoio popular em 28 de julho, a saída de González parece ter trazido de volta um cenário inicial, sem muitas opções.
A oposição agora precisa pressionar a comunidade internacional para isolar Maduro e manter a pressão interna para que alguém dentro do chavismo quebre o status quo.
Faltam 123 dias para 10 de janeiro de 2025, e nesse tempo, qualquer coisa pode acontecer na política venezuelana.
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