Como essa empresa se transformou em uma 'fábrica' de milionários


Com o programa de compra de ações oferecido pela Nvidia e o avanço do mercado de inteligência artificial, funcionários da companhia conseguiram aumentar significativamente o patrimônio pessoal em pouco tempo. Sede da Nvidia, em Santa Clara, Califórnia, nos Estados Unidos
REUTERS/Robert Galbraith
O crescimento financeiro exponencial da empresa de tecnologia Nvidia não transformou somente a vida do fundador e CEO Jensen Huang, imigrante taiwanês que trabalhou como ajudante de cozinha.
Boa parte dos funcionários da empresa pegaram carona nesse crescimento e também enriqueceram. Como? É possível fazer essa leitura a partir de três pontos:
Uma enquete anônima sobre os salários dos funcionários;
A baixa taxa de rotatividade na empresa;
Um benefício para os funcionários que virou uma ‘mina de ouro’.
Contexto… Fundada em 1993 por Huang, a Nvidia é uma empresa dos EUA, voltada para a fabricação de chips para computadores pessoais. A explosão da demanda por chips usados para treinamento de inteligência artificial fez com que as ações da companhia subissem mais de 2600% nos últimos 5 anos — gigantes da tecnologia como Microsoft, Google, Amazon, Meta e Spotify são alguns dos clientes.
A pesquisa
Uma enquete realizada na plataforma Blind, popular site de comentários sobre empregos nos Estados Unidos, foi repercutida pela revista “Fortune” ao mostrar que funcionários da Nvidia podem ter construído um patrimônio milionário.
A pergunta “funcionários da Nvidia, qual é o tamanho do patrimônio de vocês?” obteve 3.148 respostas; 76% delas indicam a construção de uma fortuna superior a US$ 1 milhão, ou R$ 5,4 milhões na cotação atual do dólar. A Nvidia emprega 29.600 funcionários em todo o mundo.
Aqui, vale um alerta! Quem comentou sobre os ganhos nos fóruns o fez de forma anônima, sem assinatura — também não há uma confirmação oficial de que as pessoas que responderam trabalhem mesmo na empresa.
Em um comentário público na plataforma, uma pessoa que disse trabalhar na Nvidia declarou um patrimônio de US$ 3 milhões. Segundo ela, os ganhos dependem do nível dos cargos e, sobretudo, do tempo de casa — quanto mais longa é a carreira do funcionário dentro da companhia, maiores são as chance dele ter construído um patrimônio milionário.
A baixa rotatividade
Para além da pesquisa anônima, as pessoas que lá trabalham parecem não ter muitos planos de sair da Nvidia.
De acordo com dados financeiros da companhia para o ano fiscal de 2024, a taxa de rotatividade na Nvidia é inferior a 2,5%.
Isso significa que a esmagadora maioria dos colaboradores da fabricante de chips trabalham “na casa” há muito tempo, facilitando o caminho para a construção de patrimônios mais vultosos.
Segundo o Glassdoor, um site de recrutamento, os salários na Nvidia variam em função do cargo. Engenheiros sêniores da companhia pode faturar até US$ 300 mil anuais, ao passo que um especialista em cadeia de suprimentos ganha uma média salarial três vezes menor.
O benefício que virou uma ‘mina de ouro’
Tem pesquisa, tem a baixa rotatividade e tem, ainda, um terceiro (mas não menos importante) ponto para entender como a Nvidia pode ter virado uma “fábrica” de milionários. O que? Um cobiçado benefício empregatício, exclusivo aos funcionários da Nvidia.
É o plano de compra de ações (ESPP, na sigla em inglês) que a fabricante de chips oferece como benefício. Em seu site, a Nvidia afirma que o ESPP permite ao colaborador comprar ações da empresa a um preço descontado do mercado. Uma vez cadastrado no plano, o funcionário pode optar por deduzir de 1 a 15% do próprio salário para as aquisições.
Como o programa funciona? O plano estipula um preço de oferta, que é definido pelo preço de mercado do papel da companhia no primeiro pregão do segundo mês de benefício. Durante quatro intervalos, distribuídos na vigência de dois anos, os funcionários podem comprar as ações da Nvidia com um desconto de 15% em relação ao preço de oferta.
Esse benefício se provou decisivo para a construção de patrimônio dos funcionários da Nvidia, especialmente àqueles com mais tempo de carreira. Isso porque o boom de produtos relacionados à inteligência artificial (IA) fez com que as ações da produtora de chips de alta tecnologia subissem vertiginosamente nos últimos dois anos.
Por exemplo, um funcionário que tenha entrado no benefício de compra de ações em 2022 viu o papel da empresa sendo negociado a US$ 14 (comprado a US$ 11, considerando o desconto de 15%).
Nesses dois anos que se passaram, o ChatGPT e outras soluções de IA passaram a dominar a conversa dos mercados, privilegiando a posição da Nvidia como provedora de semicondutores de alta tecnologia. Resultado: hoje a big tech tem ações negociadas a US$ 103, uma alta de mais 1000%.
Carrões verde-limão
Com o dinheiro sendo despejado aos montes, carros de luxo se tornaram paisagem comum no estacionamento da sede da empresa em Santa Clara, cidade da Califórnia, nos EUA.
De acordo site Bloomberg, especializado em finanças, Porsches, Corvettes e Lamborghinis passaram a ocupar as vagas de modelos mais baratos. Alguns desses carros são até mesmo na cor verde-limão, em homenagem ao logotipo da companhia.
Para além da fama do seu CEO e os carros de luxo dos funcionários, a transformação da Nvidia em um “ícone pop” é sentida de maneira ampla no mercado financeiro dos Estados Unidos.
A divulgação do último resultado financeiro da companhia, ocorrida no último dia 28 de agosto, atraiu profissionais de Wall Street, como se o evento fosse a final do futebol americano, ou o show de uma grande estrela da música.
Algemas de ouro
Ainda de acordo com a Bloomberg, a despeito dos salários e benefícios atraentes, são frequentes as queixas sobre a cultura de excesso de trabalho e da forma como ele é cobrado na Nvidia — além da falta de tempo para usufruir dos ganhos financeiros.
Um ex-colaborador do suporte técnico para clientes corporativos relatou à publicação que costumava trabalhar sete dias por semana, frequentemente até a madrugada. Ele também mencionou que outros funcionários, especialmente do departamento de engenharia, trabalhavam sempre até mais tarde.
Em entrevista ao programa “60 minutes”, o CEO da Nvidia Jensen Huang reconheceu a sua fama não ser lá muito legal entre os funcionários. “Precisa ser dessa forma. Se você quer alcançar coisas extraordinárias, o caminho não é fácil”.
Já em um outro painel realizado em junho, Huang deu mais detalhes sobre o seu estilo de gerência, informando que prefere não demitir funcionários, mas sim “torturá-los” para que se tornem versões “melhores”.
“Eu costumava a limpar banheiros, e hoje eu sou CEO de uma companhia. Acredito que você pode aprender, dadas as condições para isso”, disse. “Então, eu prefiro torturar meus funcionários em direção à grandeza”, completa.
Quem é Jensen Huang?
Jensen Huang, o badalado CEO da Nvidia, nasceu na capital de Taiwan, Taipei, no ano de 1963. Durante parte de sua infância, viveu tanto em Taiwan quanto na Tailândia, até que seus pais decidiram enviá-lo junto de seu irmão para os Estados Unidos.
Sem saber falar inglês, os meninos foram recebidos pelos tios, também imigrantes, e matriculados no Instituto Oneida Baptist, em Kentucky, uma escola que mais se assemelhava a um reformatório. Após uma adolescência conturbada, Huang se mudou para o estado de Oregon, onde começou o curso de Energia Elétrica em 1980.
Durante os primeiros anos do curso, o jovem dividiu o tempo dos estudos com o trabalho de auxiliar de cozinha em um restaurante da rede Denny’s. Embora tenha assumido postos de trabalho em grandes empresas como a AMD, em seu LinkedIn, o trabalho no Denny’s consta como a única experiência profissional de Huang, além daquela que exerce atualmente na Nvidia.
Foi também durante os anos da faculdade que Hensen conheceu Lori, sua esposa, e os futuros sócios da Nvidia, Chris Malachowsky e Curtis Priem.
Após completar a graduação, Huang prosseguiu os estudos na Universidade de Stanford, onde obteve um mestrado em Engenharia Elétrica em 1992. Durante seu tempo na premiada instituição, ele trabalhou em várias pesquisas relacionadas ao desenvolvimento de tecnologias de computação gráfica e paralela.
Em 1993, Huang e seus dois sócios fundaram, enfim, a Nvidia. O propósito inicial da companhia era produzir placas de vídeo para computadores pessoais e profissionais.
Trinta anos depois, a empresa se transformou na principal provedora de chips de alta tecnologia, indispensáveis para a construção de modelos de IA que baseiam os novos produtos de companhias no Vale do Silício.
Com a multiplicação de valor da Nvidia, Huang viu sua fortuna pessoal explodir. Em 2017, a fortuna do executivo era avaliada em US$ 2,7 bilhões. Hoje, ela gira em torno de US$ 93 bilhões, um valor quatro vezes maior, de acordo com o monitoramento em tempo real da revista Forbes.
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