Candidatos ao comando da Câmara reforçam busca por votos e cortejam de Lula ao Centrão


Com decisão de Lira por apoio a Hugo Motta e nova aliança de Elmar Nascimento e Antônio Brito, eleição na Casa se volta para corrida pela obtenção de votos e pela simpatia do governo. A disputa pela presidência da Câmara dos Deputados entrou em uma nova fase, com os principais pré-candidatos disputando os votos dos deputados e o apoio dos partidos da Casa. O apoio do presidente Lula também é almejado, apesar de o governo dizer que não se envolverá.
A última semana foi marcada por demonstrações de força. Após o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sinalizar apoio a Hugo Motta (Republicanos-PB), os deputados têm se reorganizado para fazer frente ao agora favorito.
Antes, o esperado era que Lira apoiasse Elmar Nascimento (União Brasil-BA). Com a reviravolta, União e PSD se articulam para lançar uma candidatura única, formando uma aliança entre Elmar e Antônio Brito (PSD-BA), antes adversários diretos. Isso intensificou a corrida por apoios.
Deputados Elmar Nascimento (União – BA), Hugo Motta (Republicanos – PB) e Antonio Brito (PSD – BA)
Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados; Mário Agra/Câmara dos Deputados; Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Segundo apurou a GloboNews, se contar oficialmente com o apoio de Lira – que ainda não fez um anúncio público –, Motta poderá contar com os votos de PP e PL, além dos de seu próprio partido. Com isso, o deputado do Republicanos deve receber até 186 votos.
O próprio Hugo Motta, no entanto, diz já contabilizar até 320 votos. O deputado é visto como um dos herdeiros de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, e tem se articulado para reunir os votos do Centrão.
Já Elmar e Brito contabilizam o apoio de União Brasil, PSD, PRD, PDT, Avante, Solidariedade e a federação PSDB/Cidadania. As siglas contam com 155 votos.
Nesse cenário, os votos de dois partidos se tornam essenciais: MDB, com 44 deputados, e PT, com 68.
Importante: o voto para a presidência da Câmara é secreto. Por isso, candidatos sempre buscam uma margem de folga e não descartam a chance de “traições” de acordos nos momentos finais.
O poder de Lira e a disputa na Câmara
No MDB, há resistência em apoiar a nova frente, com Elmar e Motta. O partido faz parte de um bloco com PSD e Republicanos, mas quer manter ambos aliados.
A bancada da sigla ainda não definiu quem irá apoiar. No meio tempo, tenta persuadir o PSD a abdicar da candidatura de Brito. A presença do líder do MDB, Isnaldo Bulhões, no aniversário de Motta na última quarta-feira (11) foi simbólica do caminho que o partido pode tomar.
Busca pelo governo
Na tentativa de atrair o governo, Elmar se reuniu nesta semana com o presidente Lula. Também teve um encontro com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Brito também deve conversar com o Planalto.
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, durante reunião com Elmar Nascimento, pré-candidato do União Brasil à Presidência da Câmara
Gil Ferreira/SRI
A estratégia no momento é mostrar que uma chapa entre Elmar e Brito pode ser mais próxima dos interesses do governo do que Motta. Para isso, devem reforçar a aproximação do PL de Valdemar Costa Neto e Jair Bolsonaro e do PP de Ciro Nogueira com o candidato de Lira.
No caso do PL, o apoio a Motta já está consolidado. A moeda de troca é a primeira-secretaria, cargo estratégico nas relações de poder da Câmara.
Apesar disso, interlocutores do PT dizem que o partido, que conta com 68 votos na Câmara, deve fazer uma escolha mais pragmática. Os pontos importantes para a bancada são: a viabilidade do candidato, quanto de poder o partido terá com a nova presidência e o alinhamento com o governo Lula.
Leia também:
Bolsonaristas vão vincular sucessão da Câmara ao PL da anistia para golpistas do 8/1
Após reviravolta sobre sucessor de Lira, Lula diz que não tem candidato a presidente da Câmara
Aliança entre Brito e Elmar
Antes adversários, Brito e Elmar se aproximaram depois de Lira sinalizar apoio a Hugo Motta. A ideia dos partidos é apresentar uma candidatura única contra o candidato do atual presidente da Casa.
A aliança, no entanto, ainda está nos estágios iniciais. A decisão de quem será o candidato à presidência ainda não foi feita, e é possível que só se dê depois das eleições municipais.
Um dos motivos para isso é o esvaziamento de Brasília nas próximas semanas, que dificulta as negociações de apoios. O outro é a expectativa de informação sobre quem terá mais poder depois do resultado das urnas – até para que possíveis desistências no futuro custem mais caro.
Em geral, isso significa espaço na Mesa Diretora da Câmara e o comando de comissões importantes, como a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Uma das mais importantes comissões da Câmara, a Comissão CCJ da Câmara e Constituição e Justiça (CCJ) é uma moeda de troca comum nas negociações pelo comando da Casa.
Pablo Valadares / Câmara dos Deputados
A favor de Brito estaria o fato do nome do deputado do PSD ser mais próximo do governo Lula e poderia atrair apoios do PT e outros partidos, como PSB e PSOL. Por outro lado, uma chapa com Brito como o candidato tende a afastar possíveis apoios do PL.
Já Elmar teria mais facilidade para atrair nomes do PL, ainda que não tenha trânsito com governistas. A definição passará pela viabilidade de cada nome para derrotar Motta.

Fonte