Uma colaboração entre pesquisadores da Escola Politécnica Federal da Lausana (EPFL), Suíça e da Universidade de Bolonha, Itália, descreveu como o som produzido por estrelas vermelhas pode auxiliar na missão do Telescópio Espacial Gaia. O estudo foi publicado na revista Astronomy & Astrophysics.
Nada mais do que um coral de 12,5 mil vozes no céu tem contribuído para que a missão da Agência Espacial Europeia (ESA) obtenha sucesso em sua empreitada de mapear as estrelas da nossa Via Láctea.
A música que soa de dentro do coração de estrelas vermelhas e pequenos enxames pode contribuir para que as medidas realizadas por Gaia tenham ainda mais precisão, completando sua bela obra de arte em 3D. Saiba mais sobre como os pesquisadores conseguiram esse feito e como ouvir a música do universo pode ser o futuro da astronomia.
Gaia fez ao menos 1,8 bilhão de registros estrelares até outubro de 2023.Fonte: Getty Images
O mapa da Via Láctea
O Telescópio Espacial Gaia, da ESA, foi lançando ao espaço em 2013 com a missão de localizar e registrar estrelas da Via Láctea, formando um mapeamento tridimensional da nossa galáxia.
Ele utiliza a astrometria, medida de precisão em relação à posição e movimento dos corpos celestes, para registro das estrelas. Mas por mais precisa que essa medida possa ser, como ter certeza sobre ela? Outra medida comumente utilizada para ter certeza da posição de um orbe celeste, em especial as estrelas, é a medida de paralaxe.
Sabemos que a luz pode sofrer desvios no espaço devido à curvatura do espaço-tempo, além de outros aparatos interferentes, como a luz de outras estrelas, planetas pelo caminho, entre outros fatores.
A paralaxe tenta resolver o problema de desvio da luz, ao analisar a posição a partir de dois pontos de vista e faz uma triangulação para registrar o ponto exato onde o objeto pode estar. Todavia, ela ainda pode incorrer em pequeno erros, que ao se tornarem sucessivos, podem comprometer os dados. Mas há uma forma elegante de ter-se mais certeza sobre essas medidas, e ela pode estar na voz de gigantes vermelhas!
O som produzido por estrelas vermelhas pode auxiliar para medidas de distância mais fidedignos.Fonte: Getty Images
Astero… o quê?
Os pesquisadores da EPFL e de Bolonha utilizaram uma técnica conhecida como asterosismologia para escutar e estudar o som de 12,5 mil estrelas vermelhas espalhadas pela nossa galáxia.
As gigantes vermelhas são estrelas pulsantes, que variam sua emissão de luz em intervalos relativamente padronizados. Essas variações são captadas e transformadas em ondas sonoras. Cada uma possui um som único que fornece dados da sua posição, composição e até tamanho! Os autores do estudo utilizam como exemplo os instrumentos de uma orquestra.
Ainda que instrumentos de cordas toquem a mesma nota, você facilmente conseguirá distinguir entre um violino, uma viola e um contrabaixo. E se você pensou em placas tectônicas e geólogos quando leu asterosismologia, não está errado.
Já imaginou uma orquestra com mais de 12 mil vozes ecoando pelo universo!Fonte: Getty Images
Do mesmo modo que as vibrações do solo fornecem os dados sobre o estado do solo, profundidade e materiais que possam estar abaixo da superfície, essa forma de medida celeste também analisa esses dados, convertendo as vibrações de luz em som. A equipe relata que conseguiram ouvir a ‘canção’ das estrelas com até 15 mil anos-luz de distância de nós!
O gran finale
Após todo tratamento das vozes do coral de gigantes vermelhas, os pesquisadores comparam os dados fornecidos por Gaia em relação a essas estrelas e os dados obtidos no estudo. Os métodos se complementaram de forma excelente e, ouvir as estrelas se mostrou um excelente caminho para que os dados possam se confirmados como muito precisos.
Com isso, o mapa tridimensional de Gaia ganha um upgrade de fidedignidade. Mas infelizmente, algumas estrelas são tímidas e não conseguem ter uma voz potente.
Existem diversos métodos de medição, como, por exemplo, as medições por radiação, feitas por telescópios em solo ou no espaço.Fonte: Getty Images
O método de asterosimologia é excelente para estrelas pulsantes, que apresentam variações na sua emissão de luz. Algumas estrelas não possuem essas características, portanto sua posição, ao menos até o momento, ainda deverá recorrer a métodos como de astrometria para poder ser confirmada.
Os pesquisadores estimam que missões como a TESS, NASA, e a PLATO, ESA, que buscam exoplanetas em nossa galáxia, possam se beneficiar desse método e agregar, em breve, mais vozes ao coro.
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