Brasil barrou em 2023 entrada de ao menos 19 pessoas suspeitas de ligação com grupos terroristas


Não há indícios de que estrangeiros planejassem ataques no país, escolhido como um destino intermediário. Na sexta passada, cidadão com passaporte egípcio foi barrado em Guarulhos. Homem egípcio suspeito de ligação com terrorismo é conduzido por policiais federais no Aeroporto de Guarulhos
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Na última sexta-feira (1º), um homem de 38 anos com passaporte egípcio desembarcou sozinho do voo AZ 678, no terminal 3 do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.
K.B.K.E. (iniciais) partiu do Cairo, no Egito, e passou por Roma antes de tentar entrar no Brasil com um visto de negócios/turismo.
Antes do desembarque, homens da Polícia Federal já haviam recebido um alerta para interceptar o passageiro. Houve trocas de informação com serviços de inteligência dos Estados Unidos.
Os policiais federais foram avisados de que o homem tinha histórico de ligação com grupos terroristas e avaliaram que ele podia representar “ameaça à segurança nacional”.
Nos reportes de inteligência, não há menção ao nome do grupo terrorista ao qual o visitante seria ligado. No aeroporto, ele contou aos agentes brasileiros que teve a entrada na Argentina recusada no ano passado e que também foi parado no Canadá.
Questionado, mudava de assunto e não explicava como seria sua estadia no Brasil. Acabou repatriado na noite da mesma sexta-feira, sendo escoltado até o voo AZ 679, de volta para Roma.
Agentes da PF abordam egípcio (de camisa verde e calça jeans) suspeito de ligação com terrorismo no Aeroporto de Guarulhos
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19 barrados
O destino do homem egípcio foi semelhante ao de um cidadão com passaporte marroquino que chegou em Guarulhos no último dia 12 de julho.
S.A.B. (iniciais) desembarcou do voo TK16, de uma companhia aérea turca, proveniente de Buenos Aires, e teve a entrada negada pelas autoridades brasileiras. As suspeitas de ligação com grupo terrorista também vieram de fontes de inteligência.
Além desses dois casos, ao menos outros 17 estrangeiros foram barrados ao tentar entrar no Brasil em 2023 por supostas ligações com o terrorismo, segundo autoridades com acesso a informações de inteligência que fundamentam essas recusas.
‘Ponte’ para outros países
Não há indícios de que o grupo planejasse praticar crimes no país. O Brasil é, de acordo com profissionais que acompanham o tema, um destino intermediário para pessoas ligadas a grupos terroristas que desejam chegar, sobretudo, aos Estados Unidos.
Entre os que foram repatriados neste ano, havia cidadãos com passaportes de Bahrein, Síria, Somália, Turquia e Marrocos, conforme o relato de uma autoridade ouvida reservadamente pelo g1.
Segundo esta fonte, o número de negativas de entrada cresceu em 2023 na comparação com anos anteriores. Não há, no entanto, um banco de dados com registros dos casos que permita a comparação entre os anos. O acesso às informações de inteligência é restrito.
A atuação das autoridades brasileiras nos casos de recusa de entrada no país se baseia em uma portaria de 2019 do Ministério da Justiça. A norma define como “pessoa perigosa” quem tiver ligações com:
terrorismo
grupo criminoso organizado ou associação criminosa armada ou que tenha armas à disposição
tráfico de drogas, pessoas ou armas de fogo
pornografia ou exploração sexual infantojuvenil
As autoridades migratórias podem avaliar se o estrangeiro se encaixa na definição de pessoa perigosa com base em informações de diferentes tipos, como:
inteligência proveniente de autoridade brasileira ou estrangeira
difusão ou informação oficial em ação de cooperação internacional
investigação criminal em curso
sentença penal condenatória
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Um profissional com acesso a dados dessa natureza explica que os supostos terroristas passam temporadas no Brasil, antes de seguirem para outros destinos, para terem um “seguro”.
Aqui, eles buscariam regularizar sua situação de permanência com o objetivo de serem mandados de volta para o Brasil, e não para seus países de origem, caso venham a ter problemas em sua posterior estadia em países como os Estados Unidos.
Segundo a autoridade consultada, nesse cenário, o intercâmbio de informações com serviços de inteligência de outros países se intensificou e virou parte da rotina dos policiais federais que atuam nos aeroportos.

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