A boxeadora vencedora da medalha de ouro, cujos Jogos Olímpicos foram ofuscados por uma disputa sobre elegibilidade de gênero, disse à BBC que enfrentou “campanhas intensas de bullying”. Boxeadora Imane Khelif diz que ‘obstáculos geraram motivação para o ouro’ na Olimpíada
BBC Brasil
Imane Khelif, a boxeadora argelina vencedora da medalha de ouro cuja Olimpíada foi ofuscada por uma disputa sobre elegibilidade de gênero, disse à BBC Árabe, o serviço em árabe da BBC, que “os obstáculos geraram motivação” para sua vitória em Paris 2024.
A atleta descreveu as críticas sobre sua presença na categoria feminina do boxe nos Jogos Olímpicos como “campanhas intensas de bullying” e acrescentou que conseguiu superá-las com “a graça de Deus”.
A BBC também confirmou que uma queixa legal foi apresentada na França no sábado (10/8) alegando que Khelif sofreu assédio online, incluindo uma campanha de abusos misóginos, racistas e sexistas.
O advogado Nabil Boudi disse em uma postagem nas redes sociais que o tratamento que ela recebeu equivale a um “linchamento online”.
Khelif é uma das duas boxeadoras autorizadas a participar dos Jogos de Paris, apesar de ter sido banida dos campeonatos mundiais do ano passado pela Associação Internacional de Boxe (IBA).
As lutadoras teriam apresentado certas características biológicas que excederiam os limites para classificação de feminilidade.
Mas uma investigação está em curso e, mesmo entre especialistas que dedicam a vida profissional a estudar o tema, há diferentes interpretações sobre o que dizem as evidências.
Khelif e Lin Yu-ting, de Taiwan, receberam forte apoio do Comitê Olímpico Internacional (COI), que organizou as competições de boxe nos Jogos e determinou que ambas são mulheres e estavam elegíveis para competir.
Apesar da repercussão na mídia e nas redes que cercou a atleta peso meio-médio durante Paris 2024, Khelif, de 25 anos, afirmou que conseguiu focar em seu boxe.
“Eu consegui controlar meus nervos e minha mente perfeitamente e manter meu espírito esportivo para seguir meu caminho e alcançar meu sonho de ganhar uma medalha de ouro olímpica”, disse ela.
Khelif acrescentou que as autoridades dos Jogos estavam certas em não se curvar às críticas sobre sua elegibilidade para competir.
“Gostaria de agradecer ao Comitê Olímpico Internacional que me ajudou e mostrou a verdade”, disse ela.
Khelif acrescentou que o ouro olímpico tem sido seu principal objetivo desde que foi excluída da final dos campeonatos mundiais do ano passado pela IBA devido a um teste de elegibilidade de gênero.
Ela sentiu que havia sido “injustiçada” e queria conquistar o título em Paris 2024 para mostrar ao mundo “como triunfar do nada ao tudo”.
Decisão unânime
Khelif venceu Yang Liu, da China, por decisão unânime de todos os cinco juízes
BBC
Khelif foi ovacionada por um grande número de apoiadores argelinos na noite de sexta-feira (9/8), na final do boxe em Paris. Eles agitaram as bandeiras verdes, brancas e vermelhas do país no norte da África.
O boxeadora dominou a luta e foi calorosamente abraçada por sua adversária, a campeã mundial chinesa Yang Liu.
Quando o resultado foi confirmado por decisão unânime, Yang levantou o braço de Khelif no ar — um contraste com as cenas após a luta de abertura da argelina contra a italiana Angela Carini.
A nova campeã foi então carregada pelos ombros de seu treinador ao redor de uma arena em êxtase.
Após a luta, enquanto o hino nacional da Argélia tocava, Khelif foi aplaudida pelas medalhistas de bronze Chen Nien-chin, de Taiwan, e Janjaem Suwannapheng, da Tailândia.
Planos futuros
Khelif disse à BBC que ganhar o ouro olímpico foi apenas o começo para ela, mas que seus próximos passos são incertos.
“Eu vou descansar por alguns meses e discutirei com minha equipe o que farei e se há outro caminho no boxe”, disse ela, referindo-se ao fato de que atualmente está banida pela IBA, a mais poderosa entidade reguladora do boxe amador.
“Eu sei que agora ganhei um grande apoio popular e espero contribuir para a felicidade e alegria dessas pessoas, e espero competir no boxe no mais alto nível mundial.”
Ela acrescentou: “O povo argelino me apoiou e me defendeu ferozmente e enfrentou as campanhas contra mim”.
Decisão sobre elegibilidade
Na Olimpíada, o boxe é gerido pelo COI, que insistiu que tanto Khelif quanto Lin Yu-ting, de Taiwan, estavam elegíveis para competir na competição feminina.
Lin venceu a luta pela medalha de ouro na categoria peso-pena feminina na noite de sábado.
O presidente do COI, Thomas Bach, afirmou que “nunca houve dúvida” de que ambas são mulheres.
Khelif chegou à final dos Campeonatos Mundiais do ano passado antes de ser desqualificada pela IBA — a organização foi suspensa pelo COI em 2019 devido a preocupações com suas finanças, governança, ética, arbitragem e julgamento.
A IBA disse que Khelif havia “falhado em atender aos critérios de elegibilidade para participar da competição feminina, conforme estabelecido e definido” em seus regulamentos, enquanto o COI afirmou que ambas foram “desqualificadas repentinamente sem qualquer processo devido”.
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