Em sua longa jornada como príncipe, Charles visitou o Rio nas quatro vezes que veio ao Brasil. No sábado (6), ele será coroado rei do Reino. Charles III já visitou o Rio quatro vezes: relembre 3 aventuras do então príncipe
O Rei Charles III, que será coroado monarca do Reino Unido neste sábado (6), visitou o Brasil quatro vezes e, em todas elas, cumpriu compromissos no Rio de Janeiro. Nas passagens pela cidade, curtiu e dançou (ou tentou dançar) um samba, conheceu uma favela, bateu pênalti e viu as belezas naturais do Jardim Botânico.
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Um dado curioso é que ele visitou o Brasil com todos os estados civis que teve ao longo da vida. Em 1978, como solteiro; em 1991, casado com Diana; em 2002, divorciado; e em 2009, casado com Camilla, rainha consorte.
O g1 resume a seguir as aventuras do Rei Charles no Rio de Janeiro.
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1978: Tem inglês no samba!
Charles e Pinah em 1978
Reprodução/TV Globo
O hoje rei era um jovem príncipe de 29 anos quando desembarcou no Aeroporto Internacional do Rio, o Galeão, em 8 de março de 1978, há 45 anos – 10 anos após a visita da mãe, a rainha Elizabeth II.
No dia seguinte, o primeiro programa de Charles na Cidade Maravilhosa começou promissor, mas não foi como o esperado. Ele esteve no Corcovado, mas uma neblina atrapalhou a visão.
Segundo relato do Jornal O Globo, Charles “subiu em menos de cinco minutos as escadas que separam o estacionamento do pedestal da estátua, seguido por um séquito ofegante”.
Ao chegar no topo e ver tudo encoberto, brincou:
“É um excelente local para não se ver a cidade!”
De acordo com os jornais da época, a beleza do Parque Nacional da Tijuca — esse, visível — o conquistou.
Um folião enrustido
Já no chão, agora na Confederação Nacional da Indústria, o príncipe revelou que tinha “curiosidade em brincar o carnaval”.
“Acima de tudo, estou desejoso de ver algo do Brasil, por mais rápida que seja essa visão. Porque até agora as impressões que eu tenho do país foram coligidas antes de eu deixar a Grã-Bretanha, através de conversações mantidas com homens de negócios, embaixadores e aqueles para quem a única impressão do Brasil é a do carnaval – que eu, naturalmente (e lamentavelmente), perdi,” afirmou o então príncipe.
Na saída do evento, a movimentação ao redor dele causou curiosidade em uma roda de cariocas:
“Vocês sabem quem era esse moço que entrou no carro?”, disse um homem.
“Sim, era o vice-presidente da Inglaterra”, respondeu o outro.
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Charles e Pinah em 1978
Reprodução/TV Globo
Apoteose
Durante a noite, Charles finalmente teve a amostra do carnaval que tanto queria. Ele participou de uma recepção no Palácio da Cidade, em Botafogo, na Zona Sul, oferecida pelo então prefeito Marcos Tamoyo.
A sociedade carioca esteve em peso na festa promovida pela prefeitura. Além da recepção, estava prevista uma apresentação da Beija-Flor de Nilópolis. A escola havia vencido o desfile das escolas de samba naquele ano com um enredo de Joãosinho Trinta sobre a formação de universo de acordo com a cultura iorubá: “A criação do mundo na tradição nagô”.
A ideia inicial era que Charles assistisse ao desfile da Beija-Flor da sacada do Palácio da Cidade, mas ele logo mudou de ideia. Sempre sorrindo, desceu as escadas e saiu do prédio para ver de perto.
Meses antes da chegada do príncipe ao Rio, a imprensa se questionava se o herdeiro do trono inglês — ainda sem Diana — se encantaria por uma brasileira. As listas contavam com nomes das famílias mais ricas do país, além de artistas. E ele realmente se encantou, mas ela não estava em nenhuma das previsões.
No meio da apresentação, ele estendeu uma das mãos em direção a uma mulher bonita: era Maria da Penha Ferreira Ayoub, a Pinah. Juntos, os dois dançaram juntos e protagonizaram a cena mais famosa das visitas de Charles ao Brasil.
Com olhos fixos na parceira de dança, ele tentou reproduzir o samba como pôde e acrescentou alguns passos de outros ritmos que achou que poderiam combinar, como o charleston.
O protocolo rígido foi quebrado pelo príncipe, que parecia dançar feliz com Pinah, vestida com a mesma roupa usada na Sapucaí.
Pinah, no entanto, só soube no dia seguinte que havia dançado com o futuro rei da Inglaterra.
“No momento que eu fui passando próximo da escada, vem um moço de terno e começou a dançar passos de Charleston. Eu, no momento, não me toquei. Porque eu achava: ‘Deve ser alguém da comitiva, alguém que queria participar’”, disse Pinah em entrevista ao g1.
1991: Casados, mas separados
Charles e Diana em 1991
Reprodução/TV Globo
Já casado com Lady Di, Charles voltou ao Rio de Janeiro 13 anos depois da “sambada” histórica.
A passagem tinha um importante foco na pauta ambiental e estava relacionada à ECO-92, que seria realizada no ano seguinte. O casal chegou ao Rio de Janeiro no dia 24 de abril, depois de terem passado por Brasília, Carajás e São Paulo.
A distância entre o casal foi notada durante vários momentos. E se Charles foi o destaque da primeira visita, na segunda o foco do público foi quase todo para Diana.
Na agenda carioca, o casal participou de mais uma recepção no Palácio da Cidade, que contou com um novo desfile de escolas de samba. Desta vez, não houve samba no pé de algum integrante da família real.
Intérprete por acaso
A visita do casal em 91 é uma das muitas histórias marcantes de José Medeiros Filho, que trabalha na Prefeitura do Rio há 43 anos e já atuou na gestão de 11 prefeitos da cidade. Ele conta que Suas Altezas chegaram por uma entrada lateral do palácio e estavam em uma sala reservada para as autoridades.
José foi chamado às pressas: a intérprete oficial estava atrasada.
“Eu estava subindo as escadas, era da Coordenadoria de Relações Internacionais, e me chamaram: ‘Zé, o Príncipe Charles e a Princesa Diana estão comendo mosca’. Ninguém falava inglês. Fui lá. Cheguei e falei que trabalhava lá e fui servindo de intérprete”, contou José.
O funcionário da Prefeitura do Rio, que atualmente trabalha na Riotur, conta que achou o casal bastante interessado na conversa.
“Ele era simpático, ficava mexendo nas abotoaduras. Eu os achei ótimos. Ela era bem reservada, bastante simpática e bonita. Tinha um carisma impressionante”, contou.
No dia seguinte, Charles foi para o Espírito Santo, enquanto Diana seguiu no Rio.
Princesa do povo
A princesa visitou a enfermaria para pacientes com HIV no Hospital Clementino Fraga Filho, na Ilha do Fundão. A tradição da monarquia britânica deu lugar para a informalidade dos cariocas. Segundo os relatos publicados pelos jornais da época, Diana distribuiu gentilezas a todos que conseguiram se aproximar dela.
“Mais cedo, a princesa, que vestia um tailleur amarelo de shantung, com detalhes em rosa, já tivera uma experiência diferente: atendendo ao pedido de crianças que lhe estendiam a mão, durante a visita à Fundação São Martinho, ela acabou sendo levada por uma delas a fazer um cumprimento comum em bailes funks e certamente estranho para a nobreza, que consiste em três diferentes apertos de mão, sem que as mãos das duas pessoas percam o contato”, publicou o Jornal O Globo em 26 de abril de 1991.
Além de aprender um novo cumprimento, Diana ganhou das crianças uma muda de pau-brasil, uma caixa de biscoitos e um berimbau.
2002: Sua Alteza contra o Aedes aegypti
Fumacê sobe o Cantagalo antes da ida de Charles em 2002
Reprodução/TV Globo
Na terceira visita ao Rio de Janeiro, 11 anos depois, Charles subiu a favela em março de 2002. Ele esteve na comunidade do Cantagalo, na Zona Sul da cidade. O então príncipe visitou o Espaço Criança Esperança.
A segurança foi reforçada, e os cuidados também estiveram relacionados a outra ameaça. O Rio vivia, então, uma epidemia de dengue. Antes da chegada, um carro fumacê passou pelas ruas. O nobre e os cerca de 15 integrantes da comitiva vestiam camisas de mangas compridas abotoadas nos punhos, mesmo sob um calor de 35ºC. Repelente também foi outra arma contra o Aedes aegypti.
A aclamada pontualidade britânica, no entanto, não funcionou. O príncipe se atrasou uma hora para o compromisso.
Charles ganha uma camisa do Fluminense em 2002
Reprodução/TV Globo
Samba aprimorado
No dia seguinte, ele esteve na Baixada Fluminense, mais especificamente em São João de Meriti, para visitar uma instituição mantida por uma ONG inglesa. Lá, ensaiou passos de samba, deu o pontapé inicial de um jogo de futebol e teve um pênalti defendido. Ele saiu do evento com um presente inusitado para a realeza: uma camisinha.
O samba de Charles, no entanto, parece ter sido aprimorado desde a visita de 78.
“Se ele ficasse mais tempo no Brasil, seria um ótimo passista”, comentou uma das sambistas que dançaram com ele.
2009: O ipê do príncipe
Charles e Camilla plantam um ipê em 2009
Reprodução/TV Globo
Charles esteve no Rio também em março de 2009, após sete anos.
Em 2009, Charles se arriscou a tocar chocalho com ritmistas de uma bateria de escola de samba no Complexo da Maré.
“Ele pegou o chocalho meio sem jeito, de cabeça para baixo. Mas para quem não tem experiência, ele tocou direitinho”, disse a dona do instrumento, Maria Luísa da Silva, na época da visita.
Durante a visita, ele também conversou com os jovens da ONG Luta Pela Paz, fundada pelo britânico Luke Dowdney.
Além da visita à Maré, Charles discursou no Palácio do Itamaraty e falou sobre a importância da proteção do meio ambiente.
Ele também esteve no Jardim Botânico, onde plantou um ipê amarelo com Camila. A árvore cresceu bastante ao longo dos anos.
O ipê plantado por Charles hoje
Cristina Boeckel/g1
A visita durou cerca de 45 minutos, e o lugar foi fechado por segurança para os dois visitantes reais.
Roberto Neil Ramos foi um dos responsáveis por mostrar as belezas do lugar para o casal. Ele foi orientado com antecedência sobre os protocolos e contou ao g1 que ficou nervoso, mas que o comportamento do casal o tranquilizou.
“Antes deles chegarem, foi aquele alvoroço e aí, eu, que já estava nervoso, fiquei mais ainda. E preocupado em falar besteira. Vieram os dois, eles apertaram a minha mão. E foram seguindo a visita, tranquilos”, disse Roberto.
Charles se encantou, especialmente, com as vitórias-régias do Jardim Botânico carioca.
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Charles e Camilla em 2009
Reprodução/TV Globo
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