Ao longo da história, as cores da bandeira do Brasil foram utilizadas diversas vezes como símbolo de resistência e de patriotismo. Neste 07 de setembro, dia em que se celebra a Independência, mostra algumas ocasiões em que o Verde e Amarelo foi usado pela oposição contra o Governo.
Rodinei Crescêncio
Instituída quatro dias depois da Proclamação da República, no dia 19 de novembro de 1889, a bandeira nacional foi inspirada na bandeira do Império Brasileiro. Ao contrário do que muitos imaginam, as cores da bandeira não são inspiradas somente nas riquezas do Brasil. A cor verde representa a Casa de Bragança, da família real portuguesa e a cor amarela representa os Habsburgos, a família da imperatriz Leopoldina.
Para o professor doutor em História e analista político, Vinícius de Carvalho, o uso das cores da bandeira é historicamente da sociedade civil que se organiza e faz questionamentos e críticas ao governo de plantão.
“Em uma perspectiva histórica, o Verde e Amarelo sempre foi mais utilizado por quem estava na oposição. Com o bolsonarismo foi assim. O bolsonarismo ganhou corpo, porque ele já existia pelo menos desde 2014, quando Bolsonaro [ex-presidente Jair Bolsonaro] já pontuava nas pesquisas para a eleição da presidência da República, já aparecia com seus 4, 5, 6% nas pesquisas, mas o bolsonarismo encorpou, ele foi se juntando aqueles movimentos de junho de 2013 até o impeachment da Dilma [ex-presidente Dilma Rousseff], em 2016”, explicou ao .
Vinicius também pontua que o Movimento nas Ruas, que reforçou o impeachment da ex-presidente Dilma, foi uma forte mobilização e acabou incorporando a maior parte dos participantes que tinham um viés anti-Lula, anti-PT, ao bolsonarismo, já que Bolsonaro se tornou o principal anti-Lula. Em 2018, com a nova candidatura de Lula à presidência da República, que acabou indeferida pela Justiça Eleitoral, esse movimento de oposição tomou força e as cores da bandeira do Brasil foram incorporadas no movimento.
Diretas Já
O movimento político Diretas Já começou em maio de 1983 e foi até 1984, tendo mobilizado milhões de pessoas em comícios e passeatas, pedindo a retomada das eleições diretas ao cargo de presidência da República.
O movimento contou com participação de políticos, artistas e da sociedade civil. A camiseta com as cores da bandeira do Brasil foi amplamente usada pelos participantes. Apesar de toda comoção popular, a retomada das eleições diretas só foi feita em 1989. Ou seja, 29 anos depois da escolha do último presidente por votação popular, em 3 de outubro de 1960.
“Lá atrás, em 1983, com as Diretas Já, a direita já utilizava o verde e amarelo e o grande partido que liderou Direta Já foi o PMDB na época que era o principal partido de oposição ao a ditadura militar. E o PMDB chegou ao poder em 1985 com Tancredo Neves, que acabou não assumindo, mas o Governo levou essa identidade do verde amarelo para o poder”, completou Vinícius.
Movimento Caras-Pintadas
O movimento Caras-Pintadas ocorreu em 1992, quando milhares de estudantes saíram às ruas vestidos de preto e com os rostos pintados de verde e amarelo para pedir o impeachment do então presidente Fernando Collor de Melo.
Na época, Collor, eleito em 1989, no segundo turno em uma eleição contra Luis Inácio Lula da Silva, deixou o país em uma crise econômica e hiperinflação de 1.700%.
Ele lançou o Plano Collor, que trocou a moeda “cruzado novo” por “cruzeiro”, demitiu servidores públicos, liberou a taxa do dólar e congelou das contas bancárias com mais de 50 mil cruzados novos por 18 meses, bloqueando o dinheiro de pessoas e empresas.
O plano Collor fracassou e diversos escândalos de corrupção caíram sobre o Governo. Collor pediu que a população fosse as ruas vestida de verde e amarelo em forma de apoio. Em resposta, milhares de estudantes saíram às ruas vestidos de preto e com os rostos pintados deVerde e Amarelo.
Com os protestos, vários pedidos de protestos chegaram ao Congresso. A Câmara dos Deputados aceitou os pedidos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e pela ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e iniciou o processo de cassação de mandato. Entretanto Collor renunciou à presidência antes do impeachment, sendo substituído por seu vice, Itamar Franco, em 1992.
Ditadura militar
A ditadura militar no Brasil durou 21 anos, teve 5 mandatos militares e instituiu 16 atos institucionais que se sobrepunham à Constituição Federal, restringindo a liberdade impondo o regime de censura.
Ela teve início em 1964, quando militares assumiram o poder no Brasil. O general Castello Branco tomou posse e se tornou o primeiro de cinco militares a governar o país durante esse período.
A sociedade civil fez diversos movimentos pedindo o retorno da democracia. A ditadura militar no Brasil teve fim somente em 1985.
Arquivo
Impeachment da Dilma Rousseff
O processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT) teve início em 2 de dezembro de 2015, quando o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (MDB-RJ) deu prosseguimento ao pedido dos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal. Com uma duração de 273 dias, o caso se encerrou em 31 de agosto de 2016, tendo como resultado a cassação do mandato, mas sem a perda dos direitos políticos de Dilma.
Na justificação para o pedido de impeachment, os juristas alegaram que a então presidente havia cometido crime de responsabilidade pela prática das chamadas “pedaladas fiscais” e pela edição de decretos de abertura de crédito sem a autorização do Congresso.
Na época, movimentos contrários ao governo petista utilizaram das cores da bandeira brasileira como forma de “reforçar” seu patriotismo e afirmar que a bandeira do Brasil jamais seria vermelha, em referência a cor do Partido dos Trabalhadores.
7 de setembro pós-Bolsonaro
Neste ano, o desafio do Governo Lula é fazer com que o Verde e Amarelo deixe de ser politizado e volte a representar a nação. O Governo Federal definiu como slogan: “Democracia, Soberania e União”, com o objetivo de unir o povo brasileiro em prol da democracia.
O Governo do Distrito Federal reforçou o contingente de policiais militares nas vias públicas para os desfiles deste 7 de Setembro, em Brasília. A governadora em exercício exigiu um contingente reforçado com 2.080 policiais militares e 500 civis. O número é maior que o grupo disponibilizado para a posse de Lula, que ocorreu em janeiro.