Relatório feito pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado em Mato Grosso (Ficco-MT) com base em interceptações realizadas no celular de Willian Aparecido da Costa Pereira, conhecido como “Willian Gordão”, revela um suposto esquema para a transferência de pelo menos cinco líderes do Comando Vermelho da Penitenciária Central do Estado para o Centro de Ressocialização de Cuiabá, em junho de 2020.
O teve acesso ao documento. Segundo o relatório, o esquema beneficiaria Paulo Witer Farias Paello, conhecido como W.T., apontado como tesoureiro do Comando Vermelho; Jonas Gonçalves Junior, conhecido como Batman; Fábio Aparecido Marques do Nascimento, conhecido como Lacoste; Aurélino Gomes da Silva Bisneto, conhecido como Lerino; e Luenio Cesar Rondon Rocha, conhecido como Bicudo.
Christiano Antonucci
Transferência de cinco membros do CV da PCE para o antigo Carumbé foi acertada em R$ 100 mil, aponta relatório
A interceptação flagrou que o policial penal Luiz Otavio Natalino procurou Willian Gordão para um novo esquema, que seria a transferência dos presos da cúpula do CV da PCE para o Centro de Ressocialização de Cuiabá, antigo Carumbé, citando a unidade como um “shopping”.
Conforme o relatório, o motivo da transferência seria porque W.T. teria sido espancado dentro da PCE por membros de uma facção rival ao Comando Vermelho. Por isso, ele poderia ser levado até o Carumbé, onde Luiz Otavio teria um esquema com o diretor da unidade na época, Winkler de Freitas Teles.
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Na conversa, Luiz Otavio diz que o diretor do Corumbé autorizou a transferência de W.T. e mais quatro presos da PCE. Apenas uma pessoa não poderia ser transferida por nenhum valor: Sandro Louco, líder do Comando Vermelho. “Ele vai apanhar mais ainda se continuar lá”, comenta Luiz Otavio para Paulo Witer.
Em seguida, Luiz Otavio envia para Willian Gordão dois prints da conversa com Winkler, onde ele aparece autorizando as transferências mediante pagamento de R$ 20 mil por preso. Como foram cinco, o valor chegou a R$ 100 mil e o montante deveria ser pago em espécie. O local combinado foi o restaurante de um supermercado do bairro Santa Rosa, em Cuiabá.
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A conversa cita ainda que “o secretário quer a parte dele ainda hoje”. Na sequência, o relatório mostra o Documento de Pedido de Permuta de W.T. e os outros 4 presos, da PCE para o Carumbé, assinado pelo então secretário de Segurança Pública de Mato Grosso, Alexandre Bustamante.
“Em seguida, foi possível perceber outras imagens com ‘parecer favorável positivo’ do Secretário de Segurança Pública de Mato Grosso à época, Alexandre Bustamante, autorizando a transferência dos referidos presos para Centro de Ressocialização de Cuiabá, devendo ocorrer entre 16/06/2020 a 03/07/2020”, diz trecho do relatório.
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O que diz a Sesp
Em nota, a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) afirmou que o servidor Luiz Otávio Natalino foi afastado de suas funções. A Pasta também esclareceu que Winkler de Freitas Teles, então diretor do CRC, não foi alvo de medidas cautelares.
“A Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) acompanha o andamento da Operação Ragnatela e pode implementar medidas administrativas, caso sejam necessárias. Esclarece ainda que o servidor Winkler de Freitas Teles não foi alvo de medida cautelar no âmbito da Operação. Quanto ao servidor Luiz Otávio Natalino, ele já foi afastado de suas funções. A Sesp ressalta que todas as medidas legais serão adotadas no âmbito administrativo”, diz a nota.
Defesa de Bustamante
Alexandre Bustamante foi exonerado do cargo de secretário de Segurança Pública em janeiro de 2023, pelo governador Mauro Mendes (União). Atualmente, ele exerce a profissão de advogado. Por meio de nota, ele diz ser alvo de “falsas acusações de envolvimento em negociatas relacionadas à transferência de presos”, nega qualquer participação no esquema alvo da Operação Ragnatela e afirma estar à disposição da Justiça.
Confira, abaixo, a íntegra da nota:
“O advogado Alexandre Bustamante dos Santos, após tomar conhecimento pela imprensa, vem a público esclarecer as falsas acusações de envolvimento do seu nome em negociatas relacionadas à transferência de presos no Estado de Mato Grosso.
Gostaríamos de enfatizar que:
1. Alexandre Bustamante não teve participação em nenhuma negociata de transferência de presos.
2. A transferência de presos no Estado de Mato Grosso segue um protocolo rigoroso que não perpassa pelo Secretário de Segurança.
3. Durante seu período na Secretaria de Segurança, Bustamante não teve qualquer contato com os envolvidos nas supostas irregularidades, e no período acredita que estas transferências não ocorreram.
4. Temos a convicção que houve um equívoco na análise das informações ou que seu nome foi envolvido de forma errônea ou maliciosa pelos responsáveis e os envolvidos na investigação.
5. Causa surpresa que os documentos, que se tornaram públicos, que mencionam a transferência de presos, não tenham sido verificados antes da operação ser deflagrada.
Alexandre Bustamante reitera que sempre esteve e estará à disposição da Justiça para quaisquer esclarecimentos necessários. Entretanto, ele não se manifestará publicamente sobre o assunto até o final das investigações, tendo em vista seu histórico profissional de combate às organizações criminosas.”