Premiê firma acordo controverso de anistia aos separatistas em troca de votos no Parlamento. O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, durante sessão de votação para a formação de novo governo no Congresso da Espanha, em Madri, em 16 de novembro de 2023.
Manu Fernandez/ AP
Quatro meses após as eleições, Pedro Sánchez foi novamente alçado ao cargo de presidente do governo espanhol, nesta quinta-feira (16), a um custo alto, que claramente reflete a divisão do país.
Segundo colocado no pleito de julho passado, ele assume o comando da Espanha graças a um acordo obtido com um grupo de pequenos partidos de esquerda e separatistas, com ideologias diferentes, que lhe cobrarão o preço da legislatura.
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A encrenca de Pedro Sánchez reside na sua aliança mais controversa, com o partido independentista Juntos pela Catalunha, que enfureceu os opositores. Em troca da garantia dos sete votos da legenda no Parlamento, o pacto estipula a anistia ao líder Carles Puigdemont, exilado na Bélgica desde o fracassado referendo separatista em 2017.
A fúria desencadeada pelo acordo levou milhares de espanhóis às ruas, convocados pelo Partido Popular, de centro-direita, e pelo Vox, de extrema direita, em protestos que vêm se repetindo nas últimas semanas. O líder do Partido Popular, Alberto Nuñez Feijóo, foi o mais votado em julho, mas não conseguiu o número suficiente de deputados para formar governo mesmo se aliando ao Vox.
Com o apoio de mais seis partidos, Sánchez aposta que interromperá o avanço do populismo e do radicalismo de direita no país, conforme ele justificou nesta quarta-feira (16), no discurso em que apresentou seu projeto político ao Parlamento.
“Vale a pena assumir a anistia. As circunstâncias são o que são”, vaticinou ele, assegurando estar comprometido com a unidade da Espanha.
Ao obter a maioria de 179 deputados no Parlamento — três a mais do que o necessário — o Partido Socialista consegue aprovar o projeto de lei da Anistia a Puigdemont e outros quatro condenados, que poderão voltar ao país e concorrer a cargos públicos, além do indulto a centenas de funcionários públicos catalães.
A independência da Catalunha levou o país à beira da ruptura há seis anos e ainda divide a população catalã, embora as pesquisas recentes indiquem que atualmente um número menor apoie a separação da região do governo federal.
Sánchez é tachado de traidor da Espanha por seus opositores, que o acusam de vender o país em troca dos votos dos deputados do Juntos pela Catalunha e de aliar-se ao inimigo número 1 do Estado.
O desgaste do premiê em relação a anistiar os independentistas condenados é visível até entre os socialistas. Uma pesquisa da Metroscopia revelou que 40% dos simpatizantes do PSOE se sentem desconfortáveis com o acordo de anistia e 20% são contrários a ele.
No geral, dois entre cada três espanhóis rejeitam o projeto de Sánchez para indultar os independentistas. O temor é que os separatistas voltem a se agrupar em torno da secessão e pressionem o primeiro-ministro a ponto de comprometer o governo, que já nasce sob a insígnia do confronto.
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